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Adolfo Sachsida, assessor especial de Assuntos Estratégicos do Ministério da Economia
Adolfo Sachsida, assessor especial de Assuntos Estratégicos do Ministério da Economia| Foto:

O aumento expressivo nas taxas de investimento e de poupança e no total de recursos contratados da iniciativa privada devem sustentar um crescimento do PIB muito acima do que preveem analistas de mercado. A conclusão é da Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia e consta de duas notas técnicas que serão publicadas nesta quarta-feira (23).

Enquanto a mediana de projeções de instituições financeiras estima em 0,3% a variação do PIB brasileiro para 2022, a SPE trabalha com uma perspectiva de alta de 2,1% na atividade econômica do país neste ano.

Em um evento do banco BTG Patcual nesta terça-feira (22), o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que “o Brasil está condenado a crescer” nos próximos anos e que analistas vão passar 2022 revisando para cima as projeções de crescimento do PIB.

Para o economista Adolfo Sachsida, assessor especial de Assuntos Estratégicos do Ministério da Economia, a razão para a diferença é que a análise do mercado prioriza questões de demanda, quando os problemas enfrentados pela economia do país são do lado da oferta.

“Quando você vê, por exemplo, a produção de automóveis, essa queda não é um problema de demanda, é um problema de oferta. Houve queda nas cadeias de produção e isso está afetando a oferta agregada. A maior crise hídrica em 100 anos é um problema de oferta agregada. A pandemia é um problema de oferta”, listou o economista em uma conversa com jornalistas também nesta terça-feira (22).

“Me parece que os maiores choques econômicos são do lado da oferta. À medida que vão se normalizando, acredito que vamos ter um ano melhor do que a maioria tem previsto. Principalmente pelo investimento privado e pelo mercado de trabalho”, disse.

PPI: R$ 1,3 trilhão em investimentos privados contratados até o fim de 2022

Segundo os números do Ministério da Economia, o mercado de trabalho já retoma os patamares pré-pandemia. A maior razão para o otimismo da equipe, no entanto, são as cifras dispensadas pela iniciativa privada nos setores de infraestrutura, no âmbito do Programa de Parceria de Investimentos (PPI).

Até dezembro de 2021, a carteira do PPI totalizava um total de 131 projetos e leilões, com R$ 828,5 bilhões de investimentos privados já contratados para os próximos anos. Para 2022, estão previstas operações com mais 154 ativos, envolvendo outros R$ 340,7 bilhões. Assim, a expectativa do governo é de um total de R$ 1,3 trilhão contratados pelo PPI no período entre 2019 e 2022. “Esse número poderá ser ainda maior na medida em que se concretizarem os estudos de outros projetos no âmbito do programa”, diz uma das notas da SPE.

De acordo com Sachsida, o montante é resultado de uma importante mudança na política de concessões do governo, que passou a priorizar as propostas de maior investimento e não de maior outorga.

“Muitas vezes as pessoas nos questionam: ‘onde está o R$ 1 trilhão de privatizações?’ Está aqui. O que acontece é que em vez de cobrar isso de outorga, estamos estimulando o investimento privado”, disse, em referência à promessa de 2018, do ministro da Economia, Paulo Guedes, de arrecadar mais de R$ 1 trilhão. À época, no entanto, Guedes se referia ao potencial de receita com a venda de imóveis da União.

Cinco setores são responsáveis por quase a totalidade dos investimentos programados no PPI: óleo e gás (49,9%), transporte (32,9%), energia elétrica (7,2%), projetos de entes subnacionais (5,5%) e comunicação (3,2%).

Do total contratado, R$ 78 bilhões devem ser executados já em 2022, o que representa aproximadamente 1% do PIB brasileiro. Ainda segundo a SPE, os investimentos no PPI em 2021 ficaram próximos à metade desse valor, na casa de R$ 40 bilhões.

Para se ter uma ideia, o Capex, ou investimento em ativos fixos, contratado nos leilões finalizados em 2021 foi de R$ 37,5 bilhões, mais de cinco vezes o observado em 2016 (R$ 5,4 bilhões).

Aumento das taxas de poupança e de investimento acima da média mundial

A equipe econômica do governo atribui basicamente a dois fatores o crescimento das taxas de investimento privado. O primeiro seria uma consolidação fiscal, que reduziu a relação dívida/PIB por meio da manutenção do teto de gastos e da redução de gastos com previdência, funcionalismo e juros.

O segundo fator seria uma política econômica pró-mercado, que abrangeria redução da má alocação de recursos; novos marcos legais, que aumentaram a segurança jurídica; privatizações e concessões; maior abertura comercial; desburocratização; e um melhor ambiente de negócios. Entre os novos marcos regulatórios aprovados nos últimos anos estão os de saneamento, gás, ferrovias, cabotagem e do câmbio.

De acordo com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), entre as 50 maiores economias do mundo, o Brasil foi o segundo que mais reduziu a razão dívida/PIB entre 2020 e 2021, atrás apenas de Cingapura. Foram 8,4 pontos porcentuais de queda, contra 7,6 do Canadá, 1,3 da Rússia, e 0,6 dos Estados Unidos, por exemplo.

O Brasil foi também o segundo país que mais elevou a taxa de poupança em relação ao PIB em dólares entre 2018 e 2021 entre as 20 maiores economias do mundo. Foram 4,3 pontos porcentuais, colocando o país atrás apenas da Austrália, que avançou 4,8 pontos. Já a razão da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) sobre o PIB cresceu 2,2 pontos no mesmo período, fazendo do Brasil ocupar a terceira posição com maior incremento.

A FBCF diz respeito a investimentos em máquinas e equipamentos e obras, em linha gerais. A razão FBCF/PIB, que estava em 15,5% em 2019, chegou a 19% no acumulado em quatro trimestres até setembro de 2021, retornando ao nível de 2015. Já a taxa de poupança recuperou o nível de 2014.

“Uma modelagem simples sugeriria que um aumento de um ponto porcentual na taxa de investimento [FBCF/PIB] gera 770 mil empregos e R$ 305 no PIB per capita médio”, disse Sachsida.

Outros indicadores apresentados pelo economista mostram que aumentou a fatia da FBCF de empresas e famílias em detrimento da participação do governo; e diminuiu a participação de bancos públicos no crédito, ampliando a presença das instituições privadas. O crédito livre também aumentou em relação ao crédito total, ao passo que caiu o crédito direcionado.

“O investimento hoje vai para onde é mais eficiente, e não para onde o governo manda. Você não tem mais uma política de ‘campeões nacionais’ estabelecida por Brasília. Tem o investimento indo para onde gera o maior retorno econômico”, afirmou o assessor especial do ministério.

A SPE deve revisar suas projeções para a economia brasileira em 2022 na segunda quinzena de março. “Com muita parcimônia, com muita prudência, iremos analisar os dados. Se for necessário aumentar, aumentaremos; se for necessário reduzir, iremos reduzir sem o menor problema”, disse Sachsida. “Nosso compromisso é com o acerto.”

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