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| Foto: LLUIS GENE/AFP

Nós temos ouvido há décadas previsões sobre como a inteligência artificial (AI, da sigla em inglês) vai dominar o mundo. Em 1957, Herbert A. Simon previu que, em 10 anos, um computador seria campeão mundial de xadrez – o que acabou não acontecendo até 1996. E apesar da afirmação de Marvin Minsky em 1970 de que “em três ou oito anos nós teremos uma máquina com a mesma inteligência de um ser humano comum”, ainda consideramos algo do tipo uma façanha restrita aos filmes de ficção científica.

Os pioneiros da inteligência artificial certamente estavam equivocados quanto ao timing de suas previsões, mas não estavam errados; a AI está chegando. Ela estará em nossos aparelhos de TV e guiará nossos carros; será nossa amiga e assistente pessoal; tomará o lugar dos nossos médicos. Tem havido mais avanços em inteligência artificial nos últimos três anos do que nas três décadas anteriores.

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Mesmo as empresas líderes em tecnologia, como a Apple, têm sido pegas de surpresa quanto à rápida evolução da machine learning, tecnologia por trás da inteligência artificial. Em sua recente conferência de desenvolvedores, a Apple abriu seus sistemas de AI para que desenvolvedores independentes possam criar aplicações para rivalizar com as já oferecidas pelo Google e Amazon. Em resumo, a Apple está tentando recuperar o tempo perdido.

A inteligência artificial do passado usava força bruta computacional para analisar dados e apresentá-los de uma maneira que parecia humana. O programador abastecia a inteligência na forma de árvores de decisões e algoritmos. Imagine que você estava tentando construir uma máquina capaz de disputar o jogo da velha. Você daria a ela regras específicas para dizer quais movimentos fazer e então a máquina seguiria esses comandos. Foi essencialmente desta maneira que a IBM, por meio do projeto Big Blue, venceu o mestre do xadrez Garry Kasparov in 1997: usando um supercomputador para calcular todos os movimentos possíveis mais rapidamente do que o adversário humano seria capaz.

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Hoje em dia, você pode recorrer à machine learning para mostrar à inteligência artificial jogadas de partidas anteriores e deixar que ela aprenda por meio desses exemplos. O computador é orientado para saber o que aprender e como aprender e então toma suas próprias decisões. Além disso, as novas inteligências artificiais estão ajudando a modelar a própria mente humana ao usar técnicas similares aos nossos processos de aprendizagem.

Antes, seria preciso milhões de linhas de códigos para que uma máquina pudesse efetuar uma tarefa como o reconhecimento de caligrafia. Agora isso pode ser feito em centenas de linhas. O que é necessário é um grande número de exemplos para que o computador possa ensinar a si mesmo como fazer a tarefa.

As novas técnicas de programação usam redes neurais – que por sua vez são baseadas no cérebro humano, onde a informação é processada em camadas e as conexões entre essas camadas são reforçadas com base no que é aprendido. Isto é chamado de deep learning, devido ao número crescente de camadas de informação que são processadas por computadores cada vez mais rápidos. É o que tem permitido a computadores reconhecer imagens, voz e texto – e fazer coisas humanas.

Os buscadores do Google usam uma técnica chamada PageRank para apresentar os resultados das pesquisas feitas por usuários. Usando um rígido sistema de algoritmos, eles analisam o texto e links em páginas da web para determinar o que é mais relevante e importante. O Google está substituindo esta técnica em seu portal de buscas e na maioria de seus outros produtos por algoritmos baseados em deep learning, a mesma tecnologia usada para derrotar um campeão mundial do jogo de tabuleiro Go. Durante aquele jogo super complexo, observadores da partida ficaram várias vezes confusos sobre o motivo do computador ter adotado alguns dos movimentos.

Aplicações infinitas

Nos campos em que tem sido treinada e testada, a inteligência artificial está agora superando as capacidades dos humanos.

A AI tem aplicações em qualquer área em que dados são processados e são exigidas decisões. O editor e fundador da revista Wired, Kevin Kelly, comparou a inteligência artificial à eletricidade: um recurso digital barato, confiável e em nível industrial correndo atrás de tudo. Ele disse que a AI irá “animar objetos inertes, da mesma forma que a eletricidade fez mais de um século atrás. Tudo que nós eletrificamos anteriormente agora vamos ‘cognitivar’. Esta nova inteligência artificial utilitária irá também nos ampliar individualmente como pessoas (aprofundando nossa memória, acelerando nossa identificação) e coletivamente como espécie. Há quase nada que podemos pensar que não pode ser feito de uma maneira nova, diferente ou interessante ao se acrescentar um QI extra. De fato, os planos de negócios das próximas 10 mil startups são fáceis de prever: pegue X e adicione inteligência artificial. Isto é um prato cheio, e agora está aqui”.

Em breve, a inteligência artificial estará em toda parte. Empresas estão inserindo AI em seus produtos e usando a tecnologia para analisar as grandes quantidades de dados que eles estão reunindo. Google, Amazon e Apple estão trabalhando em assistentes de voz para nossas casas capazes de gerenciar nossas lâmpadas, pedir comida e organizar reuniões. Robôs como a Rosie, do desenho “Os Jetsons” e o R2-D2 da saga Star Wars estão a apenas uma década de distância.

Precisamos nos preocupar quanto a uma inteligência artificial que foge de controle e domina o mundo? Sim, mas possivelmente não pelos próximos 15 ou 20 anos. Há medos justificados de que em vez de serem direcionados para aprender o que estipularmos e complementar nossas capacidades, robôs e máquinas com AI vão começar a aprender tudo que é possível e saber muito mais do que sabemos. Embora algumas pessoas, como o futurista Ray Kurzweil, veja humanos usando inteligência artificial para incrementar nossas capacidades e evoluir, outros especialistas, como Elon Musk e Stephen Hawking, temem que a inteligência artificial irá nos dominar. Ao fim, ainda não sabemos onde tudo isso vai dar.

O que é certo é que a inteligência artificial está aqui e tornando possível coisas incríveis.

*Vivek Wadhwa é integrante do Centro para Governança Corporativa da Universidade de Stanford e diretor de pesquisa no Centro de Empreendedorismo e Comercialização de Pesquisas na Duke University.
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