Promotores em Tóquio indiciaram nesta segunda-feira o executivo brasileiro Carlos Ghosn por ter supostamente fraudado sua declaração de renda quando era presidente do conselho administrativo da montadora Nissan, segundo a mídia japonesa. Ghosn foi afastado do cargo no mês passado, após uma investigação interna da Nissan apontar irregularidades de conduta.
As investigações do caso já resvalam no Brasil. A Nissan apelou à Justiça brasileira para impedir que a família de Ghosn retire objetos da casa utilizada por ele, no Rio de Janeiro. Além disso, o executivo teria relações com brasileiros acusados de corrupção, como o empresário Eike Batista e o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, segundo reportagem do jornal Financial Times.
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Um ex-diretor da Nissan, Greg Kelly, também foi indiciado por suposta colaboração com Ghosn.
A promotoria alega que Ghosn recebeu salários totalizando cerca de 10 bilhões de ienes (US$ 89 milhões) num período de cinco anos fiscais encerrado em março de 2015, mas teria declarado apenas cerca de metade desse valor.
A Nissan, que Ghosn resgatou de uma situação de quase falência nas duas últimas décadas, faz parte de uma aliança com a Renault e Mitsubishi.
Ghosn está detido em Tóquio desde 19 de novembro, quando as acusações vieram à tona. Somente advogados de Ghosn e autoridades de embaixadas do Líbano, França e Brasil foram autorizados a visitá-lo na prisão.
Ghosn nega as acusações.
Buscas no Brasil
A Nissan declarou que está apelando à Justiça brasileira para impedir que a família de Ghosn busque itens pessoais do executivo em apartamento de propriedade da empresa no Rio de Janeiro e usado por ele. A empresa considera que pode haver ali indício de condutas inapropriadas de Ghosn.
A própria compra do imóvel é investigada. A suspeita é que fundos de uma subsidiária da empresa, que teria como função o investimento em startups, na Holanda, tenham sido usados para a compra dele e de residências no Líbano e na França para uso de Ghosn.
A família do executivo estaria disposta a retirar os itens pessoais na presença de oficiais da Justiça, para garantir transparência na ação, diz o Financial Times.
Pessoas familiares ao caso ouvidas pelo jornal afirmam que a relação entre Ghosn e figuras proeminentes no Brasil ainda não fazem parte dos interrogatórios pelos quais o executivo passou. Também não há acusações formais de crimes cometidos no Brasil.
Disputa de poder
Em outro sinal das divergências internas entre Ghosn e a cúpula da Nissan, o jornal americano The Wall Street Journal informou que Ghosn pretendia trocar o presidente-executivo da empresa, Hiroto Saikawa, antes de ser preso.
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A insatisfação de Ghosn com Saikawa, segundo executivos ouvidos pelo jornal, decorria de problemas na gestão do negócio, incluindo redução de vendas nos Estados Unidos e perda de qualidade no Japão.
Não está claro se Saikawa sabia dos planos de Ghosn de retirá-lo da empresa, o que poderia acontecer em uma reunião do conselho de administração ainda em novembro.
Em vez disso, Ghosn foi demitido da empresa no dia 22.
Após a prisão, Saikawa afirmou que a Nissan vinha investigando o uso de recursos da empresa para fins pessoais e outras condutas inapropriadas de Ghosn havia meses. A companhia colaborava com a promotoria japonesa no caso.
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