Com contas públicas no vermelho, rebaixamento de metas e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) irritado com a discussão sobre as finanças do governo, a lista de apoiadores "decepcionados" com a política econômica do governo continua a crescer.
Um dia depois de Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central e sócio da Gávea Investimentos, afirmar que o país apresenta deterioração explícita no campo das finanças públicas, foi a vez de Luís Stuhlberger, CEO da Verde Asset Management, expressar decepção e crítica em relação à gestão das contas públicas.
"Arrependo-me de ter acreditado que o PT poderia ter alguma seriedade fiscal", disse Stuhlberger em um evento organizado pela gestora na terça-feira (7). O executivo é frequentemente descrito como um dos maiores gestores de fundos no país, por causa dos retornos expressivos apresentados ao longo das últimas décadas pelo Fundo Verde.
Segundo ele, o marco da mudança foi o anúncio, em 15 de abril, da alteração na meta de resultado primário (diferença entre o que o governo gasta e o que arrecada, excluídas as despesas com juros) para 2025 e 2026.
Na ocasião, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que a meta para o próximo ano passaria de um superávit de 0,5% do PIB para déficit zero, ou seja, equilíbrio entre o que se arrecada e se gasta.
“Esse projeto de lei de diretrizes orçamentárias (PLDO) de 2025 foi um divisor de águas do que esperar desse governo em termos fiscais”, disse o gestor da Verde.
Stuhlberger também destacou que o arcabouço fiscal acabou se tornando uma “peça de ficção” e que, agora, o que ele pensava ser “ruído” passou a ser “sinal”. O gestor indica que voltou a considerar o risco fiscal. “A grande facilidade para alterar o arcabouço colocou em xeque a sua credibilidade”, disse.
As contas públicas vêm se deteriorando desde o início do atual mandato de Lula. Segundo o BC, o resultado primário em 2022 – ao fim da gestão de Jair Bolsonaro (PL) – foi de superávit de R$ 126 bilhões (1,28% do PIB), abastecido em parte por receitas não recorrentes e postergação de precatórios.
Hoje o país exibe déficit de R$ 252,9 bilhões (2,29% do PIB) em 12 meses, segundo o dado mais recente, de março. Por consequência, o endividamento público vem crescendo. A dívida bruta passou de 71,7% do PIB no fim de 2022 para 75,7% do PIB em março de 2024.
Vários economistas liberais que apoiaram Lula no segundo turno das eleições presidenciais de 2022, no confronto com Bolsonaro, hoje reclamam da política econômica do petista. Eles apontam visões antiquadas em relação à economia e a falta de preocupação em relação à questão fiscal e criticam os ataques de Lula à política monetária do Banco Central.
Entre os apoiadores hoje incomodados com a gestão petista estão Pedro Malan, Elena Landau, Pérsio Arida e Henrique Meirelles.
Ex-presidente do BC diz que arcabouço "não está dando certo"
Fraga também se mantém crítico em relação ao arcabouço fiscal. Ele diz que a medida “não está dando certo” e apontou que o Brasil está apresentando uma “dificuldade escancarada” na área fiscal.
“Não tem sido uma trajetória de progresso. Não foi até agora. Fui um dos primeiros a apoiar publicamente o arcabouço que o ministro Fernando Haddad apresentou, essencialmente porque o que ele fez foi um movimento em direção contrária ao que o presidente da República vinha defendendo. Foi admirável. Mas não está dando certo”, declarou o ex-presidente do BC.
“O Brasil não é a Venezuela nem a Argentina, mas não há nada que sinalize que vamos entrar em um processo de crescimento mais acelerado e sustentável”, acrescentou.
Lula diz estar "irritado" com discussões sobre questão fiscal
Na terça (7), Lula disse estar “irritado” com as discussões sobre o déficit fiscal. Segundo ele, "nenhum país do mundo" discute esta questão. “A dívida pública dos Estados Unidos é 112% do PIB, a do Japão é de 235%, a da Itália é de quase 200%. Ou seja, esse não é o problema. Você tem que saber se está gastando ou está investindo.”
O presidente também voltou a falar em diferença entre gasto e investimento, novamente recorrendo a critérios dele próprio. Para Lula, o aumento de salários de alguns setores da área pública, para a valorização dos servidores, é um "investimento" – embora a classificação padrão das contas públicas não o classifique assim. “Desde que assumi a Presidência da República, em 2003, tenho dado lição de responsabilidade”, afirma.
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