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O investimento privado está reagindo gradualmente. A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) projeta um crescimento de 30,1% por parte das empresas do segmento, montadoras começam a anunciar planos de expansão e empresas estão indo às compras: o número de fusões e aquisições em janeiro aumentou 13% em relação ao mesmo mês do ano passado, de acordo com a consultoria PwC.

Máquinas e equipamentos puxaram o crescimento do investimento em 2018, segundo levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Segundo o órgão, ligado ao Ministério da Economia, no ano passado houve uma expansão de 4,2%.

Os principais planos das empresas desse segmento, que devem aplicar R$ 2,7 bilhões. são a modernização tecnológica (35,5%), a reposição de máquinas depreciadas (30,5%) e a ampliação da capacidade industrial. Pequenos e médios empresários estão entre os mais animados. Segundo ele, muitos planejam se adequar para concorrer de forma mais eficiente no mercado.

“Muitos investimentos estão sendo anunciados, principalmente na área de infraestrutura e caso se concretizem, podem impactar favoravelmente o setor”, diz João Carlos Marchesan, presidente da entidade empresarial.

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Mas um aquecimento maior vai depender do andamento das reformas. “Se tivermos um ambiente externo relativamente tranquilo e o governo avançar nas reformas, poderemos ter uma atividade econômica superior neste ano”, diz Marchesan. 

Nos últimos dois anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção de máquinas e equipamentos cresceu, mas nada o suficiente para retomar os níveis pré-crise. Os patamares da produção são próximos aos de 2009, logo após a mais grave crise financeira mundial em 80 anos. O pico da produção foi registrado em 2010. Em dezembro, a produção era um terço menor do que no final daquele ano.

Ao mesmo tempo, as importações de bens de capital estão em alta. Segundo a Secretaria do Comércio Exterior (Secex), no ano passado elas atingiram US$ 28,6 bilhões, 77,2% a mais do que em 2018, praticamente retornando aos níveis pré-crise. O pico de importações aconteceu em 2013, quando as empresas brasileiras adquiriram US$ 32,7 bilhões em máquinas e equipamentos no exterior.

Bons termômetros

A consultoria Tendências projeta um crescimento de 5,5% no investimento neste ano. “A maior quantidade dos investimentos virá de setores que estão mais aquecidos”, enfatiza o economista Marcelo Azevedo, da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Uma expansão maior, segundo a entidade empresarial, é inibida pela ociosidade da indústria, que atinge 22,5%. 

Um deles é a indústria automotiva, que acumula um crescimento de 26,3% na produção nos últimos dois anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E as expectativas para este ano são favoráveis, projeta a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que espera uma expansão de 8% na produção.

A GM anunciou um pacote de investimentos de R$ 10 bilhões na ampliação das fábricas e na produção de novos modelos. Metade dos recursos serão direcionados para a produção da S-10, em São José dos Campos (SP).

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Outro termômetro que já mostra bons resultados é o de operações de fusão e aquisição. Elas cresceram 13% em janeiro, comparativamente a igual período de 2018, segundo a consultoria PwC. Foram 53 transações anunciadas, principalmente no segmento de TI, e que envolveram, em sua maior parte, investidores nacionais (67% de participação). 

Um cenário de mais investimentos vai depender do andamento e da qualidade das reformas aprovadas. “Sem elas, há risco de insolvência fiscal, mais inflação, maior volatilidade cambial e menos confiança no Brasil”, destaca o analista Thiago Xavier, da consultoria Tendências.

Segundo Azevedo, a forma como as reformas vierem vai dar uma boa sinalização para a demanda futura aos empresários. “Vai mexer principalmente com os setores que ainda não reagiram.”

Construção civil não reage

Outro segmento relevante para o investimento, a construção civil recuou no ano passado, segundo o Ipea. A queda em relação a 2017 foi de 0,3%. O setor passa por um momento complicado. Ainda são os reflexos da Lava Jato”, diz o Xavier.

Um dos fatores que contribuiu para esta queda foi a retração do crédito para a atividade. Segundo Luciano Nakabashi, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto (FEA-RP/USP), o crédito para a construção civil ainda sofre os reflexos da crise. 

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Na comparação entre os meses de outubro de 2017 e de 2018, ocorreu uma queda de 1,48% nas operações de crédito. E nos financiamentos, a retração foi maior: 3,74%, de acordo com dados do Banco Central (BC).

Segundo Xavier, a tendência, com a recuperação da atividade econômica, é de um aquecimento na indústria da construção. Mas, mais concentrado no segmento imobiliário. “A projeção é de aumento no número de lançamentos. Os estoques de imóveis estão diminuindo, os juros caindo e a massa salarial aumentando.”

Por que o investimento é pequeno no Brasil?

Tradicionalmente, o investimento é pequeno no Brasil. Dados da The Economist mostram que ele corresponde a 15% do PIB, enquanto na China é de 44% e nos Estados Unidos, de 20%. Mesmo entre os países sul-americanos, a taxa é pequena. Na Argentina, que passa por uma severa crise econômica, o investimento equivale a 16% do PIB; no Chile, 22%; no Peru,22% e na Colômbia; 25%.

Xavier ressalta que, não bastasse a taxa já ser pequena, houve uma forte queda de 30% entre 2014 e 2017, motivada pela deterioração das expectativas econômicas. E o cenário eleitoral polarizado no ano passado, tornou mais difícil a tomada de decisões por parte dos empresários. “Faltava clareza”, afirma o analista.

Outro fator que contribui para que a participação do PIB no investimento seja pequena é a baixa taxa de poupança. Isto faz com que, muitas vezes, os empreendedores usem recursos próprios. “Isto limita muito a capacidade de investimento”, destaca Azevedo, da CNI.

Fatores estruturais também são inibidores, aponta ele. Entre estes estão as altas taxas de juro e o cenário incerto, causado por uma extrema regulação da atividade econômica. Isto, de acordo com o especialista, acaba por aumentar os custos e gera uma insegurança jurídica.

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