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| Foto: Nubank/Divulgação

Se 2015 foi o ano da economia compartilhada, com a ascensão de empresas como Uber e Airbnb, 2016 foi o ano das fintechs. Com tecnologias robustas e estruturas operacionais eficientes, empresas de tecnologia que atuam com serviços financeiros sacudiram o setor bancário e abriram caminho para uma revolução semelhante à vista na indústria da música e do cinema. É caso de fenômenos como Nubank, GuiaBolso e Banco Original, que impõem mudanças no antigo jeito de fazer negócios do mundo financeiro.

Segundo dados do Radar FintechLab, que será lançado no fim deste mês, há cerca de 250 fintechs no país, que se dividem em dez áreas de atuação, desde pagamento e gerenciamento financeiro até empréstimos, financiamentos e negociações de dívidas. Cerca de 170 estão em fase operacional e uma em cada cinco tem mais de 20 funcionários, de acordo com informações divulgadas no ano passado. A expectativa é que, em todo mundo, US$ 4,7 trilhões vão parar nas mãos das fintechs nos próximos anos pelas estimativas do grupo Goldman Sachs.

Bancos perdem espaço para startups na briga por consumidores digitais

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Os maiores expoente no Brasil são a Nubank e o GuiaBolso, que já receberam cerca de R$ 650 milhões em aportes financeiros e atingem mais de quatro milhões de pessoas com seus produtos. Em comum, assim como a maioria das fintechs que dão certo, elas desenvolveram tecnologias acessíveis e intuitivas e atingiram uma gama de consumidores aflitos por inovação.

A Nubank conquistou o público ao oferecer cartão de crédito sem anuidade e gerido através de um aplicativo. Mais de 5 milhões de pessoas pediram o cartão – muitas tiveram a solicitação recusada – e mais de 400 mil aguardam na fila de espera. A maioria dos usuários tem menos de 36 anos e pertence as classes A e B. Sozinha, a startup já recebeu US$ 179 milhões em investimento.

Já o GuiaBolso é um aplicativo de finanças pessoais que puxa automaticamente as movimentações das contas bancárias conectadas ao sistema e reúne as informações em gráficos para controle financeiro. São 3,1 milhões de usuários em uma base de clientes que cresce cerca de 5% ao mês. Só nos primeiros 15 dias de lançamento da plataforma, em julho de 2014, foram 50 mil usuários cadastrados no iOS, sistema operacional de dispositivos móveis da Apple.

Os exemplos são apenas uma amostra da primeira onda de fintechs brasileiras, que começou a ganhar força a partir de 2014 e teve no ano de 2016 a sua grande ascensão. O coordenador de Apoio a Empreendedores da Endeavor, Igor Piquet, explica que as empresas da primeira onda atuam em serviços conhecidos do consumidor, mas que são mal prestados ou restritos a uma pequena parcela da população. “São serviços comuns que estão sendo muito bem executados com tecnologias robustas e seguras”, diz Piquet.

A segunda onda de startups ainda está em fase embrionária no Brasil. Ela abrange os negócios que trazem tecnologias disruptivas, como moedas digitais e blockchain. “Muitas das fintechs que existem ainda rodam em cima de sistemas bancários”, explica Piquet. Quando essa barreira for quebrada, teremos uma verdadeira transformação do sistema financeiro, com a eliminação dos intermediários.

Foco em tecnologia e no consumidor é o diferencial das fintechs

As fintechs caíram no gosto do consumidor por serem empresas de tecnologia que atuam na área financeira. Diferente de bancos e corretoras, elas oferecem soluções tecnológicas eficientes, que facilitam a vida do cliente final. Isso sem deixar de lado a segurança, já que lidam com transações financeiras.

Elas também ganham destaque porque atuam num mercado com demanda reprimida, tanto de consumidores insatisfeitos quanto de população não-bancarizada, e possuem custos baixos em relação às instituições financeiras tradicionais.

E diferente de várias startups que existem no mercado, as fintechs são especializadas em um nicho de atuação e contam com uma equipe de fundadores e investidores com expertise na área. É o caso do GuiaBolso, idealizado em 2012 pelo ex-consultor de serviços financeiros da McKinsey Thiago Alvarez e pelo ex-diretor do Groupon Brasil Benjamin Gleason, e que tem entre os investidores a International Finance Corporation (IFC), braço financeiro do Banco Mundial.

“A experiência anterior me trouxe a visão de como as instituições financeiras pensam e qual é a sua cultura organizacional. Ao saber como elas pensam, fica mais fácil atacar as deficiências”, afirma Alvarez. A empresa, que já recebeu R$ 90 milhões em investimento, oferece um aplicativo para organização financeira pessoal.

Grandes bancos correm atrás do “prejuízo”

As fintechs não ameaçam a concentração bancária brasileira e abocanham apenas uma parcela do número de clientes e transações realizadas pelas grandes instituições financeiras. Um exemplo é que, segundo o jornal Valor Econômico, um grupo de dez a 12 fintechs emprestou R$ 300 milhões em 2016 aos seus clientes. Já os bancos, só em novembro do ano passado, concederam quase R$ 6 bilhões em crédito pessoal.

Mas isso não significa que os novos negócios não incomodem os grupos tradicionais. Os bancos começaram a correr atrás do prejuízo tecnológico e estão se aproximando de startups financeiras. O objetivo é atrair, principalmente, o consumidor da geração Y (nascidos nas décadas de 1980 e 1990).

O Bradesco lançou o programa InovaBra, para apoiar o desenvolvimento de startups na área de big data, analytics e blockchain, e lançou o seu fundo de venture capital com capital de R$ 100 milhões. Já o Itaú lançou em São Paulo o Cubo, um espaço de coworking para startups. E o Santander comprou a ContaSuper, empresa que atua com sistemas de pagamentos e cartões pré-pagos.

Mas as mudanças nem sempre visam o consumidor. Marcelo Bradaschia, sócio-fundador da consultoria Clay Innovation e do FintechLab, afirma que até então os bancos não têm tecnologias voltadas para os clientes, muito por causa do mercado concentrado, que diminui a competição. “Apesar de a gente ter visto mudanças tecnológicas em várias áreas, os bancos sempre foram voltados para melhorar a eficiência deles e não a experiência do usuário”, afirma o especialista em inovação.

O que chega mais próximo do usuário é uma iniciativa que não vem de um banco tradicional. O Banco Original, controlado pela dona da JBS, atingiu em outubro de 2016 a marca de 100 mil correntistas. O número era esperado para março deste ano. Sem estrutura física, o banco permite abrir conta-corrente pelo celular.

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