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Saiba como começar a poupar. Especialistas recomendam começar guardando entre 15% e 20% da renda. | Daniel Castellano / AGP/Daniel Castellano / AGP
Saiba como começar a poupar. Especialistas recomendam começar guardando entre 15% e 20% da renda.| Foto: Daniel Castellano / AGP/Daniel Castellano / AGP

Mais de 30 milhões de brasileiros terão este ano direito a colocar as mãos em um dinheiro inesperado. O valor está hoje nas contas inativas do FGTS, cujo saque o governo decidiu autorizar. O cronograma foi divulgado na semana passada. Dos R$ 43,6 bilhões que poderão ser usados, até R$ 16 bilhões devem ser destinados ao consumo, com a maior parte dos recursos indo para o pagamento de dívidas, segundo estimativa do banco ABC. Quitar débitos é o mais recomendável, mas especialistas ressaltam que o saque das contas inativas vai reduzir o colchão de segurança dos trabalhadores em caso de demissão, bem como para o sonho da casa própria. O ideal, dizem, é aproveitar a oportunidade para fazer uma reserva financeira por conta própria, usufruindo aplicações que rendem muito mais que os parcos juros do FGTS, de 3% mais TR.

Saiba como sacar o dinheiro das contas inativas do FGTS

Para Carlos Eduardo Eichhorn, superintendente de gestão de recursos da Mapfre Investimentos, quem está começando agora uma poupança para eventuais emergências deve optar por aplicações de alta liquidez — que permitem sacar o dinheiro a qualquer momento — e de baixo risco. Os principais investimentos com esse perfil, diz, são os chamados fundos DI (que acompanham a taxa básica de juros), títulos do Tesouro indexados à Selic (que compõem a carteira dos fundos DI e podem ser adquiridos no sistema do Tesouro Direto) e produtos bancários como CDBs com liquidez diária, emitidos por bancos de primeira linha.

Essas são aplicações do tipo pós-fixado, cuja rentabilidade acompanha a evolução de alguma taxa. Geralmente, a referência é a taxa básica de juros, a Selic, ou o Certificado de Depósito Interbancário (CDI), que segue de perto a Selic. Por isso um cenário de queda de juros como o de hoje acaba tirando a atratividade de aplicações pós-fixadas.

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No começo, evite investimentos de risco

Mas Eichhorn acredita que, para formar uma reserva de emergência, é melhor ganhar menos e ter segurança a se arriscar a ter um prejuízo tentando uma renda maior. É o caso dos títulos prefixados do Tesouro, que tendem a se valorizar quando os juros caem porque foram emitidos a taxas maiores que as de novos papéis com o mesmo perfil. Só que o preço desse títulos é muito volátil, e quem quiser sacar o dinheiro antes do vencimento, em caso de emergência, pode até acabar no prejuízo.

“A primeira recomendação é procurar títulos do Tesouro atrelados à Selic”, reforça Chow Juei, gestor de recursos da Spinelli Corretora. “No Brasil, ainda que os juros caiam para um único dígito (a Selic hoje está em 13% ao ano), é muito interessante, pois trata-se de um investimento em que você não perde. Em outros títulos você ganha mais, mas o Tesouro Selic é aquele com o menor risco.”

Segundo Eichhorn, da Mapfre, cada aplicador deve considerar suas condições financeiras para saber o tamanho do colchão necessário. “O aplicador deve fazer essa poupança de alta liquidez e baixo risco até um valor com o qual se sinta confortável. Vai depender do perfil da pessoa. Tem gente que acha que um colchão equivalente a um ano de salário é suficiente, pois sabe que vai conseguir um novo trabalho dentro desse prazo em caso de demissão. Um profissional mais velho, porém, talvez precise de mais tempo para se reposicionar. Nesse caso, talvez seja necessário ter guardado mais de um ano de salário”, explica.

Também é recomendável que o aplicador invista, todo os meses, um valor maior do que a fatia destinada ao FGTS, que equivale a 8% do salário. Isso porque, observa Eichhorn, uma economia de apenas 8% somaria, ao longo de um ano, menos de um mês de salário (sem considerar a rentabilidade).

É muito pouco, diz o superintendente da Mapfre. “A pessoa teria de economizar por dez anos para atingir o equivalente a nove meses de remuneração (sem levar em conta o rendimento). É um valor muito pequeno. O ideal seria conseguir guardar no mínimo entre 15% e 20% da renda. Isso dá fôlego para o caso de algum imprevisto e segurança para que a pessoa faça investimentos de retorno maior no futuro.”

Somente depois de juntar um colchão confortável com aplicações de baixo risco e alta liquidez que o investidor deve partir para aplicações mais arrojadas.

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“O poupador deve pensar que suas aplicações são como copinhos. Quando ele encher seu copinho de liquidez, pode começar a completar os copinhos de maior risco. Pode ser aplicando em ações ou algo como um fundo de crédito ou multimercado (tipo mais flexível de fundo), que às vezes só permite o resgate dentro de 60 dias, mas mira retornos maiores” diz Eichhorn.

Poupança? Só com a Selic a 8% é que vale a pena

Para Chow Juei, da Spinelli, títulos indexados à inflação (Tesouro IPCA, que rende uma taxa de juros fixa mais a inflação do período) são interessantes para quem chegar a esse segundo momento de poupança.

“A inflação ainda está em queda, e os juros continuam altos. Logo, ainda dá para ganhar com a valorização desses papéis. O potencial já foi maior, mas ainda é interessante”, sugere. “Outra categoria importante é a das ações. Estamos diante de um momento de recuperação econômica que acontece uma vez em muitos anos, e isso dá espaço para mais valorização da Bolsa. Pensando no futuro, em um horizonte de cinco anos, é recomendável ter até 15% do patrimônio investido em ações.”

Segundo o economista-chefe da gestora de recursos Infinity Asset, Jason Vieira, o atual patamar de juros no Brasil torna um mau negócio preparar um colchão de investimento na caderneta de poupança.

“Mesmo que o Tesouro Direto tenha cobrança de imposto, ainda vale muito mais a pena do que a poupança. O brasileiro só poderá começar a olhar para a caderneta como uma opção vantajosa quando os juros caírem muito mais, para 8%, 7%. Ainda estamos longe disso”, observa Vieira, que recomenda aplicar em títulos prefixados, devido à perspectiva de uma Selic menor daqui para frente.

O Relatório de Mercado Focus trouxe nesta segunda-feira (20), que a mediana das previsões para a Selic este ano é a mesma de um mês atrás: 9,50% ao ano. Ou seja, a poupança não ficará atraente até o fim de 2017, segundo as estimativas do mercado.

Apesar disso, é na poupança que muitas pessoas que vão sacar o FGTS pretendem aplicar parte do dinheiro. É o caso de Marcos Aurélio Soares, de 51 anos, que está sem emprego e vai usar o FGTS como uma reserva de segurança. “Eu quero usar esse dinheiro para colocar na poupança. Estou desempregado, então, quando ficar totalmente sem dinheiro, vou usá-lo. É uma segurança para o futuro.”

O auxiliar administrativo Robson de Jesus da Silva, de 57 anos, sabe que será um dos últimos a receber (nasceu em dezembro), mas está ansioso para aplicar o dinheiro e usá-lo nas próximas férias. “Quero deixar esse dinheiro na poupança porque vou viajar para a França de férias. Receber no fim do prazo não vai me atrapalhar.”

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