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Indicadores econômicos mostram que o pior da crise provocada pela pandemia do coronavírus já passou.
Trabalhador em indústria metal-mecânica: indicadores econômicos mostram que o pior da crise já passou.| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo/Arquivo

O governo avalia que o pior da crise econômica causada pela pandemia do novo coronavírus já passou e que há sinais de recuperação, mesmo em meio à extensão de algumas medidas de isolamento social.

Um conjunto de dados leva à equipe econômica a crer que o fundo do poço foi em abril. Segundo o governo, a partir de maio os indicadores vêm melhorando gradualmente, em especial em junho e julho, quando alguns resultados foram melhores até mesmo em relação aos mesmos meses de 2019, quando não havia crise.

“Enquanto abril [de 2020] foi o mês de queda mais pronunciada, os meses seguintes já apresentaram recuperação, indicando que a velocidade de retomada tende a ser maior que a prevista anteriormente”, informa a Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia, na edição de julho do Boletim Macrofiscal, divulgado há poucos dias.

Os resultados melhores do que o esperado em maio e, principalmente, em junho e na prévia de julho levaram o governo a manter a sua projeção de queda para a economia neste ano em 4,7%. As estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) são revisadas a cada dois meses, a partir de março, e havia a expectativa que a projeção fosse alterada, em virtude da extensão do isolamento social no Brasil.

A equipe econômica entendeu, contudo, que não seria necessário rever sua avaliação diante dos dados positivos da atividade econômica. O otimismo do governo, porém, ainda não é acompanhado pelas instituições financeiras, que acreditam que o tombo da economia neste ano será bem maior que 4,7%.

Segundo o último Boletim Focus, o mercado financeiro prevê uma queda de 6,10% do PIB em 2020. Já a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o clube dos países ricos do qual o governo quer fazer parte, calcula que o PIB brasileiro vai ter uma retração de 7,4%. Mais pessimistas ainda são o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Eles projetam queda de 8% e 9,1%, respectivamente.

Vamos surpreender o mundo, promete Guedes

O ministro da Economia, Paulo Guedes, e sua equipe contestam veemente esses números. "Quem fez projeções de queda acima de 6,5% do PIB terá que rever para baixo as suas projeções. Nas próximas semanas vamos ver muitos agentes fazendo revisões de suas projeções", disse o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida, em coletiva de imprensa na última quarta-feira (15).

“Estamos nos levantando. Essas previsões são totalmente descredenciadas, como a queda do PIB em 10%, prevista no início da pandemia”, disse o ministro Guedes em entrevista à rádio Jovem Pan.

“Os sinais vitais do Brasil estão preservados. É como um urso que entrou em hibernação: está apenas no modo de economia de energia; vai se levantar e começar a andar de novo. Vamos surpreender o mundo”, completou, afirmando que a recuperação será em V (queda rápida e profunda, seguida de uma recuperação rápida e intensa).

Os indicadores que animam o governo

A visão otimista do governo é influenciada por um conjunto de indicadores, segundo dados de mercado reunidos pela Secretaria de Política Econômica (SPE) da pasta e fornecidos à Gazeta do Povo.

1. Venda de papelão ondulado

O primeiro dos indicadores que mostra a retomada econômico é a venda de papelão ondulado, um dos principais “termômetros” para indicar aquecimento ou retração da economia. Esse tipo de papelão é usado para embalagens. A alta nas vendas sinaliza um retorno da produção e das vendas e, consequentemente, retomada da economia. Isso porque o papelão é usado por outras indústrias para embalar seus produtos. E, quando há mais compra dele, significa que a indústria aumentou a produção.

Em junho, na série com ajuste sazonal, a expedição de papelão ondulado aumentou 5,7% na comparação com junho de 2019 e 12% em relação a maio de 2020, de acordo com dados prévios da Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO) levantados pela SPE.

Junho é o primeiro resultado positivo de venda de papelão ondulado após dois meses de queda influenciada pela redução da atividade econômica durante a pandemia.

Elaboração: SPE/ME
Elaboração: SPE/ME

2. Setores da indústria

Além do papelão ondulado, também houve crescimento em diversos setores da indústria em junho. A fabricação de bebidas cresceu 21,38% em junho de 2020 na comparação com o mesmo mês de 2019; a fabricação de máquinas e equipamentos, 15,15%; produtos de metal (exceto máquinas e equipamentos), 13,04%; produtos minerais não metálicos, 6,12%; celulose e papel, 3,8%.

Os dados foram levantados a partir de documentos fiscais eletrônicos emitidos nos estados. Os percentuais são em relação a junho de 2019.

Elaboração: SPE/ME
Elaboração: SPE/ME

3. Licenciamento de caminhões

Em dados preliminares de julho, houve um crescimento de 11% no licenciamento de caminhões na comparação com o mesmo mês de 2019, na série com ajustes sazonais feita pela SPE a partir de dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).

O indicador é importante porque, segundo a SPE, está relacionado com a retomada dos investimentos, ou seja, muitas empresas estariam aumentando suas frotas para transporte de mercadorias mesmo em meio à crise sanitária.

Elaboração: SPE/ME
Elaboração: SPE/ME

4. Consumo de energia elétrica

O quarto indicador usado pela equipe econômica para justificar o otimismo do governo com a retomada antes do esperado é o consumo de energia elétrica. Dados preliminares de julho apontam alta de 2% na comparação com o mesmo período de 2019, o primeiro mês desde o início da pandemia em que deve haver uma alta no consumo.

A informação foi extraída de dados da Operadora Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

5. Motocicletas

Segundo informações da SPE a partir de dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), a produção e a venda de motocicletas no mercado interno praticamente zeraram em abril, no auge da crise. Já em junho, a produção e a venda voltaram a níveis anteriores à crise causada pelo coronavírus.

Elaboração: SPE/ME
Elaboração: SPE/ME

6. Notas fiscais eletrônicas

Segundo a Receita Federal, a emissão de notas fiscais eletrônicas também retornou em junho e julho a patamares anteriores à crise. Houve uma queda acentuada em abril, tanto em quantidade, quanto em valor, seguida de uma recuperação acentuada.

Por exemplo, as vendas registradas por meio de notas fiscais eletrônicas cresceram 10,3% em junho em relação a junho de 2019, com uma média diária de R$ 23,9 bilhões.

Elaboração: SPE/ME
Elaboração: SPE/ME

7. Bens não duráveis

Movimento semelhante foi visto também no setor de bens não duráveis, de acordo com o Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA). A venda do setor cresceu 3% neste começo de julho em comparação ao período anterior a pandemia. É a primeira alta desde abril, quando o setor atingiu o fundo do poço.

Elaboração: SPE/ME
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