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O administrador José Gaspar Nogueira, de 52 anos, foi contratado recentemente pela consultoria PwC. | Divulgação/
O administrador José Gaspar Nogueira, de 52 anos, foi contratado recentemente pela consultoria PwC.| Foto: Divulgação/

O Brasil tem hoje cerca de 17% de pessoas no mercado formal de trabalho com idade entre 50 e 64 anos, segundo dados do Ministério do Trabalho. Mas um novo comportamento das grandes empresas apontam para um crescimento desse número nos próximos anos: a contratação de funcionário “sênior” está começando a fazer parte da rotina dos setores de recursos humanos, inclusive com seleções específicas, semelhantes aos programas de trainees.

Multinacionais, como a companhia de seguro Tokio Marine e a empresa de auditoria e consultoria PwC, e empresas nacionais, como a companhia aérea Gol, são exemplos de empresas que resolveram apostar em pessoas com mais de 50 anos a partir do ano passado. Todas elas enxergaram uma oportunidade de mercado, já que a população brasileira está envelhecendo e uma possível Reforma da Previdência deve prolongar o tempo das pessoas no mercado de trabalho. 

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Comprometimento, experiência, tranquilidade, segurança e confiabilidade ao lidar com o cliente são as principais qualidades desses profissionais que chamaram a atenção dos departamentos de seleção. “Muitas empresas enfrentam problemas com empregados jovens. Outras precisam de mais velhos porque requerem profissionais com mais jogo de cintura. Por isso, a contratação de pessoas acima dos 50 está se tornando uma tendência no país, mesmo que lentamente”, explica o presidente executivo da Maturijobs, Mórris Litvak.

Ele criou a Maturijobs, que é um negócio social, em 2015, quando percebeu que, por conta da crise, havia muitas pessoas mais velhas com capacitação e sem emprego. Criou uma plataforma em que empresas e profissionais se cadastram e se conectam de acordo com suas necessidades. Hoje, são mais de 60 empregadores que buscam colaboradores mais velhos e 70 mil pessoas cadastradas. 

Foi por meio dessa plataforma é que a PwC fez, no ano passado, sua primeira seleção para a contratação específica de pessoas com mais de 50 anos. O programa, chamado Senior Citzens, abriu cinco vagas para a área de consultoria tributária. Foram 50 candidatos inscritos, que passaram por uma seleção de três etapas. Os escolhidos começaram em fevereiro e o resultado do trabalho tem agradado os gestores da empresa.

“A idade média dos nossos funcionários é de 29 anos. Então ter entre nós pessoas mais velhas traz uma maturidade e uma experiência que influenciam os mais novos. Vemos com bons olhos os profissionais assim”, conta a diretora de recursos humanos da PwC Brasil, Erika Braga. Segundo ela, programa deu tão certo que a próxima etapa é expandir esse tipo de seleção para outras áreas da empresa.

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Necessidade e disposição explicam aposta dos RHs nos mais velhos

Estar fora do mercado de trabalho não é incomum no Brasil, especialmente para quem tem mais de 50 anos. Principalmente por conta da crise econômica dos últimos dois anos, muitas pessoas perderem seus postos de trabalho e, pela idade avançada, não se recolocaram. Outras viviam no mercado informal, como no caso do administrador José Gaspar Nogueira, de 52 anos.

Desde os 16 anos, ele trabalha por conta própria tocando alguns negócios ao mesmo tempo. Porém, no ano passado, diante da crise, precisou reforçar a renda familiar e partiu em busca de sua primeira carteira assinada. Como sempre sonhou em trabalhar em uma multinacional, assim que soube da seleção da PwC, não perdeu tempo e se inscreveu. Foi um dos cinco selecionados e hoje atua como assistente técnico da área tributária.

José Gaspar Nogueira, de 52 anos, viu na PwC a oportunidade de reforçar a renda da família e realizar o sonho de trabalhar numa multinacional.Divulgação

“Passei muito tempo enviando currículos e nunca me chamavam. Sabia que era por conta da idade. Acredito que deu certo na vaga em que estou porque minha bagagem profissional é grande, tenho muita experiência em me readaptar em momentos de crise, de achar novas soluções”, conta. 

Gaspar, assim como outras pessoas mais velhas que buscam uma recolocação, tendem a demonstrar muita disposição para o trabalho durante as seleções de emprego, o que é um fator importante para quem está recrutando. Vários querem continuar trabalhando mesmo aposentados ou perto de se aposentar, principalmente por sentirem que ainda são bastante produtivos.

“Muitos têm o propósito de contribuir de fato para o crescimento da empresa, não estão ali necessariamente pela remuneração. Isso os coloca em vantagem em relação aos jovens”, diz Yonder Kou, diretor de desenvolvimento da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH).

Empresas querem incluir os profissionais maduros nas seleções

Empresas com cultura de inclusão também apostam na contratação de pessoas com mais de 50 anos como forma de diversificar o ambiente de trabalho. A seguradora Tokio Marine investiu nisso no final do ano passado, com o programa “Toque de Vivência”. A ideia era tornar o ambiente mais igualitário, e dar oportunidade a todos de mostrar seu talento, independentemente da idade. Abriram processo de seleção para cinco vagas e receberam mais de dois mil currículos. Em razão da grande demanda, resolveram aumentar duas vagas e contrataram sete profissionais.

A empresa não quer mais fazer seleção específica para profissionais “seniores”, mas sim incluí-los no processo de seleção comum.

“Este ano abriremos 250 vagas para toda a empresa, e vamos considerar os perfis desses profissionais em nosso processo”, explica Juliana Zan, superintendente de Recursos Humanos da Tokio Marine. Hoje, 10% do quadro de funcionários da empresa é composto por pessoas com mais de 50 anos. O funcionário mais velho tem 78. 

A Gol é um outro caso de empresa que investiu em funcionários maduros com a ideia de inclusão social. O programa “Braços Abertos para Todos”, que começou em junho do ano passado, quer reposicionar profissionais experientes no mercado de trabalho. A seleção funciona como uma espécie de trainee, com diversas etapas: testes, dinâmica de grupo, entrevistas com gestores de RH.

“O que mais buscamos nesses profissionais é comprometimento, dedicação e amor à profissão. A capacidade de se colocar no lugar do outro é uma atitude forte nesse público e acreditamos que é isso que faz a diferença na qualidade do atendimento”, diz Jean Carlo Nogueira, diretor de Recursos Humanos da Gol.

Dos 15 mil funcionários da companhia aérea, 1.800 têm mais de 50 anos. Desde começou até agora, foram 53 processos seletivos e 54 pessoas contratadas. As vagas são para os diversos setores da companhia, mas a maior demanda está nas áreas voltadas para o atendimento ao cliente, tanto por telefone quanto pessoalmente. 

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