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Curitiba – A valorização do real em relação ao dólar tem causado prejuízo para diversos segmentos da indústria exportadora. A queda no faturamento – causado pelo desequilíbrio entre os valores dos contratos, estabelecidos quando a moeda americana estava cotada a um valor bem maior – já parou linhas de produção e pode representar demissões em breve. Os setores mais atingidos, segundo o coordenador de novos negócios da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Henrique Santos, são o madeireiro e o de confecções. "Mas de um modo geral, todos eles são prejudicados com a baixa do dólar", comenta. "O ideal é que o dólar fique entre R$ 2,80 a R$ 3", opina.

De acordo com o presidente da Associação Brasileira da Indústria Processada Mecanicamente (Abimci), Luís Carlos de Toledo Barros, o setor já perdeu 25% da sua receita desde novembro do ano passado (quando o dólar se mantinha em R$ 2,80). "Setenta por cento da produção paranaense é voltada ao mercado externo, na sua grande maioria itens de construção civil. Historicamente, temos preços competitivos. Lá fora, porém, os produtos são considerados commodities, ou seja, não formamos preços, atuamos conforme o mercado", comenta. De acordo com Barros, na época da super-valorização do dólar em relação ao real, os custos de produção aumentaram muito e se mantém assim. Além disso, o setor ainda enfrenta um descompasso entre produção e matéria-prima escassa.

A queda no faturamento, segundo Barros, já resultou em paralisação de algumas linhas de produção e demissões em várias empresas do estado. "No nosso segmento, qualquer redução de produção representa diminuição no quadro funcional." Barros dirige a indústria de compensados Emílio B. Gomes, que tem duas unidades em Irati. "Os funcionários de uma delas já estão em férias coletivas e os da outra devem entrar nos próximos dias. Na volta, vamos dar aviso-prévio para todos os 300 colaboradores." A fábrica tem capacidade para produzir 3,5 mil metros cúbicos de compensado por mês, mas está fabricando apenas 2 mil. "Vamos ficar 45 dias parados sem produzir e depois analisar."

O empresário Miguel Zattar Filho, presidente da Indústrias Zattar, diz que o lucro obtido no ano passado foi consumido na tentativa de garantir o cumprimento dos prazos. Em 2004, a empresa produziu 18 mil metros cúbicos de compensado laminado, volume que foi integralmente exportado. "Todos os custos de produção sofreram um acréscimo e os preços internacionais dos produtos florestais brasileiros caíram bastante", comenta. "Optamos por trabalhar, mesmo com prejuízo, para manter nosso sistema de relações comerciais desenvolvido nos 60 anos de empresa. No momento, fazemos um rodízio de funcionários, mas se o dólar continuar caindo, teremos que reduzir ou até paralisar temporariamente a produção", completa.

Confecções

Com relação ao mercado de confecções, o faturamento das exportações registrou queda de 6% em junho. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), o setor exportou US$ 144 milhões neste ano, contra US$ 153,1 milhões em 2004. "A valorização cambial diminui a remuneração do exportador e dificulta tanto o ingresso de novas empresas no mercado externo quanto a expansão dos negócios de quem já vende para fora", afirma o diretor-superintendente da Abit, Fernando Pimentel.

A Ponto Design, empresa paranaense de roupas de fio, exporta cerca de 20% da sua produção mensal para os Estados Unidos, Espanha e alguns países da América do Sul. "Quando a queda do dólar começou, ficamos preocupados. O primeiro impacto foi grande porque tínhamos pedidos agendados que ficaram prejudicados", lembra o diretor-geral Sérgio Cavalieri. Com o tempo, no entanto, ele e a proprietária, Marilize Slaviero,dizem ter encontrado caminhos para diminuir as perdas. "Passamos a fazer uma roupa mais barata, sem prejudicar o visual e a qualidade. Boa parte da nossa matéria-prima é importada e também ficou mais barata", diz. Apesar da instabilidade, o empresário diz que vai continuar apostando suas fichas no mercado externo. "Temos capacidade instalada para produzir 12 mil peças por mês, e hoje fabricamos entre 6 mil e 8 mil. Sinto que há espaço para outros negócios nos países que já trabalhamos e também estou aberto a novas oportunidades", completa.

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