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Linha de montagem da Renault: emplacamento de novos carros vem caindo mês após mês | Divulgação
Linha de montagem da Renault: emplacamento de novos carros vem caindo mês após mês| Foto: Divulgação

Opinião

Vem mais corte por aí

Cristina Rios, repórter especial de Economia

A indústria automotiva começou o ano com o pé esquerdo. A queda nas vendas de veículos no primeiro trimestre do ano acendeu o sinal amarelo. Os estoques subiram para 48 dias, o maior índice desde 2008, quando o mundo vivia uma crise econômica global. A pisada no freio veio justamente no momento em que o setor coloca em prática um programa de investimentos de R$ 75 bilhões até 2017, que vai significar oito novas fábricas em dois anos. Se o mercado não reagir, vai sobrar carro nos pátios das fábricas.

As montadoras, que já vinham fazendo cortes pontuais, devem agora partir para a redução de produção nos próximos meses. Não que a queda nas vendas tenha surpreendido. O crédito para compra de veículos vem andando de lado desde o ano passado. Mesmo com a queda na inadimplência, os bancos continuam seletivos na concessão de financiamentos. Comprar um carro novo não só está mais caro, por conta do fim da redução do IPI e pelo aumento dos juros, como também está mais difícil, porque os prazos encolheram e a entrada exigida hoje é maior.

Com isso, o resultado já era esperado: o consumidor sumiu das lojas. As montadoras falam em cortes mais profundos, mas terão também de fazer um esforço maior de venda para driblar o mau humor do consumidor. Não basta só cortar produção e dar férias coletivas, é preciso fazer seus bancos voltarem a emprestar.

O estoque de veículos novos nas fábricas e revendas atingiu em março o equivalente a 48 dias de vendas, a mais alta média desde novembro de 2008, no auge da crise financeira internacional, quando o crédito secou nos bancos.

Acompanhe o ritmo da produção de veículos

Em unidades, os estoques subiram para 387,1 mil veículos, em comparação a 348,9 mil em fevereiro, o equivalente a 37 dias de vendas. O encalhe é 60% maior do que o total de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus vendidos em março, que somou 240,8 mil unidades.

As vendas estão caindo no mercado interno, por causa da alta dos juros e da volta do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), e no mercado externo, devido aos problemas de exportação para a Argentina.

Cortes

Para reduzir os estoques, grande parte das montadoras adotou medidas de corte de produção, com férias coletivas, suspensão temporária de contratos de trabalho, redução de turnos e até abertura de Programa de Demissão Voluntária (PDV) – caso da Mercedes-Benz, na área de caminhões.

O mercado de caminhões é um dos mais afetados. A Mercedes diz ter 2 mil funcionários excedentes na fábrica de São Bernardo do Campo, onde emprega 12 mil pessoas. Neste ano já foram fechados 1.464 postos de trabalho nas montadoras.

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (An­favea), Luiz Moan, diz que um possível pedido ao governo para adiar o último aumento do IPI previsto para julho "ainda não foi discutido". Mas, segundo executivos do setor, isso não está descartado.

De janeiro a março, as vendas caíram 2,1% em relação ao mesmo período de 2013, e somaram 812,7 mil veículos. Foi o pior resultado para o primeiro trimestre desde 2010, quando foram vendidas 788 mil unidades. A produção caiu 8,4% no período, para 789,8 mil unidades. Em março, a queda foi de 17,6% na comparação com o mesmo mês do ano passado.

"Já esperávamos que os números não seriam tão bons em março, em parte por causa do feriado de carnaval, e também porque já tivemos o impacto completo do aumento do IPI em janeiro e da inclusão de airbag e ABS em toda a linha", afirma Moan.

Ofensiva

Anfavea aposta em feirões e leasing para elevar vendas

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) aposta na retomada do comércio com a Argentina, na maior participação do leasing no financiamento de veículos e nos feirões das concessionárias para que as vendas se recuperem no segundo trimestre, depois de registrarem uma queda de 2,1% nos primeiros três meses deste ano. O presidente da instituição, Luiz Moan, disse que a Anfavea mantém a previsão de aumento de 1,1% nas vendas em 2014. "É evidente que temos uma preocupação tanto com o nível de vendas no mercado interno, exportações e estoques. Mas não é ainda uma situação consolidada para alterar nossas previsões."

Uma das ações de curto prazo empreendidas pela Anfavea para estimular as vendas e tentar baixar os estoques é uma ação conjunta com a Caixa Econômica Federal, no próximo fim de semana, em que 4 milhões de correntistas terão crédito pré-aprovado para compra de veículos. Moan conta também com a "criatividade" das associadas para realizar promoções, e com a alta dos negócios via leasing.

De acordo com ele, o leasing é mais vantajoso para a pessoa jurídica e se aumentada a participação deste financiamento, "sobra mais CDC para atrair novos compradores ao mercado".

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