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Veja a situação da indústria do Paraná |
Veja a situação da indústria do Paraná| Foto:

Queda no comércio exterior puxa indicador para baixo

Agência Estado

Rio de Janeiro - A forte retração no mercado internacional em consequência da crise está sendo devastadora sobre os resultados industriais brasileiros em 2009. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), diversos setores que apresentam queda brusca na produção têm uma ligação direta com as exportações. Levados em conta os dados de janeiro a maio, esse é o caso da extração de minério de ferro, que diminuiu 35,4% em relação a 2008, das atividades siderúrgicas, que desabaram 40,7% no período, e do setor automotivo (incluindo caminhões e autopeças) que caiu 24,7%.

"O IBGE não tem como quantificar exatamente o efeito da perda de mercado externo para a produção industrial, mas é evidente que há um papel relevante das exportações na queda da produção este ano", observou o economista da coordenação de indústria do instituto, André Macedo.

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) contabilizou as perdas – levando em conta os dados do primeiro quadrimestre do ano – e concluiu que, apenas com os efeitos da queda nas exportações, a produção nacional vai cair 5,6% em 2009. Juntando-se os efeitos indiretos (como o menor uso de insumos para produtos exportados), o recuo na produção da indústria do Brasil atingirá 8,8%.

Focus

O relatório Focus do Banco Central divulgado ontem mostra que os analistas de mercado esperam uma queda de 5,37% na produção industrial deste ano. Essa perspectiva leva em conta os efeitos de amortização que mercado interno pode ter sobre a retração forte nas vendas para o exterior.

O diretor do Departamento de Economia da Fiesp, Paulo Francini, observa que "felizmente, o mercado interno está segurando um pouco as pontas, mas isso será, provavelmente, insuficiente para compensar as perdas com as exportações. Seria necessário um crescimento muito maior do mercado doméstico".

Francini diz que cerca de 20% da produção brasileira é exportada. Em alguns segmentos, como produtos de madeira, a fatia das vendas externas no total produzido chega a 42,7%. Segundo o economista, as exportações de produtos industrializados caíram, em dólares, 28,1% no primeiro quadrimestre de 2009. "É a exportação que está derrubando a indústria nessa magnitude. A capacidade de agir sobre as exportações é muito mais limitada do que no mercado interno, é difícil agir sobre a demanda internacional de aço, por exemplo", afirma. Para ele, sobretudo por causa da dificuldade nas vendas externas, "a indústria é infelizmente o ninho sobre o qual veio se abrigar o pássaro da crise".

A produção industrial do Paraná registrou o terceiro resultado negativo consecutivo e caiu 4,1% em maio em relação a abril, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em relação a maio do ano passado, a queda ficou em 11,9%, o pior resultado desde janeiro de 2000, quando havia sido apurada uma redução de 13,2% nessa mesma base comparativa.

A indústria paranaense dá sinais de desaceleração mais forte justamente em um momento em que o resultado nacional começa a melhorar. De acordo com o IBGE, a produção industrial brasileira cresceu 1,3%, com avanço em oito das 14 regiões pesquisadas em maio na comparação com abril.

De janeiro a maio, a indústria do Paraná acumula queda de 3,7%. "O Paraná foi afetado pelo fraco desempenho de setores como a produção de veículos automotores, máquinas e equipamentos e celulose e papel", diz Denise Cordovil, economista da coordenação de indústria do IBGE. "Os setores que vinham puxando o desempenho no ano passado são agora os que derrubam o índice", afirma.

Dos 14 segmentos pesquisados no Paraná, 11 tiveram resultado negativo em relação a maio do ano passado. Entre as principais contribuições negativas estão a produção de veículos automotores, que caiu 25,4% na comparação com maio do ano passado, influenciada principalmente pelo segmento de caminhões. A Volvo, com fábrica da Cidade Industrial de Curitiba (CIC), reduziu em 39% a produção de janeiro a maio na comparação com igual período do ano passado e hoje monta 51 caminhões por dia entre pesados e semipesados, contra 79 no período pré-crise.

Na pesquisa por setor industrial não é possível fazer a comparação com o resultado do mês anterior (abril). "Na análise por segmento a única comparação possível é com o mesmo período do ano passado. E é preciso considerar que a base de comparação, de maio de 2008, era muito alta porque a economia estava crescendo", lembra Denise.

Para o IBGE, a queda na produção do setor de veículos revela que as montadoras ainda estavam com estoques muito elevados e o ritmo de retomada é lento, mesmo com as medidas de incentivo do governo para estimular as vendas, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

Papel e celulose

Outro setor que puxou a produção para baixo foi o de celulose e papel, com queda de 17,4%. "Esse segmento foi afetado principalmente pela redução da produção de papel jornal", afirma Denise. A norueguesa Norske Skog, única fabricante de papel jornal do país, suspendeu por um mês a produção na sua fábrica, localizada em Jaguariaíva (Norte Pioneiro), para ajustar o ritmo de fabricação à redução da demanda. A gerente de marketing, Carolina Ribeiro, diz que deixaram de ser produzidas 12,5 mil toneladas de papel em maio.

Pressionada pela queda na demanda interna e nas exportações, a indústria de móveis reduziu em 16,7% a produção. Segundo Valdecir Tudino, presidente do Sindicato das Indústrias de Móveis de Arapongas (Sima), o consumidor vem trocando a compra do móvel pela de outros produtos que tiveram redução de IPI, como automóveis e eletrodomésticos de linha branca, o que derrubou as vendas e elevou os estoques. Além disso, medidas protecionistas da Argentina – segundo maior destino do móvel brasileiro – também afetaram as exportações.

Em direção oposta estão os setores fortemente vinculados ao mercado interno, como o de metais não metálicos – usados como insumo na construção civil – cujas vendas cresceram 6%, no embalo do aquecimento do mercado imobiliário. Os setores de bebidas e refino de petróleo e álcool foram as outras duas contribuições positivas, com avanço de 1,7% e 1,6%, respectivamente.

Edição e impressão

O IBGE também mostra uma mudança nos rumos do setor de edição e impressão, que vinha sustentando o resultado industrial do Paraná no início do ano. Depois de registrar forte crescimento, a produção caiu 9% em maio. De acordo com o presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf) no Paraná, Sidney Paciornik, agora o setor começa a sentir os efeitos da desaceleração econômica. Para Denise Cordovil, do IBGE, a redução também reflete o fim de algumas encomendas de livros didáticos por parte do governo, que sustentaram a venda do setor nos últimos meses.

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