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Ford e VW devem aprofundar aliança iniciada em 2018 | PATRIK STOLLARZ/AFP/Arquivo
Ford e VW devem aprofundar aliança iniciada em 2018| Foto: PATRIK STOLLARZ/AFP/Arquivo

O namoro entre Ford e Volkswagen vai virar casamento. As duas gigantes automobilísticas devem anunciar um aprofundamento da sua aliança estratégica na Feira de Detroit, que começa na próxima semana, nos Estados Unidos. O acordo deve envolver até troca de tecnologia e utilização cruzada de plantas industriais ao redor do mundo. A informação é de fontes da agência Reuters.

A Ford vive hoje um momento de reestruturação e enxugamento das suas estruturas similar ao que rivais como Fiat, Nissan e Chrysler enfrentaram nas últimas duas décadas. Todas estiveram próximas da falência, mas conseguiram se reerguer. O processo deve impactar até mesmo a produção da empresa no Brasil (leia mais abaixo).

O acordo chega em um momento crucial para a indústria automotiva, que viveu um século de tranquilidade sob o modelo fordista de produção. O ponto de inflexão foi há cerca de dois anos, quando as montadoras se viram obrigadas a definir se mantinham um modelo antigo de negócios (baseado na fabricação e venda de veículos) ou passariam a produzir soluções em mobilidade. Optaram pela segunda.

Esta reinvenção passa por um enxugamento da estrutura antiga, tradicional, o que inclui corte de gastos. Mas também depende do investimento em novas tecnologias, que alcem as montadoras a protagonistas da quarta revolução industrial. É aí que se encaixa esta nova fase da parceria Ford-VW. O escopo exato da aliança ainda está sendo definido, segundo a Reuters, mas as linhas de carros autônomos e veículos elétricos deve ser prioridade.

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As duas fabricantes devem unificar seus investimentos em tecnologia de carros autônomos. Com o início da operação do 5G nos Estados Unidos, este ano, a expectativa no mercado é de que a curva de crescimento deste tipo de tecnologia se acentue muito rapidamente, nos próximos anos.

Com expertise na produção de carros, as montadoras enfrentam a concorrência de empresas de software, como Uber e Google, que também estão de olho no segmento de veículos autônomos. A concorrência os impele a pôr o pé no acelerador.

A aliança ainda deve incluir a fabricação de veículos da VW em plantas da Ford, além de uma união de forças para enfrentar a guerra comercial entre Estados Unidos e China, que já prejudica as montadoras.

Carros elétricos

A popularização dos carros elétricos talvez seja o principal ponto da aliança, segundo fontes ligadas ao Financial Times. A VW desenvolveu uma tecnologia de eletrificação, chamada MEB, que é uma espécie de chassi curinga. Pequeno e leve, o MEB pode ser acoplado a diferentes tipos de carros, como hatches, SUVs, micro-ônibus e até carros de corrida.

A Volks está investindo pesado nesta área, com uma previsão de gastar até 30 bilhões de euros em eletrificação nos próximos cinco anos, uma quantia sem precedentes na história da indústria.

Com 12 marcas em seu portfólio, a VW está acostumada a desenvolver tecnologias verticais. Mas expandir esta tecnologia para a concorrente Ford seria uma novidade, e traria uma vantagem competitiva para a Volks na corrida pela eletrificação.

Todas as principais montadoras do mundo hoje se debruçam em encontrar caminhos para baratear os carros elétricos, tornando-os tão acessível quanto veículos à gasolina ou diesel.

Aliança estratégica

As duas companhias anunciaram uma “aliança estratégica” para desenvolver uma linha de veículos comerciais em junho do ano passado (2018). Mas sem aportes financeiros ou troca de ações — como ocorreu entre Renault e Nissan — pelo menos neste primeiro momento.

Neste meio tempo houve troca de elogios entre os chefões das montadores, e ficou no ar a possibilidade de um aprofundamento da parceria. O anúncio oficial, se confirmado na próxima, vem em um momento em que a Ford acelera seu plano de reestruturação, estimado em US$ 11 bilhões.

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A companhia fez uma redução radical no seu portfólio na América do Norte, no ano passado, mantendo apenas dois automóveis, Mustang e Focus. Meses depois, também o projeto do Focus foi paralisado, em função das tarifas de 25% na importação de produtos chineses, impostas pelo governo Trump. Só o Mustang resiste.

Europa

Nesta quinta-feira (10), a empresa anunciou cortes radicais na Europa, onde emprega 54 mil pessoas (a maior parte na Alemanha, Reino Unido e Espanha). O portfólio defasado e a retração do mercado britânico, além do Brexit, pesam negativamente nos resultados da empresa.

“Queremos colocar a performance do negócio em outro patamar”, declarou o diretor da Ford na Europa, Steven Armstrong, em entrevista. “Teremos um impacto significativo na região”, que pode incluir o encerramento de plantas. A empresa deve abrir mão de modelos menos lucrativos e rever a joint venture que possui na Rússia.

Brasil

A remodelação da Ford deve impactar até o Brasil. Durante o lançamento de uma nova SUV, o presidente de mercados globais da Ford, Jim Farley, adiantou que detalhes da reestruturação global da companhia devem ser divulgados nas próximas semanas, inclusive na América do Sul.

No ano passado correram boatos de que a companhia estudava vender toda a sua operação na América do Sul. A Ford negou, disse que não é verdade. Mas reconheceu que um redesenho do modelo de negócios era “Necessário para determinar onde devemos participar e como podemos vencer neste mercado”.

Só no Brasil, a empresa tem quatro fábricas, em Camaçari, São Bernardo do Campo, Tatuí e Taubaté. Antes da crise, entre 2006 e 2014, a América do Sul rendeu US$ 4,607 bilhões para a montadora, o que correspondeu a 20% da lucratividade da companhia — mesmo representando apenas 8,3% dos carros vendidos.

Uma possível aliança Ford-VW seria líder nos segmentos de automóveis e veículos comerciais leves, com mais de 25% do mercado, e de caminhões, com 50% de market share. Juntas, as marcas Volkswagen, Scania e Man (do grupo VW) e Ford emplacaram 38.194 caminhões no ano passado, 60% a mais do que a atual líder Mercedes Benz, com 22 mil. Os dados são da Fenabrave.

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