• Carregando...

Importar é o que importa para o economista Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e diretor da empresa de gestão de recursos Rio Bravo Serviços Financeiros. O câmbio apreciado, que incomoda produtores agrícolas e exportadores de mercadorias têxteis, calçados e artefatos de madeira, só vai ser resolvido com medidas que equilibrem a balança comercial brasileira.

"O problema é apenas comercial. Não se pode ter um superávit de mais de US$ 40 bilhões e um câmbio favororável ao mesmo tempo. Alguém vai ter de pagar essa conta", resume. De janeiro a julho de 2006, as exportações brasileiras somaram US$ 74,5 bilhões. As importações ficaram em US$ 49,3 bilhões. O saldo foi de US$ US$ 25,17 bilhões. Nos últimos 12 meses, o superávit passa de US$ 45 bilhões. Em vez de apostar em providências no âmbito do comércio, no entanto, o governo federal criou um pacote que inclui a possibilidade de o importador deixar fora do país o dinheiro proveniente de suas vendas, uma idéia que o economista considera inócua.

Franco pode falar de cátedra sobre desequilíbrio cambial. Ele pilotou a cadeira de Assuntos Internacionais do Banco Central de 1993 a 1997, período em que o real chegou a valer mais do que o dólar. E foi presidente da instituição de agosto de 1997 a início de março de 1999. Criticado por empresários de várias áreas, que o acusam de ter-lhes roubado a competitividade, e acossado pelo próprio mercado, que lançou ataques especulativos contra a moeda, ele deixou o cargo e foi sucedido por Francisco Lopes – aquele que tentou fazer uma desvalorização controlada da moeda usando uma fórmula batizada de "banda diagonal endógena", que acabou por levar o real a perder valor rapidamente.

Hoje, como nos tempos em que Franco estava no BC, o real ganhou força porque há muita entrada de dólares no mercado brasileiro. "No meu tempo esse excesso de divisas foi provocado pela entrada de capitais, tanto que ensejou políticas de restrição aos investimentos de curto prazo. Hoje a questão é diferente – e, na minha opinião, mais fácil de resolver." Bastaria, para o economista, cancelar barreiras diretas e indiretas à importação. Uma decisão, portanto, que estaria na alçada dos ministros da Fazenda, do Desenvolvimento e até da Vigilância Sanitáia (que determina algumas barreiras não-tarifárias), e não na área do Banco Central.

Uma política de elevar as importações poderia gerar queixas de alguns setores industriais, que enfrentariam um aumento na competição interna. Mas teria suas vantagens. No início do Plano Real, a entrada de produtos importados baratos foi um dos fatores que permitiram a queda da inflação. Desta vez não seria diferente. "A concorrência com importados tem um aspecto interessante. Ela favorece o consumidor e não destrói empregos, apenas faz com que eles mudem de lugar", diz. No passado, o o dólar barato dos anos 90 levou as empresas têxteis a deixarem São Paulo e se estabelecerem no Nordeste, onde o custo de produção era mais baixo. "Para São Paulo não teve graça, mas para o Nordeste foi muito bom, e aquela é uma região carente em investimentos. É interessante, mas doloroso. Economia implica em escolher entre alternativas desagradáveis, e um dos problemas desse governo é que ele é incapaz de fazer escolhas."

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]