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No primeiro semestre de 2008, o crescimento do lucro dos principais bancos públicos do país – o Banco do Brasil (BB) e a Caixa Econômica Federal (CEF) – superou o das quatro maiores instituições privadas, segundo os balanços divuglados recentemente pelas instituições reunidos pela consultoria Economatica.

De acordo com especialistas consultados pelo G1, esse resultado se deve em grande parte à forte expansão do nível de crédito do país, que aumentou 33% ao longo dos últimos 12 meses e atingiu R$ 1,06 trilhão, segundo números do Banco Central (BC).

Enquanto o lucro do BB aumentou 61,1% e o resultado da Caixa cresceu 53,4% no primeiro semestre de 2008, na comparação com igual período de 2007, os bancos privados tiveram ganhos percentuais mais modestos. Bradesco, Itaú e Unibanco apresentaram aumento de 2,5%, 1,7% e 5,3%, respectivamente. Já o quarto maior privado, o Santander, registrou diminuição de 13,6% no lucro.

"Os bancos públicos foram mais agressivos, buscaram atuar mais fortemente no mercado, na concessão de crédito pessoal. Antes, o BB e Caixa tinham carteiras mais focadas em crédito agrícola e imobiliário. Além de manterem esse mercado, agora estão buscando mais o consumidor individual", diz Alcides Leite, professor de mercado financeiro da Trevisan Escola de Negócios.

"Além disso, os privados já atuavam fortemente nesse setor, os públicos começaram agora. Então eles cresceram de uma base nova, enquanto os privados já tem uma clientela estabelecida, de onde é mais difícil buscar ampliação", completa.

Para Fábio Gallo Garcia, professor da PUC-São Paulo, os bancos públicos conseguem mercado a partir de facilidades exclusivas oferecidas a algumas categorias, como a do funcionalismo público. "São tarifas mais baixas, cheque especial mais barato. Com isso, o banco ganha volume financeiro a partir de uma escala maior de clientes", diz ele.

Aumento do crédito

Até o final do ano, a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) estima que o crédito deve atingir a casa de 40% do PIB. Dentro desse aumento, o destaque é o crescimento do financiamento de imóveis.

Segundo a Associação das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), o volume de financiamentos com recursos da poupança subiu 86,6% no primeiro semestre em comparação com ano passado, chegando próximo aos R$ 13 bilhões no período.

Uma boa fatia desse mercado foi dominada pela Caixa, que bateu recorde em contratações habitacionais no semestre. Segundo o banco, neste período foram contratados R$ 9,1 bilhões, valor 34% superior ao mesmo período do ano passado, quando o total havia sido de R$ 6,8 bilhões.

O BB também conseguiu autorização do Conselho Monetário Nacional (CMN) para oferecer financiamento imobiliário com recursos do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), e manifestou a intenção de emprestar mais R$ 2 bilhões até o final do ano.

Conjuntura

A própria conjuntura do mercado bancário também favoreceu os bancos públicos, segundo os analistas. De um lado, as novas regras do BC, que limitaram a cobrança das taxas bancárias, mexeram em um ponto do resultado financeiro do setor que era uma das principais fontes de renda dos bancos desde o Plano Real, no início dos anos 1990.

"Todos os bancos ganharam, mas esse ganho foi limitado pelas novas regras sobre tarifas bancárias. Dessa forma, ganhou mais quem soube explorar novos mercados, como o caso dos públicos, que atacaram fortemente a área de crédito pessoal, em especial o consignado", diz Gallo, da PUC.

Além disso, a crise financeira nos EUA – provocada em sua maior parte por empréstimos de risco – também estaria deixando os bancos privados mais cautelosos na concessão de crédito. "Os bancos adotaram uma política mais conservadora de provisionamento", diz Domingos Rodrigues Pandeló Júnior, professor de finanças do Ibmec São Paulo. "Assim, o dinheiro reservado para essa provisão é subtraído do balanço. Isso pode ter alguma influência sobre o resultado", completa.

E esse tipo de cobertura afetaria mais fortementemente as instituições privadas que as públicas. "Os privados, por serem companhias abertas, têm uma responsabilidade, uma atenção a mais nesse ponto, por serem mais fortemente monitoradas", analisa Márcio Nakane, professor da FEA/USP e analista da consultoria Tendências. "Além disso, com a economia tendendo a desacelerar daqui para a frente, isso pode implicar em mais inadimplência, o que também dá peso para um provisionamento maior."

Nova gestão

Além disso, o resultado também refletiria uma melhora na gestão dos bancos públicos, detectada por Pandeló Junior. "O BB investiu muito em modelos de gestão e qualidade de atendimento. Ele recebeu um aporte de capital forte, passou por reestruturação. Profissionalizou muito a gestão, e tem cobrança por resultados. Do ponto de vista da competição, ele está no mesmo patamar dos grandes privados", afirma.

"A Caixa também está buscando se aperfeiçoar, mas ainda enfrenta alguns problemas, principalmente devido a suas funções sociais", analisa o professor do Ibmec São Paulo. "Por exemplo, ela é responsável pelo FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), que onera e gera inflação na estrutura do banco. Por isso, ainda fica um pouco atrás do BB em termos de gestão."

Assim, a conclusão do resultado do semestre é dada por Leite, da Trevisan: "A diminuição no ritmo de crescimento dos lucros não é propriamente um problema dos privado, mas sim uma melhora dos públicos".

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