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Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

"O Brasil tem um dos maiores potenciais do mundo para a produção de pescados. Produzimos 1,5 milhão de toneladas por ano e temos condições de produzir 30 milhões no longo prazo". A afirmação é de Altemir Gregolin, ex-ministro da Pesca e Agricultura, professor da Fundação Getúlio Vargas e presidente International Fish Congress & Fish Expo Brasil (IFC), que destaca as condições naturais do país entre as justificativas. "Temos a maior reserva de água doce do mundo, produzimos milho e soja, que são a base para a produção de rações, e temos um clima favorável", completa.

Para que todo este potencial seja explorado, no entanto, a piscicultura precisa organizar e otimizar sua cadeira produtiva, e tem no modelo de sucesso adotado na produção de frangos um horizonte a ser seguido.

Baseado na chamada integração vertical, o modelo une produtores e distribuidores, que passam a trabalhar em conjunto com o objetivo de trazer mais eficiência e qualidade à produção. No caso dos peixes, por exemplo, o distribuidor entrega ao produtor o alivino, a ração e a oferta de assistência técnica especializada para orientar a produção. Quando os animais estão prontos para o abate, ele também faz a despesca, o processamento e a distribuição dos cortes ao mercado. Desta forma, garante-se não apenas a melhora da eficiência e da rentabilidade para ambas as pontas da cadeira produtiva, como mais qualidade e padrão à proteína, que chega ao consumidor com preços mais atrativos.

"Este modelo é vantajoso porque nela a indústria coordena todo o processo, e não há produção pulverizada. Há a entrega de insumos de qualidade para a produção, que é feita de acordo com os parâmetros de exigência em termos de desempenho, como conversão alimentar e peso de entrega. O abate se dá na mesma indústria, que tem uma rede de distribuição para fazer com que o produto chegue ao consumidor. Isso faz com que o acesso ao mercado fique mais barato", detalha Gregolin.

É o que ocorre na Copacol, por exemplo. Há 11 anos a cooperativa foi pioneira na implantação de um sistema integrado para a produção de tilápia no Brasil e, atualmente, processa 120 toneladas de peixe vivo por dia. "Investimos neste modelo para viabilizar a produção do pequeno produtor, que não tinha para quem vender quando os peixes estavam prontos para o abate, ou os comercializava a qualquer preço", lembra Valdemir Paulino, superintendente Comercial da Copacol.

Outra cooperativa que aposta no modelo é a C.Vale, que em 2018 colocou em funcionamento um dos maiores abatedouros de peixes do país dentro do modelo integrado de produção.

Potencial é grande, mas ganho de escala esbarra em entraves além da produção

Os potenciais relativos ao ganho de escala da piscicultura vão além das condições climáticas e naturais do país. Nos últimos dez anos, o consumo interno de pescado passou da média de 6,5 Kg para 10 Kg per capita por ano, estimulado pela maior preocupação da população em relação ao consumo de proteínas mais saudáveis. Apesar de positivo, o número está distante da média mundial, que é de 20 Kg/ano por habitante.

"Eu diria que o setor está decolando. Temos um longo caminho pela frente. Ainda importamos 40% do pescado que consumimos internamente, e nossa participação no mercado mundial corresponde a 1%, com a exportação de 30 mil toneladas/ano", avalia Gregolin.

Para dar conta de responder à demanda interna e ganhar mercado externo, o modelo integrado verticalizado de produção é uma ferramenta, mas não a única chave para garantir o crescimento. Questões relacionadas à pesquisa e desenvolvimento tecnológicos voltadas à produção e ao abate garantiriam a diversificação de produtos e subprodutos, como ocorre nas cadeias suína e do frango, e contribuiriam para a redução dos custos de produção, como lembra o ex-ministro da Pesca e Agricultura.

"O custo de produção ainda é um dos principais entraves para o setor de pescados. Ele é 100% superior ao da produção de frango, por exemplo, o que com que não tenha competitividade lá fora", aponta Paulino.

A necessidade de uma cultura de consumo, que contribuiria para que o preço final cobrado do consumidor se aproximasse ao do frango e da carne suína, e de sistemas de incentivo à piscicultura por parte do governo federal são outros pontos levantados por Gregolin.

" O Brasil precisa apostar na produção de pescado como uma questão estratégica para o país, econômica, social e ambientalmente. Precisamos de um sistema de incentivo em termos de crédito e assistência técnica. A regulamentação precisa dar mais segurança jurídica ao produtor, especialmente nas questões relacionadas às licenças ambientais. Há um conjunto de ações voltadas não somente ao processo de produção que precisam ser resolvidas para consolidarmos o Brasil como grande produtor mundial de pescados", destaca o ex-ministro.

Paulino, por sua vez, é um pouco mais cauteloso. Na opinião dele, o fomento à produção é importante, mas só será válido se vier acompanhado de um potencial mercado consumidor. "Os empresários e o governo precisam atentar, também, para como escoar esta mercadoria", sinaliza.

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