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Queda nos juros: o fenômeno mundial que tem impacto na forma de investir
| Foto: Bigstock

A combinação de crescimento mais fraco e de uma inflação mais controlada fez com que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) baixasse a Selic para 5,5% ao ano na semana passada. E novas quedas de juros devem vir nas próximas reuniões, previstas para outubro e dezembro, aponta a ata da última reunião do comitê, divulgada nesta quarta.

As projeções do Relatório Focus, uma pesquisa semanal feita pelo BC junto a instituições financeiras, sinaliza para uma taxa de 5% no final do ano. Mas há bancos trabalhando com projeções menores: 4,75% ou, até mesmo, 4,5% ao ano.

Segundo Rodrigo Franchini, head da Monte Bravo Investimentos, o objetivo da redução de juros é o de estimular o consumo e o investimento para tornar a economia mais pulsante. Nos 12 meses encerrados em junho, o PIB brasileiro cresceu 1,0% em relação a igual período anterior, aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Investimentos

Especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, apontam que um dos principais impactos da queda na taxa básica de juro é na forma de investir. O head de renda variável da Messem Investimentos, William Teixeira, aponta que, para obter rendimentos melhores, o investidor precisará diversificar sua carteira e arriscar mais.

Aplicações atreladas à Selic e ao CDI - como a poupança e LCAs - tendem a ter seus rendimentos comprometidos em um cenário de juros baixos, destaca Henrique Bausquet, estrategista-chefe da All Investimentos.

Para o dinheiro do curto prazo (12 meses), ele sugere aplicar em títulos de renda fixa pós-fixados. “Será possível empatar com a inflação medida pelo IPCA.” A sugestão de Teixeira é que os investidores mais agressivos aloquem entre 25% e 27% de sua carteira na renda variável. E os menos agressivos, de 10% a 15%.

Visão de médio e longo prazo

O cenário, porém, não é tão ruim para os títulos públicos prefixados de médio e longo prazos, que já registraram crescimento nos ganhos após a nova baixa da Selic. As informações são da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), que tem índices de acompanhamento para esse tipo de papel.

Os indicadores levam em conta a negociação de títulos no mercado secundário, ou seja, quando uma pessoa física vende seu título para outra. O índice IMA-B5+, formado por papéis de prazo superior a cinco anos, como o Tesouro Prefixado 2025, registrou alta de 1,54% até o meio-dia da última quinta-feira, dia seguinte ao anúncio do Copom. A variação do índice na manhã anterior ao anúncio foi bem mais modesta: ficou em 0,3%.

Os títulos prefixados com até cinco anos para resgate também tiveram ganhos. O IMA-B5, que acompanha o Tesouro Prefixado 2022 teve retorno de 0,59% após a queda da Selic, ante 0,07% do dia anterior.

Segundo o professor de finanças do Insper Ricardo Rocha, a tendência é que os prefixados se valorizem. Como o rendimento do título é estabelecido no momento de compra do papel, o investidor fica sujeito a variações do mercado caso queira vendê-lo antes do prazo previsto. Na situação atual, a venda é bom negócio porque quem busca um título pode preferir comprar o mesmo papel no mercado secundário, emitido anteriormente e com rentabilidades mais altas.

"Se você tem um título prefixado a 6,5% e a taxa caiu a 5,5%, esse 1 ponto porcentual de diferença faz com que seu título seja mais atraente aos olhos do mercado. Se você for vender seu papel, ele vale mais", explica.

Tendência global de queda nos juros

O comportamento  de queda nos juros não é exclusivo do Brasil. Na semana passada, países como Estados Unidos, México e Turquia fizeram esse movimento. “É o resultado de um movimento coordenado entre países desenvolvidos e economias emergentes”, explica Marcela Rocha, economista-chefe da Claritas Investimentos.

O temor é de um desaquecimento generalizado da atividade econômica mundial. Em julho, o Fundo Monetário Internacional (FMI) projetava uma expansão de 3,3% no PIB global para 2019. A expectativa é a menor desde a crise de 2008-9 e pode ser revista em outubro.

Uma série de fatores está pesando para esse desaquecimento: a guerra comercial entre Estados Unidos e China, a perda de ritmo das economias alemã e chinesa - onde a política econômica expansionista mostrou-se insuficiente -, a estagnação da União Europeia e o fim de um ciclo econômico expansivo na maior economia mundial.

A guerra comercial entre as duas principais potências globais têm o poder de frear o ritmo da economia global por causa do aumento nas incertezas. “Os impactos maiores são sobre a indústria e os países que mais sofrem com isso são os mais industrializados”, diz Rafael Cardoso, economista-chefe da Daycoval Asset Management.

Os maiores impactos da guerra comercial estão chegando agora, pegando com maior intensidade o consumidor norte-americano, afirma Marcela. "Estes impactos favorecem um discurso de maior precaução nos bancos centrais."

Mas, Teixeira, da Messem, não vê riscos de uma forte desaceleração na atividade econômica nos Estados Unidos, pelo menos até o final do próximo ano. A justificativa é de que o atual presidente, Donald Trump, não deixaria isso ocorrer porque é candidato nas eleições previstas para o próximo ano.

Outro trunfo, segundo Cardoso, é que os bancos centrais têm mostrado grande disposição para agir no sentido de conter a desaceleração da economia.“Foi jogada a primeira boia. Se for preciso, será jogada uma segunda: uma política fiscal expansionista.”

A tendência é de que juros continuem caindo em todo o mundo, aponta Franchini, da Monte Bravo. Nas duas maiores economias europeias - Alemanha e França -, elas já são negativas.

O que permite essa estratégia, segundo Marcela Rocha, da Claritas, é o fato de que, na maioria dos países, a inflação está controlada e, em muitos casos, abaixo das metas fixadas pelos bancos centrais. É o caso do Brasil, onde a meta da inflação é de 4,25%, com tolerância de 1,5 ponto percentual, e a expectativa é de 3,44%, para 2019, e de 3,88% para 2020, segundo dados do Relatório Focus.

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