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Guerra comercial EUA e China
| Foto: Bigstock

Um acordo para pôr fim à guerra comercial entre a China e os Estados Unidos, iniciada em 2018, nunca esteve tão próximo. O presidente americano Donald Trump disse que as negociações estão em andamento. E os respingos podem ser sentidos pelo agronegócio brasileiro, devido a uma cláusula em negociação que prevê a compra chinesa de US$ 50 bilhões em commodities americanas.

“Seria melhor para o Brasil que não houvesse um acordo”, disse o presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), José Augusto de Castro.

Com o acirramento das tensões entre as duas maiores economias mundiais, a China passou a priorizar a compra de commodities agrícolas brasileiras. No ano passado, segundo o Ministério da Economia, as exportações de soja para a China atingiram US$ 27,2 bilhões, 34,1% a mais do que no ano anterior.

É justamente a oleaginosa que deve sentir os maiores impactos do provável acordo. O economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, vê espaço para uma redução na demanda chinesa pela soja brasileira. O produto é o principal da pauta de exportações. Nos nove primeiros meses do ano, a oleaginosa respondeu por 27,27% das vendas ao exterior.

As vendas de soja para a China caíram para US$ 16,1 bilhões nos nove primeiros meses do ano, 26,4% a menos em relação a igual período de 2018. E podem cair mais, impactando no dólar. "Menos compras de soja por parte da China significa menos entrada de dólares no Brasil, aumentando a pressão sobre o câmbio", diz o economista.

Reverter o cenário não vai ser fácil no curto prazo, avalia Perfeito. "O Itamaraty vai ter de rebolar." O economista aponta que o país vai precisar ser persistente e fazer muito lobby para conseguir novos clientes para o produto brasileiro.

Outro produto que pode ser afetado, mas mais no médio prazo, é a carne suína. As exportações para lá estão em alta por causa de uma epidemia de peste suína africana, que está dizimando os rebanhos chineses. Nos nove primeiros meses do ano foram vendidos US$ 361,1 milhões, 56,3% a mais do que no mesmo período de 2018.

“No momento, as importações chinesas estão em um ritmo muito acelerado por causa da demanda existente. Eles estão comprando de muitos países”, diz Juliana Ferraz, analista do mercado de carnes suína e de aves do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq-USP).

Questões eleitorais por trás do acordo na guerra comercial

Castro aponta que a decisão de Trump está relacionada à campanha eleitoral do próximo ano nos Estados Unidos. “A guerra comercial impactou diretamente nos produtores rurais americanos, que foram fundamentais para a vitória dele em 2016.”

O head de renda variável da Messem Investimentos, William Teixeira, acredita que, nos próximos meses, as investidas de Trump em relação à China devem arrefecer. "Os Estados Unidos não podem parar de crescer agora. Isto teria impactos na campanha eleitoral." A tendência, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI) é de uma perda no ritmo de crescimento da maior economia mundial, pelo menos até 2022. Para o próximo ano, a projeção é de uma expansão de 2,1%.

Mas não é só isso que está em jogo. “A questão agrícola é só uma das problemáticas na guerra comercial”, diz o economista da Necton.

Outra frente de batalha é a tecnologia 5G para telefonia celular, da qual a chinesa Huawei é uma das principais fornecedoras de soluções. A empresa vive às turras com Trump, que a acusa de espionagem. O leilão das concessões, no Brasil, está previsto para março.

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