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Rachel Belle conseguiu emprego em um  restaurante ‘top 100’ no mundo. | Arquivo
Rachel Belle conseguiu emprego em um restaurante ‘top 100’ no mundo.| Foto: Arquivo

Ainda que as crises imigratórias, especialmente de refugiados da Ásia e África, e políticas de restrições contra ondas de estrangeiros dominem as manchetes, há um tipo de “cidadão do mundo” bem visto, e disputado pelos países desenvolvidos.

Brasileira comanda atração de pesquisadores e profissionais para os EUA

Casal de curitibanos encontra oportunidades no Canadá

Curitibano que passou por Portugal e Alemanha agora desenvolve softwares na Inglaterra

A brasileira que foi buscar uma nova profissão na Austrália

Gerson troca Curitiba por Santiago e assume gerência nacional de vendas da GM Chile

A disputa por mão de obra qualificada envolve boa parte dos países desenvolvidos. Desde os imensos Canadá e Austrália, até os pequenos Portugal e Cingapura. Até mesmo os Estados Unidos de Donald Trump mantêm políticas que facilitam os vistos para pessoas qualificadas – como os engenheiros escolhidos a dedo pelas gigantes do Vale do Silício.

Empresas e universidades costumam promover ativamente a busca por estrangeiros. Há casos extremos, como o da indústria de tecnologia de Wellington, na Nova Zelândia, que se propôs a pagar a passagem aérea dos candidatos.

Confira os dados de desemprego entre estrangeiros pelo mundo

Diretora de programas globais de Engenharia da Universidade Texas A&M, nos Estados Unidos, a brasileira Maria Claudia Alves explica como funciona a busca: “Nosso foco é atrair pesquisadores e profissionais para mestrado e doutorado. Construímos parcerias com professores de todo o mundo e temos bastante cuidado nessa seleção. Caso se estabeleça no país, a ideia também é que ele mantenha os laços com o país de origem”, explica.

Boas oportunidades no exterior, geralmente, estão relacionadas às ciências da saúde, engenharias, tecnologia da informação e contabilidade (veja mais nesta página). As oportunidades para “especialistas” estão concentradas em três continentes, segundo Daniel Magalhães, diretor da Global Visa – rede de franquias de vistos: América do Norte, Europa e Oceania.

Terras de Oportunidades

Arquivo pessoal

Maria Claudia destaca que os Estados Unidos estão sempre dispostos a recrutar talentos. “A maneira mais eficiente é certamente através de programas acadêmicos. Eles aumentam o networking e a possibilidade de conseguir visto de trabalho”, opina Maria Claudia. Outra forma de entrar no mercado norte-americano é aplicar para vagas em que a empresa se disponha a patrocinar o visto de trabalho. “Normalmente são profissionais muito especializados, pois há muitos custos financeiros e burocráticos”, diz.

O Canadá também traz oportunidades. Magalhães estima que 80% das vagas para especialistas estrangeiros no Canadá sejam relacionadas às especializações tecnológicas. Ele confirma que o país, já há algum tempo, demanda mão de obra importada devido ao rápido desenvolvimento econômico.

Para brasileiros driblarem a “crise de imigração” na Europa, Portugal pode ser uma boa porta de entrada para a inserção no mercado de trabalho europeu. Em novembro de 2016, em reunião no Itamaraty, o presidente português, Marcelo Rebelo propôs um acordo de permissão para que os cidadãos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa possam residir, trabalhar e ter direitos sociais em nações lusófonas. O documento final deve ser assinado em nova reunião, em Cabo Verde, em 2018.

Austrália e Nova Zelândia têm, respectivamente, 15% e 20% de estrangeiros em sua população. O diretor da Global Visa diz que a maneira mais fácil de começar a trabalhar nesses países é fazendo cursos de idiomas ou outros, pois há permissão de trabalho enquanto se estuda em ambos os países.

América do Norte e sonho americano

O designer Daniel Trezub e a jornalista Priscilla Fogiato deixaram Curitiba rumo ao Canadá em 2013.

Diretor da consultoria Global Visa, Daniel Magalhães lembra que o Canadá tradicionalmente precisa de mão de obra especializada importada. “Mas não pense que o emprego é fácil. A preferência sempre é por quem tem o idioma nativo”, avisa Daniel Trezub, de Montreal. Designer de formação, ele trabalha com testes de jogos eletrônicos. Casado com a jornalista Priscilla Fogiato, eles saíram de Curitiba em 2013 rumo ao Canadá.

“Levamos quase três anos nos planejando. Estudamos no Brasil até termos o domínio da língua [francesa e inglesa], fizemos as contas de quanto deveríamos levar de dinheiro para pelo menos seis meses. Tudo em busca de melhor qualidade de vida”, conta Priscila. Hoje, ela é coordenadora de equipe em uma empresa de jogos de Montreal.

O casal adverte brasileiros que pensam ser fácil conseguir visto e que basta desembarcar para conseguir espaço. “Antes de viajar, prepare-se, pesquise, faça as contas. Experimente aplicar para as vagas antes de sair do Brasil. Muitos profissionais que chegam ao Canadá precisam voltar a estudar para conseguirem revalidação do diploma”, orienta Priscilla. Ela conta que há brasileiros que chegam a levar um ano para conseguirem emprego. “E tem aqueles que desistem por não se adaptarem ao frio e à cultura”, emenda Daniel.

Isso não impede, contudo, que pessoas de diferentes áreas consigam se encaixar. Para a diretora de programas globais de Engenharia da Universidade Texas A&M, Maria Claudia, “os brasileiros que chegam aqui [na universidade] têm um nível técnico alto”, diz ela. “Brasileiros também conseguem ter sucesso em áreas mais subjetivas, como artes e esportes”, completa Magalhães. A história de Maria Claudia ilustra bem essas alternativas.

Tenista na adolescência, a catarinense terminou o ensino médio no Brasil e ganhou bolsa de estudos em Marketing na Universidade Lynn, na Florida, e fez mestrado na Texas A&M com apoio da própria universidade, trabalhando meio período no campus. Após passar por uma agência de marketing em Miami, foi chamada para uma posição na universidade texana.

Uma amostra do capital intelectual estrangeiro é que 51% das startups norte-americanas com valor de mercado superior a US$ 1 bilhão têm imigrantes em seu quadro de fundadores, segundo a Fundação Nacional de Políticas Americanas. A diretora universitária destaca algumas áreas em ascensão, como saúde e agronegócios. “Os brasileiros têm conhecimentos específicos e necessários nesse campo”, resume.

Antes de tentar imigrar, vale o alerta: nos Estados Unidos, por lei, a preferência de preenchimento de vagas é para cidadãos norte-americanos, explica o diretor da Global Visa. Trabalhar na informalidade é uma opção arriscada. “Essas pessoas se programam para ir e ganhar dinheiro, mas depois, se conseguirem o objetivo, não podem mais voltar para os Estados Unidos, nem a turismo, como punição”, afirma o diretor da Global Visa.

Portanto, o mais recomendado é entrar no mercado por vagas de mestrado e doutorado. “Temos vários casos de estudantes que vieram para os Estados Unidos com a bolsa de mestrado do Programa Ciência Sem Fronteiras, do Governo Federal, e que foram convidados para doutorados patrocinados pelas próprias universidades”, incentiva Maria Claudia.

Europa: sem cidadania, com bom currículo

Ter a cidadania de algum país da União Europeia facilita a entrada? Certamente, mas nada substitui uma boa especialização. Portugal pode ser um ponto de partida, e o caso do curitibano Guilherme Candido Hartmann ilustra bem isso. Com graduação em Ciência da Computação e pós em Jogos Digitais, conseguiu entrar no Mestrado de TI em Coimbra 2006.

“Era um período em que eu podia largar tudo, viajar. A aplicação foi fácil, bastou enviar meu currículo, informações de diploma e histórico escolar. Durante o próprio curso, trabalhei dentro de empresas que ficavam ‘encubadas’ na universidade. Percebi também que o conhecimento técnico do Brasil em tecnologia traz uma base muita boa para os padrões internacionais”, afirma Guilherme.

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Com o diploma em mãos, ele conta que passou um tempo trabalhando na Alemanha, em 2007, antes de voltar ao Brasil. Após seis meses em Curitiba, foi aprovado em uma vaga com seu perfil na Redecard, em São Paulo. Ainda empregado, três anos depois resolveu fazer as malas, desta vez, com destino ao Reino Unido.

Acompanhado da noiva, hoje esposa, eles fizeram o pedido de visto de trabalho sozinhos, pela internet. O Governo Britânico solicitou dados como certificação de proficiência em inglês, entre outros fatores. “Apliquei para visto de mão de obra altamente especializada. Bastaram algumas traduções para fazer uma simulação [de capacidade e avaliação de perfil] online e ter a aprovação. Em menos de duas semanas já estava com o visto em mãos”, relata.

A ideia inicial era fazer MBA fora do Brasil, para trabalhar de dia e estudar a noite. “Arrumei um apartamento perto da London Business School e comecei a ter interatividade com a universidade, a formar contatos e a conhecer os produtos de educação deles. Acabei fazendo um curso de um ano de Educação Executiva em Investimento de Negócios”, conta. A inserção no mercado de trabalho, contudo, não foi das mais fáceis.

“No começo foi difícil, pois precisava de um emprego para ter dinheiro para moradia e a estrutura é muito diferente do Brasil. A falta de experiência no mercado de trabalho britânico é o limitante. Então, aceitei um emprego com o salário de praticamente a metade do que uma pessoa de alta performance ganharia na área de engenharia de softwares. Como a experiência que eu tinha já era de quase 10 anos, fui ganhando novas responsabilidades. Isso ajudou no momento de mudar de empresa”, conta.

Após um ano, Guilherme conseguiu um contrato de prestação de serviços de desenvolvimento de softwares com um grande banco local. E assim está há cinco anos: bem empregado e especializado. Recentemente, inclusive, obteve cidadania inglesa. Mas ele dá a dica para quem quer “pular” fora do Brasil:

“A maneira de trabalhar é muito diferente em cada lugar que passei. Já fiz projetos com franceses, alemães, russos e indianos. Eu me adapto melhor ao estilo inglês, em que a preocupação é unicamente na entrega e não na quantidade de horas de trabalho. Inclusive, quem faz hora extra por aqui pode ser visto como incompetente porque não conseguiu entregar o trabalho durante o expediente”, aconselha.

Para quem quer seguir os passos do profissional britânico-brasileiro, fica a dica: a inserção no mercado de trabalho em Portugal deve ser ainda mais fácil até o fim de 2018.

Oceania abriga brasileiros com alta escolaridade

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Em alguns países, o Brasil acaba sendo um dos maiores exportadores de talentos. Proporcionalmente, os brasileiros são os imigrantes com maior nível de escolaridade na Austrália, segundo estudo realizado pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

No país, 82,6% possuem pelo menos o grau universitário - 51,3% graduação e 31,3% pós-graduação. Comparada aos australianos, a porcentagem de brasileiros com mestrado ou doutorado vivendo na Austrália é de 9,37% contra 1,9%.

Daniel Magalhães, diretor da Global Visa, diz que forma mais fácil de começar a trabalhar na Austrália e na vizinha Nova Zelândia é fazendo cursos de idiomas ou outros, pois há permissão de trabalho enquanto se estuda em ambos os países. A pesquisa da UFF mostra exatamente isso: praticamente 80% dos entrevistados saíram do Brasil com visto de estudante e demonstraram interesse em permanecer no país.

No que depender de Rachel Belle, ela vai “engrossar” essa lista. Após oito anos trabalhando com comunicação empresarial no Brasil, desembarcou em Sidney em 2016 para realizar o sonho de ser chef de cozinha. Ela estudou inglês por cinco meses no país e começou um curso de gastronomia.

“Confesso que está sendo muito melhor que esperava. Consegui emprego como auxiliar de cozinha em um dos restaurantes ‘top 100’ do mundo. Não penso em voltar para o Brasil”, afirma.

Rachel destaca que a segurança e o fator da multicultural contribuem para a imensidão de estrangeiros na Oceania, além da forte necessidade de “importar” profissionais de diversas áreas, conforme as listas divulgadas pelos governos australiano e neozelandês. A cidade de Wellington, na Nova Zelândia, chegou a oferecer viagens gratuitas a profissionais de TI para fazerem turismo e entrevistas de emprego.

América Latina também traz oportunidades

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Países vizinhos também recebem grande volume de imigrantes do Brasil. O Paraguai, por exemplo, é o segundo país do mundo em que há mais brasileiros: 350 mil. Em toda a América do Sul são 550 mil (tirando o próprio Brasil, claro).

Um facilitador para imigrar é o Acordo de Residência para Nacionais dos Estados Parte do Mercosul, de 2002. Este trâmite é o primeiro passo para poder trabalhar legalmente em um dos países cinco membros do Mercosul: Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela, além de Chile, Bolívia, Equador, Colômbia e Peru. Os contatos de cada país são encontrados na página oficial do Mercosul.

Na terra dos Andes, outro meio é provar vínculo para garantir visto de trabalho por dois anos, podendo ser renovado. Gerson Vaz é um exemplo. Há pouco mais de dois anos ele deixou Curitiba para assumir o posto de gerente nacional de vendas da GM em Santiago.

“A GM tem alguns programas no exterior em que a oportunidade se dá por necessidade da organização, seja para desenvolver um profissional ou para aproveitar a experiência dos mais ‘rodados’. No meu caso, vim para trazer algumas experiências de vendas”, diz.

Gerson destaca que o mercado automobilístico brasileiro é o maior da América do Sul, o que gera um ganho significativo de experiência em termos de processos de vendas, comunicação com os clientes e relacionamento com as redes de concessionárias. Isto favorece “chamados” desse tipo. “Agora, nos próximos meses, voltarei ao Brasil atendendo a um chamado da empresa”, diz.

Para ele, contudo, não basta estar com a documentação em dia. “Independentemente do país, você tem que, rapidamente se integrar à cultura, falar o idioma, participar das festas, curtir a comida, entender a história. É uma questão de respeito com as pessoas e uma forma de adaptação rápida. Eu, por exemplo, quando cheguei, logo comprei uma camisa da seleção chilena, ‘la Roja’ pois ‘la inchada’ (a torcida) é fanática e assim consegui me aproximar das equipes de trabalho”, orienta o profissional da GM.

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