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"A gripe elevou o nosso custo mensal em R$ 50 mil. Tivemos de instalar três ambulatórios móveis." José Octávio Leme, diretor da regional Sul do grupo Vita | Rafael Danielewicz
"A gripe elevou o nosso custo mensal em R$ 50 mil. Tivemos de instalar três ambulatórios móveis." José Octávio Leme, diretor da regional Sul do grupo Vita| Foto: Rafael Danielewicz

Regulação

Nova regra prevê correção anual para contratos coletivos

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) introduziu um novo complicador nas negociações dos planos de saúde coletivos, ao anunciar que as operadoras poderão reajustar seus preços apenas uma vez por ano. A prática atual prevê, em geral, três aumentos anuais, mas há seguradoras que elevam os preços trimestralmente.

A resolução 195, que deveria entrar em vigor ontem, teve seu início adiado por mais 60 dias, mas as empresas do setor dizem que a medida deve tornar "mais conservadoras" as conversas sobre preços. Elas alegam que terão um menor grau de previsibilidade sobre custos ao longo do ano e por isso a margem para negociação será menor.

Impactos

Em nota, a Federação Nacional de Saúde Complementar (Fenasaúde), que representa as seguradoras especializadas em Saúde, diz que o novo modelo traz mais segurança para o setor, mas também impactos operacionais, já que "exige ampla revisão e adequação dos produtos e dos contratos vigentes em um curto espaço de tempo".

Pelas novas regras, as operadoras, no entanto, continuam livres para aplicar o aumento que quiserem, o que foi criticado por defensores dos consumidores. Ao contrário do que ocorre nos planos de pessoa física – em que o teto de reajuste é determinado pela ANS –, nos contratos coletivos vale a negociação entre as partes. Os planos coletivos representam 72,5% do mercado.

Neste ano, as operadoras propõem reajustes que variam, em média, de 7% a 10%, podendo ser menor ou maior conforme a sinistralidade, ou o uso dos serviços. O reajuste está bem acima do que foi autorizado pela ANS em maio para os contratos individuais, de 6,76% para os próximos 12 meses.

Pelo novo modelo, as operadoras também estão proibidas de finalizar os contratos a qualquer momento e as que não se adaptarem às regras não poderão receber novos usuários. Nos últimos anos, grupos sem representatividade vinham ofertando planos baratos que, após captar usuários, sofriam grandes aumentos que impediam a manutenção dos clientes.

Para Guilherme Lorenzi, diretor da Saúde Ideal – com 30 mil clientes em Curitiba e região – a regulamentação é válida para acertar o setor e defender o consumidor, mas ele diz que teme que essas mudanças forcem uma concentração ainda maior do mercado, algo também prejudicial ao usuário. "Temos que ter um equilíbrio", completa. (CR)

As operadoras de planos de saúde já preveem reajustes mais salgados na renovação dos contratos com clientes por conta da pandemia de gripe A, também conhecida como gripe suína. De acordo com as empresas, o aumento do número de atendimentos de emergência e de internações elevaram os custos dos planos e cresce a tendência de repasse no próximo reajuste.

A gripe deve pressionar principalmente o segmento empresarial, cuja negociação é livre entre a operadora e as companhias e o reajuste é realizado no aniversário do contrato. No caso dos contratos individuais, o aumento é estipulado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), mas as operadoras querem que a entidade também compute os efeitos da doença nos repasses para o próximo ano.

Segundo a Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), o número de consultas e exames por causa da suspeita da nova gripe subiu até 30% em julho. "Os hospitais tiveram que reforçar o atendimento em ambulatórios, nos plantões e nos prontos-socorros. Esse custo terá que ser repassado", diz Arlindo de Almeida, presidente da entidade. Antes do boom da nova gripe, os reajustes dos planos empresariais tinham ficado, em média, entre 7% e 10%. Algumas operadoras calculam que a gripe poderá elevar esse índice entre três e quatro pontos porcentuais.

Com 434 mil clientes, a Unimed Curitiba registrou um aumento de 25% no volume de consultas em relação à média mensal, que é de 225 mil. Somente esse aumento significa um custo adicional de R$ 2 milhões, segundo o diretor geral, Sérgio Ossamu Ioshii. De acordo com ele, a intenção é tentar negociar um reajuste maior para compensar o aumento dos custos, mas Ioshii admite que espera uma discussão difícil devido ao atual cenário econômico, em que a redução de gastos virou a palavra de ordem das empresas.

A Amil, por sua vez, espera concluir dentro de 45 dias um levantamento dos impactos da gripe nos custos da operação. Segundo André Madureira, superintendente da Amil no Paraná – onde a empresa tem cerca de 220 mil clientes – houve um aumento de 35% no número de internamentos, de exames e consultas no pronto-atendimento. "Está claro que há uma pressão nos custos que deverá ser repassada. Mas o porcentual vai depender de cada contrato e do número de casos da doença em cada empresa", afirma.

A Amil investiu R$ 100 mil em ações ligadas à prevenção da gripe, como a impressão de folders, cartazes e informativos, além da criação de um serviço de 0800 para tirar dúvidas. De acordo com Cristiane Prado, diretora médica da Amil no Paraná, três unidades passaram a concentrar os atendimentos nessa área. "Optamos por cancelar algumas cirurgias eletivas para concentrar o atendimento nos casos de gripe", diz.

Volume

Muitos hospitais tiveram de improvisar mais ambulatórios para atender à procura de pessoas e a expectativa é que os volumes de internação se mantenham em patamares elevados até o fim e setembro. Na Amil, entre os casos de maior gravidade, 8% foram encaminhados à Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A operadora estima que cada internação com assistência respiratória 24 horas custa entre R$ 10 mil e R$ 12 mil por dia.

De acordo com o diretor da regional Sul do grupo Vita, José Octávio Leme, houve uma "explosão" de atendimentos nos prontos-socorros dos dois hospitais da empresa em Curitiba. No Vita Curitiba foram 1,2 mil atendimentos a mais – alta de 12% – e no Vita Batel cerca de mil novos atendimentos, crescimento de 24%. A situação obrigou a instalação de três ambulatórios móveis, montados em contêineres, e a contratação de mais oito técnicos e enfermeiros. "A gripe elevou o nosso custo mensal em R$ 50 mil", conta.

Margens

Para o presidente da Abramge, o setor opera com margens apertadas e o equilíbrio econômico-financeiro dos hospitais e operadoras precisa ser preservado. Ele admite, no entanto, que não será fácil negociar repasses dos custos em um ambiente econômico complicado.

O setor de saúde privada, que movimenta R$ 59 bilhões por ano e reúne 52 milhões de beneficiários no país, já enfrenta forte resistência das empresas na hora de negociar reajustes. Esse embate ganha força agora, já que a maior parte dos contratos empresariais tem aniversário no segundo semestre.

A crise econômica vinha pressionando os volumes de atendimentos porque muitos trabalhadores, por receio de perder emprego, anteciparam procedimentos. Quem foi demitido de empresas que mantiveram o plano de saúde válido por alguns meses também aproveitou para fazer exames, consultas e cirurgias. "Antes da gripe já estávamos com um aumento de 10% acima da média", afirma Ioshii, da Unimed Curitiba.

Guilherme Lorenzi, diretor do plano Saúde Ideal, diz que o volume de consultas no pronto-atendimento cresceu 10%, para 2.277, na comparação com o mesmo período do ano passado. Apesar do aumento, ele garante que ainda não há intenção de repassar esses custos para os próximos reajustes. "Mas ainda teremos que fazer os cálculos desse impacto, que só devem ficar prontos dentro de 30 dias", acrescenta.

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