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As contas em atraso por mais de três meses, que caracterizam a inadimplência, atinge hoje um contingente de 61 milhões de brasileiros. | Marcelo AndradeGazeta do Povo
As contas em atraso por mais de três meses, que caracterizam a inadimplência, atinge hoje um contingente de 61 milhões de brasileiros.| Foto: Marcelo AndradeGazeta do Povo

Soraia Aparecida dos Santos se endividou para fazer faculdade; Fábio Chagas para ajudar um amigo; e Roberto Iglesias para montar um negócio. Os três pegaram crédito por motivos diferentes, mas hoje vivem o drama de milhares de brasileiros que não conseguem pagar as contas em dia. Com renda em queda e desemprego, as dívidas logo saem do controle.

Uma pesquisa da empresa de recuperação de crédito Recovery, feita pelo Data Popular, mostra que hoje o brasileiro inadimplente deve, em média, três vezes o que ganha e, em alguns casos, acumula até 20 dívidas diferentes.

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A maior parte das dívidas foi feita nos últimos três anos — período que coincide com o agravamento da crise econômica. De 2014 para cá, a taxa de desemprego mais que dobrou, atingindo 14 milhões de brasileiros. Ao mesmo tempo, a população teve de conviver com a disparada da inflação, escassez de crédito e juro alto.

Foi uma combinação perfeita para o aumento da inadimplência (contas em atraso por mais de três meses), que hoje atinge um contingente de 61 milhões de brasileiros. "É metade da população economicamente ativa", afirma o presidente da Recovery, Flavio Suchek.

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O número de inadimplentes é o maior em pelo menos cinco anos - início do indicador de Inadimplência do Consumidor da Serasa Experian. "Diferentemente de outros períodos, a inadimplência elevada não é resultado de excesso de endividamento — até porque a carteira de crédito está em queda", diz Luiz Rabi, economista da Serasa Experian. "Não é que o brasileiro está se endividando além da conta, é justamente o impacto da crise, com o desemprego em nível recorde. Não é que ele não quer pagar - ele não tem é dinheiro."

Na pesquisa feita pela Recovery, o inadimplente tem várias caras e foge de qualquer estereótipo. Um quarto dos endividados pertence à classe alta e 40% têm ensino superior, sendo que 10% são pós-graduados. Na média, cada brasileiro inadimplente tem três dívidas acumuladas, que somam R$ 8.370. 

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Apesar de a maioria dos inadimplentes ainda estar trabalhando, foram o aumento do desemprego e a queda na renda que turbinaram a escalada do atraso nos pagamentos. De acordo com a pesquisa, 43% dos entrevistados apontaram o desemprego como o grande vilão por não estarem em dia com as contas. Outros 19% disseram não ter renda para pagar a dívida, sendo que 27% deles pertencem à classe baixa.

O diretor do Data Popular, Dorival Mata-Machado, afirma que a pesquisa mostrou uma nova percepção da população brasileira em relação à inadimplência. "As pessoas estão menos preocupadas com o nome sujo e mais com o que é justo."

Isso significa que os devedores têm pleiteado melhores condições de pagamento, com descontos maiores e juros menores. Mas essa percepção só aparece quando a empresa de cobrança bate na porta da casa dos inadimplentes para receber a dívida. "Até então, a maioria não faz ideia de quanto deve e de quanto paga de juros", diz Suchek. Ainda segundo a pesquisa, 36% dos inadimplentes não sabem o tamanho de sua dívida.

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Isso denota que, além de um cenário econômico adverso, pesa na equação — e no bolso — a falta de conhecimento financeiro do brasileiro. "O brasileiro tem dificuldades para lidar com o dinheiro. Para começar, ele superestima a sua renda, em média, em 8%", afirma Bruno Poljokan, diretor da plataforma de crédito online Just, do grupo GuiaBolso.

"Há ainda falta de informação sobre as modalidades de crédito, principalmente as mais caras, como cheque especial e cartão de crédito", diz ele. Segundo dados do GuiaBolso, quase 40% dos usuários do aplicativo que pagaram juros mensais de ao menos R$ 5 no rotativo disseram acreditar que não estão endividados. 

Esse quadro, aos poucos, vai se modificando. Segundo Mata-Machado, do Data Popular, os jovens são os que mais fazem exigências no acerto de contas, por estarem mais conscientes. "Essa população cresceu num período de bonança. Se estivesse com o orçamento apertado, fazia um bico, se endividava e corria atrás. Hoje eles estão tendo de fazer mais contas."

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De qualquer forma, a maioria dos inadimplentes quer renegociar a dívida, especialmente para voltar a consumir. Embora 79% deva mais para os bancos, é no comércio que o número de dívidas per capita é maior. São 2,59 dívidas por inadimplente.

Embora uma alternativa recomendada para os devedores seja trocar uma dívida cara por uma barata, quando o montante for muito grande, aconselha Poljokan, o ideal é insistir na renegociação, seja do valor, dos prazos ou condições.

Não tenha vergonha de pedir ajuda

É bastante comum que uma pessoa de fora veja com mais clareza onde estão os gastos que estão destruindo as finanças de uma família. “Gosto de comparar a situação de endividamento com uma doença. Quando estamos nessa situação, procuramos um especialista, seguimos suas orientações até que fiquemos bons e depois tomamos cuidados, para prevenir que o problema não aconteça mais. No endividamento é a mesma coisa. Portanto, não há porque ter vergonha de buscar a ajuda necessária”, diz a consultora e professora da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) Anapaula Iacovino Davila, acostumada a fazer cursos de educação financeira abertos à comunidade em São Paulo. 

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“Num país onde não aprendemos isso desde a escola e, ainda por cima, fomos incentivados a tomar tanto crédito nos últimos anos, não é vergonha alguma não saber lidar com o dinheiro”, ressalta ela.

No Paraná, o Procon e Tribunal de Justiça do estado ajudam na orientação e intermediação de soluções para os chamados superendividados, pessoas que já comprometeram mais de 30% da renda mensal líquida com dívidas, ou mesmo se veem desempregadas e sem renda alguma. No caso do Tribunal, a ajuda se dá no âmbito dos Juizados Especiais e nos casos que chegam até lá. Nesses casos, o TJPR tem como de praxe buscar a conciliação entre devedores e credores, olhando principalmente para a saúde financeira dos primeiros.

Já no caso do Procon, qualquer pessoa que esteja na situação de superendividada pode procurar o serviço. Administrativamente e com as medidas que lhe cabem, o órgão também buscará a conciliação dos credores com o consumidor endividado, olhando para a condições de extremo endividamento do cidadão com o devido cuidado.

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Veja abaixo oito dicas cruciais do Procon para sair da situação de endividamento:

1 - Quite suas dívidas diretamente com os credores, evitando intermediários.

2 - Jamais recorra a agiotas para pagar uma dívida, assumindo outra de valor muito maior.

3 - Procure substituir dívidas com juros maiores, por financiamentos com juros menores, por exemplo, evite a utilização do limite do cheque especial ou o pagamento do mínimo no cartão de crédito, optando por empréstimo consignado, pois os juros são mais baixos.

4 - Negocie prazos maiores para pagamento, em parcelas menores ou o abatimento substancial para a liquidação da dívida à vista.

5 - É direito do consumidor exigir do fornecedor o detalhamento do que está sendo cobrado.

6 - Exija, por escrito, tudo que foi combinado verbalmente.

7 - Guarde sempre os comprovantes dos pagamentos efetuados.

8 - Após a realização do acordo ou do pagamento do débito, seu nome deverá ser retirado de cadastros de inadimplentes no prazo de 48 horas contados da comprovação do pagamento, de acordo com a Lei Estadual 15967/08.

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