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| Foto: JUSTIN SULLIVAN/AFP

Depois de conquistar espaço em sua rotina com celulares, aplicativos e programas de computador, as gigantes de tecnologia agora querem influenciar também o modo como você cuida da sua saúde – e garantir que cada vez menos você precise recorrer a hospitais e clínicas. Aproveitando a experiência com inteligência artificial e processamento de dados, bem como a evolução recente destas tecnologias, empresas como Google, Apple, IBM e Microsoft têm investido pesado para conquistar espaço em uma indústria global avaliada em US$ 8 trilhões.

Apoio para os médicos

Entre as grandes de tecnologia, a IBM é uma das que têm conseguido mais resultados junto a hospitais, clínicas e universidades por meio do Watson, seu sistema de computação cognitiva. O Watson funciona na nuvem e é capaz de processar e analisar grandes volumes de dados, inclusive para recomendar tratamentos contra o câncer. O sistema também já é usado em laboratórios de exames clínicos para verificar, por exemplo, o resultado de um exame de sangue ou ultrassom de um determinado paciente e apontar uma hipótese de diagnóstico, que depois é validada por um médico.

Esse movimento começou há cerca de cinco anos, principalmente nos Estados Unidos, mas agora começa a mostrar resultados e se espalhar por outros países, com um boom de novas startups querendo abocanhar uma fatia deste mercado antes restrito a farmacêuticas e departamentos de pesquisas nas universidades. O aumento da longevidade da população e, consequentemente, dos custos dos governos e hospitais em saúde, é visto como uma das principais oportunidade para quem quer investir no setor. Afinal, a promessa é de que as novas tecnologias podem justamente diminuir esses gastos, que já correspondem a 17% do PIB nos Estados Unidos e 9% no Brasil.

O CEO da Apple, Tim Cook, disse em maio que a assistência médica é uma “oportunidade enorme” para a companhia, que quer transformar seu Apple Watch em uma espécie de centro de diagnósticos sobre a condição física dos usuários. A empresa aposta em sua plataforma HealthKit para ajudar na tarefa – a ideia é que o sistema, que por enquanto apenas coleta dados de devices, como pulseiras e relógios, passe a analisar e interpretar essas informações, que poderiam ser usadas por médicos, com o consentimento dos usuários. O movimento é estratégico para a Apple porque pode ajudar a companhia a gerar mais receita com softwares e serviços, diminuindo a dependência do iPhone, cujas vendas estão em queda.

A Microsoft é outra empresa que tem apostado no setor pensando no médio e longo prazo. A companhia anunciou mês passado que está fazendo pesquisas com algoritmos e machine learning – técnica de programação em inteligência artificial – para buscar formas mais efetivas de tratar o câncer. A meta da empresa é ambiciosa: permitir que, no futuro, cientistas “programem” células para combater doenças. “Se os computadores do futuro não serão feitos apenas de silício, e podem conter materiais vivos, cabe a nós garantir que entendamos o que significa programar esses computadores”, afirma, em nota, a vice-presidente corporativa responsável pelos laboratórios de pesquisa da Microsoft, Jeannette M. Wing.

Investimento bilionário

Em outra linha, o Google tem concentrado esforços não só em pesquisas próprias, mas também no trabalho de terceiros. Ano passado, um terço dos US$ 2,4 bilhões investidos pelo fundo de venture capital da companhia foi repassado para empresas e startups de saúde. Em 2014 e 2015, o setor foi o que mais recebeu investimentos da empresa, à frente de outras áreas como inteligência artificial, robótica e produtos para consumidores.

“O aumento do poder de processamento e as melhorias nas técnicas de inteligência artificial permitiram recentemente que essas tecnologias pudessem ser aplicadas para fazer mapeamentos genéticos, tanto com pessoas doentes quanto com saudáveis. Mas só quem consegue fazer isso são as grandes empresas como Google e IBM, que têm acesso a recursos financeiros e laboratórios avançados”, afirma o diretor de inovação da Agência PUC, da Pontifícia Universidade do Paraná (PUCPR), Riccardo Lanzuolo.

Startups abocanham aportes milionários

O desenvolvimento de aplicativos e plataformas capazes de monitorar a saúde dos usuários está longe de ser hoje exclusividade das gigantes de tecnologia. O setor tem chamado a atenção também de uma infinidade de startups e pequenas empresas que têm trabalhado inclusive com pesquisas de novos tratamentos e medicamentos. As oportunidades de negócios chamaram a atenção de investidores, que têm apostado forte neste mercado: levantamento feito pela consultoria Tracxn mostra que o total já aportado nas 10 startups que mais receberam investimentos no exterior beira os US$ 6 bilhões.

No topo do ranking está a americana NantHealth, que já recebeu US$ 890 milhões e oferece, entre seus principais serviços, um teste molecular utilizado por médicos oncologistas para prever o melhor tratamento possível para vítimas de câncer – a solução, chamada de GPS Cancer, contempla o sequenciamento do genoma dos pacientes.

Especialistas, no entanto, alertam que o setor de saúde traz uma série de especificidades em relação a outros negócios, que podem barrar os “aventureiros”. Principalmente a necessidade de responder a órgãos de regulação rigorosos, como a Food and Drug Administration, nos Estados Unidos, e a Anvisa, no Brasil. “Diferente de qualquer outro negócio, é preciso produzir provas clínicas de que o que você está tentando fazer não causa danos e é efetivo. E esse processo é muitas vezes custoso e demorado. Manter investimentos em um negócio enquanto ele produz dados clínicos para receber o sinal verde pode não ser uma opção atraente para muitos investidores”, afirma o médico e professor da Universidade de Stanford (EUA) Robson Capasso, que tem pesquisado a utilização clínica de aplicativos e gadgets para tratar distúrbios do sono e outros transtornos.

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