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As intenções de compra do consumidor e as expectativas da indústria para 2009 parecem estar em trajetórias distintas. Enquanto o consumidor parece mais pessimista para o ano que vem, com previsão de um cenário menos favorável para a economia, a indústria continua operando em patamares elevados de capacidade, e se preparando para uma demanda crescente no próximo ano. Analistas da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e Fundação Getúlio Vargas (FGV) alertam para uma possível desarmonia entre as expectativas do consumidor e as da indústria Entretanto, economistas da Fecomercio-RJ e da Confederação Nacional da Indústria (CNI) apostam em uma continuidade da demanda no mercado interno em 2009, sustentável com o aumento projetado de capacidade.

O ex-diretor do Banco Central e economista-chefe da CNC, Carlos Thadeu de Freitas, destaca que, em meados deste ano, todas as principais instituições apontaram um elevado uso de capacidade na indústria. Em sua Sondagem da Indústria da Transformação, a FGV informou que, em agosto, a indústria operou com 86,5% de sua capacidade - o maior nível do ano, e o mais elevado patamar para um mês de agosto, nos últimos dois anos. "Pode ser que esteja ocorrendo um descompasso entre as expectativas do consumidor e as da indústria", alerta.

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), cujos associados respondem por 40% da produção do setor no País, aponta um índice de 84,2% de uso da capacidade ocupada em julho, o maior desde 2003. Já a utilização de capacidade mensurada pela CNI ficou em 83,3% em junho, a maior da série histórica (que começou em 1992, mas foi reformulada no ano passado, tendo sido recalculada retroativamente até 2003). "Talvez a indústria esteja olhando para trás, para o que ocorreu no passado (com demanda alta) e partindo de um pressuposto de que a demanda vai continuar crescente em 2009", diz Freitas.

Na análise de Freitas, há fatores que sugerem um cenário oposto para o ano que vem. Ele lembra decisões do governo e do BC de promoverem medidas para conter o crescimento do consumo e, com isso, deter o avanço da inflação, bem como a expectativa de uma desaceleração do PIB mundial a partir do ano que vem. "Todos sabem que os efeitos de elevação de juros só são sentidos bem depois da decisão do BC", diz ele, destacando que os impactos dos aumentos na taxa básica de juros (Selic) deste ano só serão sentidos no mercado, de forma expressiva, em 2009. Isso, na avaliação do economista da CNC, pode conduzir a um patamar menor de consumo, em relação ao que foi registrado em 2008.

Houve um freio no otimismo do consumidor, identificado em recorte especial da FGV feito com base em dados da Sondagem das Expectativas do Consumidor. O levantamento, que leva em conta um universo de 2 mil domicílios, revelou que 49,8% dos pesquisados esperam crescimento econômico mais intenso, nos próximos cinco anos, do que o mostrado nos cinco anos anteriores. Embora este resultado seja considerado positivo, o porcentual é o primeiro abaixo de 50% para essa pergunta, e inferior aos resultados apurados em 2006 (54,1%); e em 2007 (53,2%).

O coordenador do Núcleo de Pesquisas e Análises Econômicas do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre/FGV), Aloísio Campelo, admite que o consumidor já esteve mais confiante e com maior apetite de compras. Em agosto deste ano, 28,7% dos entrevistados planejavam aumentar o volume de compras de bens duráveis, nos próximos seis meses. Esse porcentual já foi maior, em agosto de 2007 (31%) e em agosto de 2006 (34,1%). Uma das explicações apontadas pelo responsável pela pesquisa é de que o cenário de juros altos em 2008, e de inflação elevada no setor de alimentos acabou por reduzir o otimismo do consumidor em suas projeções para o próximo ano.

Para o economista da Fecomercio-RJ Christian Travassos, a demanda interna ainda tem fôlego para se sustentar, embasada pelos bons resultados de emprego e de renda. Ele lembra que houve um número muito expressivo de aumento de empregos com carteira assinada, que gera uma renda estável e de longo prazo, com condições de sustentar a demanda doméstica em 2009. Além disso, Travassos cita o crédito como um dos pilares de sustentação para o consumo. Na opinião do economista, a expansão do crédito ainda tem força, visto que representa uma fatia ainda pequena do PIB, de apenas 37%. "Outros países têm uma participação muito maior do crédito no PIB. Não acho que isso esteja saturado", avalia Travassos.

Durante divulgação da pesquisa Indicadores Industriais CNI, referente a junho, o economista da confederação Paulo Mol afirmou que a utilização da capacidade instalada em porcentuais elevados não é motivo de preocupação para a indústria. "Não se faz investimentos se você tem perspectivas de ociosidade na produção. A manutenção da UCI em alta é um indicador de que há formação bruta de capital fixo e um estímulo ao investimento no Brasil", afirma Mol.

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