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Usina de açúcar e álcool em Engenheiro Beltrão: para governo, setor sucroalcooleiro não foi capaz de segurar alta dos preços | Dirceu Portugal/ Gazeta do Povo
Usina de açúcar e álcool em Engenheiro Beltrão: para governo, setor sucroalcooleiro não foi capaz de segurar alta dos preços| Foto: Dirceu Portugal/ Gazeta do Povo

Relatório

Safra de cana é recorde

Aumento de 8,4% no tamanho da área plantada, instalação de novas usinas e clima favorável durante o desenvolvimento vegetativo renderam ao setor sucroalcooleiro uma safra recorde de cana-de-açúcar no ciclo 2010/11, com moagem de 624,99 milhões de toneladas, apontou ontem o terceiro levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Embora histórico, o número está 4% atrás da estimativa da estatal divulgada em setembro, que previa colheita de 651,5 milhões de toneladas. O volume atual é 3,4% superior em relação ao registrado em 2009/10.

A redução da estimativa nacional de setembro para dezembro está associada à escassez de chuvas em algumas regiões do Centro-Sul do país a partir de abril, pressionando os índices de produtividade. O rendimento final dos canaviais brasileiros ficou em 77,8 quilos por hectare, segundo a Conab, ante 79,7 quilos por hectare obtidos na safra passada.

O recorde de produção da safra atual é atribuído ao ganho de 757 mil hectares no terreno ocupado pela cana no último ano. Nesta temporada, o país destinou 8 milhões de hectares ao cultivo da gramínea, contra 7,4 milhões de hectares em 2009/10. O Paraná é o terceiro maior produtor nacional, com 582,3 mil hectares, atrás de Goiás (599,3 mil ha) e de São Paulo (695 mil ha). A instalação de dez novas usinas em seis estados também estimulou os produtores brasileiros no ciclo que acaba de se encerrar. De acordo com o relatório da Conab, três usinas foram construídas em Minas Gerais e duas em São Paulo e Goiás. Também receberam novas unidades de moagem de cana o Rio de Janeiro, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Cassiano Ribeiro

As seguidas altas no preço do álcool hidratado levaram o Ministério da Agricultura, Pe­­cuária e Abastecimento (Mapa) a organizar duas reuniões interministeriais para discutir a atual situação do abastecimento de etanol no país. Segundo o secretário de Produção e Agroenergia do Mapa, Manoel Bertone, está convocada para hoje reunião do Conselho Interministerial do Açúcar e do Álcool (Cima), que inclui também equipes dos mi­­nistérios do Desenvolvi­mento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Minas e Energia (MME) e da Fazenda, além de técnicos da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Na quarta-feira, o Mapa realiza mais uma reunião, desta vez com representantes da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica) e do Fórum Sucroalcooleiro, também para discutir a situação de abastecimento nos mercados de açúcar e álcool.

Segundo estimativas da Conab, o total de cana destinado exclusivamente à produção de açúcar aumentará 8,5% em 2010/11, em comparação com o período 2009/10, mas o volume de cana destinado ao etanol deve cair 0,5%. Ou seja, houve um nítido direcionamento da oferta de cana para a produção de açúcar (que encontra bons preços no mercado internacional), em detrimento da produção de etanol (voltado prioritariamente para o mercado interno). Apesar da redução da quantidade de cana destinada à produção de álcool, a produtividade no beneficiamento será melhor, permitindo expandir levemente a oferta final de etanol.

Álcool anidro

Bertone admite que os estoques de álcool anidro, que é adicionado à gasolina, são suficientes para suprir a demanda até o início da próxima safra e que, portanto, não há preocupações quanto a esse segmento. Não é sequer cogitada a hipótese de reduzir o índice de adição de álcool anidro à gasolina, atualmente no máximo permitido, de 25%. A legislação brasileira permite ao governo reduzir a até 20% o porcentual de álcool anidro adicionado à gasolina, mas essa hipótese não é necessária, ressalta o secretário. A produção de anidro na safra 2010/11 é estimada em 8,1 bilhões de litros, contra 6,9 bilhões de litros da safra passada, o que representa alta de 16,6%.

Em relação ao álcool hidratado, entretanto, a situação é adversa. "A oferta de álcool hi­­dratado não está conseguindo atender à demanda. No hidratado, no entanto, temos a flexibilidade do carro bicombustível, que é importante para equalizar a relação entre oferta e demanda neste segmento", disse o secretário, em referência ao preço elevado do álcool combustível para o consumidor final. A produção de álcool hidratado deverá atingir 19,6 bilhões de litros na safra 2010/11, contra 18,8 bilhões de litros na safra anterior. É uma alta de apenas 4,14%.

Açúcar

Em relação à priorização do beneficiamento do açúcar pela indústria, Bertone considerou ser um movimento regular, movido por tendências de mercado. "Tivemos um mercado internacional que demandou açúcar do Brasil. Açúcar é alimento, e o Brasil conseguiu responder. Um pouco mais de açúcar foi produzido, mas isso não foi um movimento anormal", declarou Bertone.

Embora ressalte que o governo não tem instrumentos para forçar o deslocamento da oferta de cana para a produção de álcool pelos agentes privados, o secretário do Mapa diz esperar "que o diálogo favoreça o entendimento". Segundo ele, a saída, no médio prazo, é o aumento dos investimentos, ou seja, a construção de novas usinas, o que permitirá ampliar a oferta do setor sucroalcooleiro. "Há quem possa dizer que o etanol está caro na bomba. Mas, se não fosse isso, não seria o açúcar que estaria mais caro?", questionou. Ber­tone destacou, ainda, que as ex­­portações de açúcar ajudaram o Brasil a aumentar as receitas cambiais, "ajudando o resultado da economia".

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