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A chanceler alemã, Angela Merkel, “venceu” ao conseguir que a iniciativa privada divida parte das perdas com a Grécia | John Thys/AFP
A chanceler alemã, Angela Merkel, “venceu” ao conseguir que a iniciativa privada divida parte das perdas com a Grécia| Foto: John Thys/AFP

Sobe e desce

Veja quem ganha e quem perde com o pacote de ajuda anunciado ontem:

Angela Merkel

Ganha ao emplacar participação privada.

Nicolas Sarkozy

Perde ao ter a proposta de taxar bancos derrubada.

Banco Central Europeu

Perde com calote seletivo.

Grécia

Ganha ajuda financeira, mas perde com sacrifícios que terá de fazer.

Países periféricos

Ganham com mudanças nas condições do fundo europeu de ajuda financeira.

Eleitores europeus

Perdem ao pagar a conta da participação da UE no acordo.

Investidores

Perdem por serem constrangidos a aceitar rolagem dos títulos, mas ganham em parte se não houver calote desordenado.

FMI

Perde porque teve papel periférico nas negociações com a Grécia.

Tira-dúvidas

Líderes europeus fecharam o segundo pacote de ajuda ao país. Tire as principais dúvidas em relação ao que foi anunciado:

Qual o tamanho do pacote?

O socorro financeiro adicional à Grécia será de de 173 bilhões de euros. A União Europeia arca com 71 bilhões de euros e os investidores privados, com 17 bilhões de euros.

Que outras medidas devem ajudar a Grécia?

Houve uma ampliação no prazo de pagamento de empréstimo da UE de 7,5 anos para 15 anos. Os juros do empréstimo da UE também foram reduzidos, de 4,5% ao ano para 3,5%. Além disso, serão criados fundos para o desenvolvimento da Grécia.

Há uma política unificada de austeridade fiscal?

Sim. O pacote determina que todos os países da zona do euro devem obedecer o limite de déficit de 3% do PIB até 2013, exceto aqueles com programa de ajuda (Grécia, Irlanda e Portugal) e a Espanha, que deve alcançar a meta em 2014.

É calote?

Os líderes da UE negam, mas as agências de classificação de risco deverão considerar o pacote como moratória, mesmo que temporária.

Resolve o problema grego?

No curto prazo sim porque permitirá à Grécia pagar suas dívidas e contas públicas. Mas uma recuperação da economia grega vai depender de ajustes estruturais e planos de desenvolvimento.

Os investidores vão aderir?

Provavelmente sim, porque, no futuro, as condições de renegociação para os que não aderirem devem ser piores.

Evita contágio?

Pela reação positiva dos mercados, o risco de contágio foi reduzido.

Nos EUA, democratas barram acordo

Washington - Quase 90 deputados republicanos assinaram ontem uma carta afirmando que não apoiarão uma proposta do líder da minoria republicana no Senado, Mitch McCon­nell, que concederia ao pre­­­­­­­­­sidente norte-americano, Barack Obama, poder para elevar o teto da dívida dos Estados Unidos.

A notícia da carta surgiu em meio a rumores de que Obama e o deputado republicano John Boehner, que preside a Câmara dos Representantes, estão perto de fechar um acordo sobre a questão do déficit orçamentário. Mas o entrave agora vem dos democratas. Líderes do Partido Democrata disseram que se opunham à proposta. Se esse suposto acordo fracassar ou não existir, uma das alternativas para a solução do problema da dívida seria a proposta do senador McConnell, que daria poder a Obama para elevar o teto da dívida em até US$ 2,5 trilhões e criaria um comitê no Congresso norte-americano com o objetivo de traçar um plano de redução do déficit fiscal que, após ser finalizado, deverá passar pela Câmara e pelo Senado sem ser modificado.

Caso signatários da carta mantenham suas posições, o Partido Republicano não terá o apoio de aproximadamente um terço de seus congressistas para a proposta de McConnell. O autor da carta, deputado Joe Walsh, disse que o plano do senador faz muito pouco pela redução do déficit orçamentário. "Não achamos que é um plano. Não temos interesse em elevar o limite de endividamento a não ser que haja uma reforma estrutural verdadeira" nos gastos federais, afirmou.

"Euforia" global faz Bovespa subir 1,9%

As bolsas de valores tiveram um dia de boas notícias como há muito tempo não se via nos mercados. No front externo, o investidor viu a perspectiva de um desfecho positivo nos imbróglios da Europa e dos EUA. E, internamente, a possível indicação de que o Banco Central está perto de encerrar o ciclo de alta dos juros domésticos também reforçou o bom humor generalizado. E em um mercado que amarga desvalorização de 15% desde o início do ano, não faltaram oportunidades para investidores que optaram pela ponta de compra.

Mas analistas ainda manifestam cautela para os próximos pregões. "Se eu fosse um investidor, deixaria para comemorar na terça ou na quarta-feira", diz analista da Banif Invest, Raffi Dokuzian. Para esse profissional, o baixo volume financeiro (menos de R$ 6 bilhões) ainda não autoriza enxergar uma possível "virada" dos mercados.

O Ibovespa, que reflete os preços das ações mais negociadas, ascendeu 1,93% no fechamento, retomando o patamar dos 60 mil pontos. O giro financeiro foi de R$ 5,6 bilhões. Nos EUA, o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, avançou 1,21%.

Na Europa, as principais bolsas encerraram os negócios com ganhos entre 0,8% (Londres) e 1,6% (Paris).

A "trégua" no sentimento de aversão a risco também ajudou a derrubar o dólar: a taxa de câmbio doméstica retrocedeu para o seu menor nível desde janeiro de 1999, para R$ 1,555 nas últimas operações do dia. A taxa de risco-país marcou 158 pontos, quase 4% abaixo da pontuação anterior.

Bruxelas - Líderes europeus reunidos ontem em cúpula extraordinária em Bruxelas, na Bélgica, aprovaram um programa de 159 bilhões de euros (R$ 355 bilhões) em ajuda à Grécia que provavelmente levará ao primeiro calote da história do euro.

O plano de 16 pontos se baseia em três pilares: ampliação de prazos e reestruturação de títulos, redução das taxas de juros para empréstimos e contribuição de investidores privados – esse último ponto, uma vitória da chanceler alemã, Angela Merkel.

Do pacote, 109 bilhões de euros são financiamentos oficiais – vindos de fundos da zona do euro, FMI e privatizações gregas. Os outros 50 bilhões de euros são contribuições "voluntárias" de credores privados – mas, na verdade, eles têm pouca escolha, uma vez que a alternativa é não receber nada do que investiram.

Pelo modelo desenhado, eles terão um menu com quatro opções de participação: três formas distintas de trocas de títulos e um plano de rolagem. A estimativa é de uma perda de 21% do valor líquido que detêm em títulos da dívida grega.

Além disso, empréstimos gregos no âmbito do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF, na sigla em inglês), terão o prazo estendido dos atuais 7,5 anos para o mínimo de 15 anos e o máximo de 30 anos, com um período de carência de dez anos. Os juros desses empréstimos caem de 4,5% para 3,5%. Essas condições também serão estendidas para Por­tugal e Irlanda.

Diante do potencial impacto sobre os mercados e o perigo de contágio, líderes europeus reforçaram a mensagem de que se trata de uma solução única para uma situação única. "A situação da Grécia é diferente da dos demais países e que por isso exige uma resposta excepcional", disse o presidente do Conselho Europeu, Herman van Rompuy. "O envolvimento do setor privado vai se limitar à Grécia e apenas à Grécia."

"Não acredito que os especialistas considerem que o que foi decidido hoje [ontem] vá provocar um acontecimento de crédito", disse o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet. Um "acontecimento de crédito" ocorre quando o calote de um país leva à ativação de contratos de seguro contra o risco de quebra desse país.

Agências

Ontem, porém, agências de qualificação de risco sinalizaram que devem considerar a situação grega como "calote seletivo", uma vez que, qualquer que seja a opção, o investidor terá perdas. A cúpula anunciou ainda um "tipo europeu de Plano Marshall" para estimular o crescimento da Grécia. "Criamos uma força-tarefa para dar assistência técnica e ajudar a implementar reformas", explicou o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso.

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Repercussão

Veja o que alguns analistas econômicos falaram sobre o pacote de ajuda à Grécia. Para eles, o pacote se restringiu aos gregos, e faltou uma política de ajuda mais clara para os outros países com problemas.

Inflação vai aumentarSimon Black, do site Sovereign Man

A proposta é tão deliberadamente vaga que os líderes europeus podem voltar para casa e falar aos constituintes o que bem entenderem. Angela Merkel pode falar aos eleitores alemães que os franceses vão pagar o resgate. [Nicolas] Sarkozy pode falar aos eleitores franceses que os alemães vão pagar. É um ganha-ganha. (…) A cada dia, torna-se cada vez mais evidente que o sistema financeiro como o conhecemos vai quebrar. Os Estados Unidos e a união monetária europeia, cujas moedas compõem a quase totalidade das reservas fiduciárias mundiais, vão, ambos, desvalorizar suas moedas. Isso vai elevar a inflação da mesma maneira que qualquer pessoa que detém um papel da dívida grega tentará comercializá-lo o quanto antes. Todo esse dinheiro precisa ir para algum lugar... e certamente boa parte vai alimentar o preço das commodities (o que se traduz em mais inflação).

E a Espanha? E a Itália?Megan McArdle, da revista The Atlantic

Mesmo que talvez esse pacote ajude a Grécia, e o resto da periferia da zona do euro? Para eles, esse plano é o equivalente a dizer: "A austeridade vai continuar até que o moral melhore". Os spreads dos títulos espanhois, italianos, portugueses e irlandenses não estão aumentando porque os investidores pensam que a Grécia precisa de uma conversão da dívida, ou porque os políticos de Bruxelas não fizeram anúncios o suficiente sobre as virtudes do corte no orçamento. Eles estão aumentando porque há dúvidas sobre se esses países – ou a Europa – têm os meios econômicos ou a vontade política para assegurar que os investidores serão pagos de volta. (...) Esse plano não respalda de forma adequada a Espanha e a Itália, cujos os títulos da dívida estão subindo de forma consistente; nem sequer há uma tentativa disso. Mas essa sempre foi a verdadeira ameaça para a zona do euro, e não um calote grego.

Foi poucoThe Economist

O compromisso impressionante para manter a Grécia em pé ainda não foi acompanhado por um compromisso de reestruturar as dívidas da Irlanda e Portugal, que provavelmente também estão insolventes. A falha em aumentar os recursos do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (EFSF, na sigla em inglês) pode reduzir o impacto do plano sobre a confiança nos bancos europeus e na determinação para deter o contágio. E a vaga parte "Plano Marshall" do programa é o único aceno para uma perspectiva de crescimento em toda a periferia europeia. De fato, o acordo reafirma o compromisso da zona do euro para a redução rápida do déficit em 2013. A combinação de austeridade em escala continental e uma postura "falcão" do Banco Central Europeu (BCE) vai assegurar que o crescimento da zona do euro permaneça lento ou negativo nos próximos anos. Isso, por sua vez, vai tornar bastante difícil a vida dos países periféricos, aumentando as chances de que as metas estabelecidas não sejam cumpridas – e que as performances decepcionantes criem novas crises de confiança nos mercados.

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