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Saques nos fundos multimercado chegaram a R$ 11,4 bilhões em julho, sinalizando mudança de atitude dos investidores. | Thomas Lohnes/AFP
Saques nos fundos multimercado chegaram a R$ 11,4 bilhões em julho, sinalizando mudança de atitude dos investidores.| Foto: Thomas Lohnes/AFP

Pela primeira vez no ano, os saques superaram as aplicações nos fundos multimercado — que se consagraram, no último período, como os novos “queridinhos” dos investidores. Na soma, foram retirados R$ 11,4 bilhões destes investimentos, no mês de junho. Fenômeno que pode ter reflexos ainda em julho, já que muitas carteiras pedem prazo de 30 dias para devolver o dinheiro aplicado.

No acumulado do ano o saldo ainda é positivo, de R$ 33,5 milhões. Os dados são da associação que representa as entidades do mercado financeiro (Anbima). Desde o início de 2017, quando a modalidade multimercado começou a ganhar fama, apenas em um mês (dezembro do ano passado) o saldo havia sido negativo.

INFOGRÁFICO: Confira a performance dos fundos multimercado nos últimos meses, e a comparação com outros tipos de investimentos

O saque foi grande. Mas não foge ao esperado. Diferentes setores da economia sentiram impactos negativos nos meses de maio e junho (que muitos atribuem à greve de caminhoneiros) e o mercado sentiu. Muitos fundos, inclusive, registraram perdas neste período. Mas isso não é uma regra.

Levantamento do site especializado Arena do Pavini, realizado com a ferramenta de fundos da Economática, indica que apenas seis gestores de multimercados conseguiram ter resultados positivos, em junho, na comparação com maio. O estudou levou em conta 26 carteiras consideradas grandes, com mais de R$ 1 bilhão.

Apesar da queda quase generalizada no mês de junho, o estudo indica que apenas quatro fundos acumulam saldo negativo no acumulado do ano. Outros 11 registraram ganhos, mas abaixo do CDI. O CDI é utilizado como um valor de referência para os multimercados.

São números que indicam que o resultado negativo pontual não é, nem de longe, suficiente para decretar a derrocada dos multimercados. Mas é um fenômeno que pode ter assustado investidores menos experientes, acostumados com uma série de resultados positivos nesta aplicação.

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“Com a volatilidade [do mercado] os fundos perdem um pouco, e esse investidor acaba ficando meio perdido. E acaba, em algumas vezes, resgatando” o dinheiro aplicado, avalia o diretor da Ativa Wealth Management, Arnaldo Curvello.

O gestor destaca que, até maio, “todos os ativos” do Brasil foram bem. “A bolsa melhorou, o real se manteve estável, as taxas futuro foram bem e, com isso, os fundos multimercado performaram muito bem. O investidor olha para esta realidade e monta uma carteira [com muito dinheiro aplicado nos multimercado] em função de [uma análise da economia em] um passado recente”. Da mesma forma, diferentes títulos sofreram um baque nestes últimos dois meses.

Vale lembrar que os saques em quantia superior às aplicações não são exclusividade dos multimercados. Na renda fixa, por exemplo, os saques no mês de julho chegam à marca de R$ 15,9 bilhões. No acumulado do ano, estas aplicações registram saldo negativo de R$ 21,8 bilhões — contra um saldo positivo de R$ 33 bilhões nos multimercado. O investimento em ações, que tem saldo positivo (R$ 18,6 bilhões) em 2018, também ficou no negativo em junho; os saques chegaram a R$ 1,8 bilhão.

É preciso ter estômago para a renda variável

A fuga de investidores pode indicar que muita gente aplicou seu dinheiro sem estar preparada para a emoção da renda variável, já que os fundos multimercado reinvestem o dinheiro em outras aplicações — e isto significa que é possível perder dinheiro com as operações.

Os multimercado se popularizaram em um contexto de queda de juros, que empurrou muitos brasileiros a saírem da zona de conforto da renda fixa. Ao longo de 2017, o número de investidores mais do que dobrou.

Só que esta é uma modalidade desaconselhável para investidores iniciantes. O temor de que aventureiros entrassem nessa onda, inclusive, fez com que a Anbima e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) aumentassem o cerco em cima das gestoras, para garantir que elas deixem claro ao cliente os riscos que ele corre.

Se o investidor já passou desta fase e entende que tem estômago para um multimercado, aí pode ir além na análise de quando retirar o valor investido. “Aí ele pode ir para um segundo estágio, que é questionar: será que meu gestor é eficiente? Vou conseguir ganhar do CDI de maneira sustentável para correr o risco que eu estou correndo?”, opina Curvello.

Manter ou não o dinheiro nos fundos multimercado?

A decisão de manter ou retirar o dinheiro de uma aplicação é muito pessoal. Se o investidor sente que está preparado para o multimercado, é importante estudar o produto e fazer uma análise mais apurada dos resultados e até do perfil dos gestores. Vale lembrar que este tipo de fundo deve ser apenas uma das apostas na cesta de investimentos.

Além disso, há diferentes tipos de fundos multimercado, alguns mais conservadores e, outros, mais arrojados. Embora, em tese, mais seguros que produtos de renda variável, esses fundos são mais arriscados que os fundos DI, por exemplo, tradicionalmente oferecidos pelos bancos.

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As informações básicas desses fundos vêm no prospecto divulgado ao mercado, também chamado de lâmina pelos gestores. É ali que estão detalhes como o nome do gestor, os ativos que o compõem, o histórico de rentabilidade e captação líquida, além do atual patrimônio líquido do fundo, entre outros aspectos. O ideal é sempre olhar o comportamento do fundo ao longo do tempo. Veja se houve instabilidade de ganhos ao longo do tempo, desempenhos positivos e negativos.

Para ter ideia se o fundo de determinada categoria é bom ou não, o investidor preciso compará-lo com o benchmark, ou indicador referência de cada tipo de ativo. No caso dos fundos multimercado, mesmo sendo compostos por um mix de ativos, o indicador mais utilizado é o CDI. Os analistas também recomendam que o investidor avalie, no mínimo, um período de três anos de cada fundo de multimercado de forma a escolher o melhor.

Como funcionam os fundos

De forma geral, os gestores vão aplicar o dinheiro em outros ativos (podem ser ações ou renda variável, por exemplo). São fundos que ficam na mão de um gestor (banco, corretora ou boutique de investimento), que vai, constantemente, buscar os melhores resultados. Há diferentes modelos de fundos (a Anbima lista 11).

E cada um destes investimentos está exposto em maior ou menor medida a eventos externos, como indicadores macroeconômicos e eventos políticos. Para completar, os gestores cumprem um papel importante de movimento o dinheiro de um lado para o outro — daí diferentes fundos terem resultados tão variados entre si.

À semelhança dos fundos de investimentos mais tradicionais, não contam com a garantia do FGC (Fundo Garantidor de Crédito), mas possuem um mecanismo de segurança que os protegem de simplesmente desaparecer: caso a gestora venha a quebrar, esse fundo vai a leilão e vai ser adquirido por outra instituição financeira, o que garantirá sua existência e o patrimônio ali contido. Também como os fundos mais tradicionais, os de multimercado também descontam o Imposto de Renda sobre os ganhos a cada semestre.

Custo dos fundos multimercado

Como exigem gestores mais ativos e qualificados, em geral têm uma taxa de administração mais cara que os fundos DI, por exemplo. Além disso, é cobrada uma taxa de performance dos gestores. “[O custo seria de] Uma taxa média de 1,5% ao ano mais uma taxa de performance de 20% sobre o que exceder [dos rendimentos] no período do CDI”, diz Indech. Exemplo: se o rendimento foi de R$ 1 mil e o CDI tenha rendido R$ 300 no mesmo período, os 20% da taxa de performance incidirão sobre R$ 700. A taxa de performance é cobrada após todos os outros descontos, como imposto de renda e taxa de administração.

Se um resultado negativo pontual — que pode, ou não, se repetir nos próximos meses — assusta o investidor que têm seu dinheiro aplicado.

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