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Como envolver os filhos adolescentes no orçamento doméstico. A tendência de autoafirmação dessa fase é também combustível para o consumismo. Leia na Gazeta do Povo | Bigstock
Como envolver os filhos adolescentes no orçamento doméstico. A tendência de autoafirmação dessa fase é também combustível para o consumismo. Leia na Gazeta do Povo| Foto: Bigstock

Presente entre os temas da atualidade sugeridos às escolas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) – revelada de forma incompleta, sem a parte do ensino médio, pelo Ministério da Educação (MEC) em abril –, a educação financeira ainda não é uma realidade para a maioria das crianças e adolescentes brasileiros nas escolas. 

Além das consequências já conhecidas para as famílias brasileiras, que têm altas taxas de inadimplência e comprometimento de renda com crédito, isso é algo particularmente complicado na fase da adolescência, em que, segundo os especialistas, a necessidade de autoafirmação pode servir de combustível para o consumismo e também para uma dose extra de pressão na renda da casa. 

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Por outro lado, se o adolescente fizer o tipo responsável e tiver acesso a uma educação consciente financeiramente, ele pode vir a ser o revolucionário do orçamento da casa e, diferentemente das gerações dos pais e avós, terá mais chances de sucesso na vida financeira.

Esse é, possivelmente, o caso de Ana Gabriela Volpi, aluna de 16 anos do Colégio Bom Jesus, um dos mais conceituados de Curitiba, onde a educação financeira faz parte da grade extraclasse do ensino médio. 

Os pais de Ana se separaram no início de 2016, o que obrigou a família a rever o orçamento. “Embora o pai continue responsável pelos gastos com educação e alimentação, as demais despesas referentes à [manutenção] da casa ficam comigo (...). Isso exigiu algumas mudanças”, conta a mãe de Ana, a professora e musicoterapeuta Sheila Beggiato. “Antes de toda essa mudança, elas [Ana tem uma irmã de 26 de anos que acaba de sair de casa] não tinham conhecimento sobre tantos detalhes do orçamento. Mesmo assim, sempre tiveram consciência do custo das coisas e colaboraram bastante com as mudanças. Em dado momento, preocupada, a Ana até me falou que eu não precisava dar mais mesada para ela, mas aí achei demais”, brinca Sheila.

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Ela acredita que a filha tem esse perfil mais responsável porque recebeu uma educação que sempre prezou pelo não desperdício. “Ela também fez parte de um coral, que mais tarde virou uma ONG, em que a questão ecológica e do consumo consciente era bastante trabalhada. Então mesmo não sabendo tantos detalhes sobre o nosso orçamento ela nunca foi um ‘agente de pressão’ em casa”, diz Sheila. 

Na semana passada, influenciada também pelas aulas de educação financeira na escola, Ana montou uma planilha de gastos diários para a mãe começar a preencher. “É para gente ter uma noção sobre quanto as principais coisas, tipo supermercado, alimentação e tal, custam. E daí poder decidir melhor onde dá para economizar”, explica Ana. Sheila confessa que tem tido dificuldades em transformar a “tarefa” passada pela filha em hábito. “Mas vou tentar!”, promete ela.

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Ana teve as aulas de educação financeira ainda no ano passado, durante o segundo ano do ensino médio. Segundo a professora de matemática e responsável pelo projeto de educação financeira do Bom Jesus, Bruna Passos Haro Pionceke, as aulas têm atividades semanais, que muitas vezes necessitam da participação dos pais. “Começamos o curso dando uma introdução sobre o orçamento doméstico, depois mostramos conceitos do mundo financeiro e, no final, mostramos o que a gente pode fazer [com esse conhecimento], explicando como aplicar na bolsa de valores, por exemplo. O objetivo é que o adolescente tenha mais consciência, a curto mas também a longo prazo, e possa ter uma vida melhor”, explica ela. 

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Jorge dos Santos Souza, coordenador da área de educação digital do Bom Jesus, lembra que a ideia de introduzir o tema na escola começou há oito anos, de maneira muito ligada ao ensino da matemática. “Hoje percebemos que o projeto vai muito além disso e temos planos de desenvolver algo que comece ainda no ensino fundamental e que não seja algo apenas ligado à disciplina de matemática”, diz Souza.

Em outubro do ano passado, numa pesquisa da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre conceitos financeiros em 30 países, os brasileiros acertaram 58% das respostas, parcial bem abaixo da média do levantamento, de 78%. Falta de educação financeira foi um dos principais motivos apontados para esse resultado.

É desde criancinha que se aprende

“Tudo que o que foi construído durante a infância vai se mostrar agora [na adolescência]. E isso vale tanto para o adolescente que se revelar um gastão quanto para aquele que for um aliado [dos pais no orçamento doméstico]”, afirma o especialista em investimentos do Banco Ourinvest e fundador da Academia do Dinheiro, Mauro Calil.

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Ele lembra que a educação financeira deve começar desde cedo. “Aos 9, 10 anos de idade, quando o filho começa a fazer conta é uma boa hora para introduzir a ‘semanada’. Lá pelos 15, 16 anos já é possível mudar para a mesada. É importante também que em algum momento haja um controle do orçamento e que esse orçamento comece a ser mostrado, para ver quanto custa a escola, o carro, o cachorro. Tudo isso vai dando uma noção de valores que vai muito além do preço”, explica Calil. 

As experiências com a semanada e a mesada também são resultado de um exercício muito importante, o de fazer escolhas, tomar decisões. “Com mais idade é possível também delegar responsabilidades, colocando peso nessas decisões. É o caso do dinheiro [se houver] reservado para a faculdade. Deixar claro, por exemplo, que tal quantia está reservada para esse propósito, mas que se ele passar numa instituição pública poderá fazer outra coisa com o dinheiro”, exemplifica Calil.

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