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| Foto: Guilherme Valadares/Gazeta do Povo

O tradicional (e ultrapassado) livro-caixa, responsável por guardar em suas folhas toda a entrada e saída de dinheiro de empresas, ganhou uma versão virtual que promete revolucionar a forma como as pessoas interagem entre si e gerenciam seus recursos – sejam ativos financeiros ou bens menos palpáveis como documentos e arquivos de mídia. Batizada com o nome de blockchain, a tecnologia responsável por viabilizar as transações com moedas digitais, como o bitcoin, já ganhou a alcunha de “Uber dos bancos” devido ao potencial de “balançar” os mercados tradicionais ao permitir a movimentação de ativos sem a necessidade de intermediários.

US$ 1,1 bilhão

É o valor total que fundos de venture capital já investiram em startups de todo o mundo que desenvolvem soluções voltadas para blockchain e bitcoins (a moeda virtual que gira em redes de blockchain), segundo levantamento da consultoria CoinDesk. Esse investimento está concentrado principalmente nos Estados Unidos e em países como Reino Unido, Israel, Argentina, Suécia e Alemanha

Na prática, pode-se dizer que o blockchain é uma espécie de protocolo de comunicação da internet, como o TCP/IP – uma infraestrutura aberta e pública capaz de viabilizar e registrar transações feitas por qualquer pessoa autorizada a utilizar esta rede. Com isso, um usuário pode, por meio de uma moeda virtual, receber ou enviar dinheiro para qualquer pessoa no mundo, sem ter de arcar com taxas bancárias ou mesmo possuir uma conta-corrente. Além disso, permite o registro de acordos comerciais “inteligentes”, em que cada parte tem acesso a um produto ou serviço de forma automatizada, assim que o sistema reconhece que os negociantes cumpriram sua parte (leia mais no box abaixo) .

“O contrato e as transações estão separados hoje. Precisamos, portanto, de um novo modelo de troca de valor em tempo real, sem intermediários, uma vez que estes atrasam, burocratizam e encarecem o processo.Isso permite que façamos interações de informações e troca de valores, seja dinheiro ou documentos, diretamente entre todos. É uma ruptura no modelo atual”, explica o consultor de tecnologia e CEO da Litteris Consulting, Cezar Taurion.

Apesar do uso ainda incipiente, consultorias e analistas têm visto o blockchain como um avanço irreversível capaz de afetar não só o mercado financeiro, mas também outros setores e plataformas que estão hoje na crista da onda por intermediarem produtos e serviços – caso do Uber, Airbnb e Spotify. Relatório do Goldman Sachs divulgado mês passado aponta inclusive que a tecnologia pode gerar ganhos de US$ 7 bilhões nos próximos anos ao facilitar transações entre empresas e pessoas que comercializam energia elétrica por meio de painéis solares próprios.

Estudo do Fórum Econômico Mundial, apresentado no fim do ano passado, vai ainda mais além e aponta que, em 2027, 10% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial vai estar armazenado em redes de blockchain (hoje, esse porcentual é de 0,025%, o que equivale a US$ 28 bilhões). O estudo também prevê que, antes disso, em 2023, governos já utilizarão a tecnologia para coletar tributos – fazendo com que os contribuintes deixem para trás a velha prática de imprimir um boleto e fazer o pagamento no banco.

“O blockchain cria tanto oportunidades quanto desafios para os governos. Por um lado, não é regulado ou supervisionado por qualquer banco central, o que significa menos controle por meio de políticas monetárias. Por outro, traz a possibilidade de novos mecanismos de cobranças tributárias construídos na tecnologia em si”, afirma o relatório do fórum.

Como está a situação na prática

O uso de blockchain ainda é incipiente, mas algumas iniciativas no mundo já mostram o potencial da tecnologia:

Bancos unidos

A fim de transformar o risco em oportunidade, mais de 45 bancos, incluindo gigantes como JPMorgan Chase e Barclays, criaram um consórcio chamado R3 para desenvolver e comercializar aplicações que usam blockchain. Em fevereiro, o grupo anunciou ter conseguido simular, com sucesso, transações de ativos digitais em uma rede privada espalhada por quatro continetes.

Sem risco de calote

A empresa Smart Contract permite que os usuários criem contratos “inteligentes” em que o pagamento entre as duas partes só é feito quando certos critérios são reconhecidos pelo sistema de blockchain – tudo sem que haja uma instituição intermediando o negócio.

Música para os ouvidos

A artista britânica Imogen Heap criou a Mycelia, iniciativa que distribui músicas por meio de blockchain, permitindo que músicos vendam suas canções diretamente para os fãs, sem a necessidade de um estúdio ou plataforma (como o Spotify) – com isso, o artista é recompensado de forma mais rápida e não precisa dividir o valor com intermediários.

Corrente de arte

A startup Ascribe usa o blockchain para tentar resolver os problemas de direito autoral na era da internet. Trabalhos digitais (como designs, pinturas e fotos) ganham uma espécie de selo de autenticidade e autoria que acompanha a obra de maneira definitiva enquanto ela é distribuída – e que permite que ela seja rastreada e vire um ativo financeiro, como uma obra de arte física.

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