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Embora o pensamento divergente seja extremamente buscado hoje em dia pelas empresas, não é em todos os setores e companhias em que ele está em alta. | Bigstock/
Embora o pensamento divergente seja extremamente buscado hoje em dia pelas empresas, não é em todos os setores e companhias em que ele está em alta.| Foto: Bigstock/

“Pense fora da caixa”. Você certamente já ouviu isso de algum gestor, não é mesmo? As transformações do mercado de trabalho explicam esta demanda comum nas empresas. Já não adianta ter a solução para um problema. Em boa parte dos casos, é bom que você traga mais de uma saída. É o que se costuma chamar de perspectiva divergente, uma das qualidades raras mais buscadas pela companhias hoje.

Enquanto o profissional de pensamento convergente é prático e propõe resoluções imediatas, o divergente reflete, refaz as perguntas a si mesmo e chega com um leque de alternativas possíveis. Como se enxergasse coisas que ninguém mais viu.

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A divisão vem de um estudo do psicólogo estadunidense J. P. Guilford, para quem a inteligência humana, no que tange ao âmbito operacional, pode ser dividida em cinco tipos: capacidade de codificar informações, potencial de memorização, habilidade de julgar e apurar dados, facilidade para aprender e predomínio da visão convergente ou divergente: a primeira, relacionada à proposição de uma só saída para um entrave e a segunda, de várias soluções para um mesmo problema.

Questão de aprimoramento

Para a professora Deise Hofmeister, coordenadora de Gestão de Recursos Humanos da Universidade Positivo (UP), algumas pessoas têm, desde a infância, uma tendência maior à criatividade do que outras. “São aquelas que se destacam nas brincadeiras, criam soluções engraçadas, têm aptidão para jogos de estratégia ou se dão bem com arte, por exemplo”.

Mas, segundo a especialista, nada impede que qualquer um, em qualquer fase da vida, aprimore seu pensamento divergente. “A tecnologia tem muito a ajudar nesse percurso. Não é à toa que as crianças de hoje, que manejam celulares, tablets e computadores com facilidade e vivem cercadas de informação, estão bem mais criativas que as gerações anteriores. Elas conhecem universos diversos, estão menos restritas a uma só realidade”, exemplifica.

Então, que tal conhecer um autor que você nunca pensou em ler? Colocar-se aberto a entender o que pensa um adversário político, buscar um filme alternativo, começar aulas de dança, teatro, pintura? Sair da bolha. Pode parecer estranho, mas tudo isso pode render grandes avanços na sua atuação como solucionador de problemas e agente criativo, conforme explica Deise.

Em busca da assertividade

Mas, se alguém é capaz de pensar em muitas coisas ao mesmo tempo, não é arriscado que se perca e, no fim das contas, não resolva nada? Para o professor da ESIC Business & Marketing School, Luciano Salamacha, sim, é um risco. Ele, que coordena um MBA na área de neuroestratégia focada em negócios, já chegou a realizar uma pesquisa exatamente sobre esse impasse.

Luciano pondera que a abordagem de Gilford é extremamente importante e acrescenta outro teórico fundamental para a compreensão da atuação criativa dentro das empresas: o britânico Edward de Bono, criador do conceito de pensamento lateral.

Segundo esta visão, é bom que o indivíduo se proponha a refutar as soluções mais óbvias e parta para um exercício profundo de criatividade a fim de deixar para trás a zona de conforto.

Mas o problema, para Salamacha, é que tanto o pensamento divergente quanto o pensamento lateral estão focados em soluções, e não em resultados. “É comum que saídas ótimas não vinguem porque sua implementação é extremamente complexa”, diz.

Além disso, segundo o professor, não raro, a sensação de ser elogiado ou premiado por boas ideias é tão prazerosa que acaba deixando o sujeito acomodado. E aí mora outro grande perigo.

Para aliar a multiplicidade de horizontes do pensamento divergente ao foco daqueles que possuem pensamento convergente, Luciano propõe o que chama de pensamento transversal, uma perspectiva ligada, sim, a múltiplas ideias, mas com a atenção voltada para resultados – para o que vai ser feito, e não só para o que pode ser feito. Unindo brainstorm e muita mão na massa, o professor diz ser possível atingir níveis mais precisos e satisfatórios de produtividade.

E como isso é trabalhado? De várias maneiras, sobretudo, com base em um equilíbrio racional. “É importante criar, imaginar, buscar saídas. Mas não pode haver um desvio excessivo das questões práticas para um viés puramente intuitivo”, alerta.

Perfis profissionais

Embora o pensamento divergente seja extremamente buscado, não é em todos os setores em que ele está em alta. O gerente da consultoria Michael Page, Thiago Gaudêncio, destaca que, em empresas tradicionais, por exemplo, uma abordagem objetiva e, portanto, mais próxima do pensamento convergente, tende a ser mais valorizada.

A regra é a mesma quando se fala em diferentes setores. No campo das finanças, pode ser que alguém que chegue com uma só resolução rápida e prática seja muito mais bem visto do que um sujeito efusivo com uma porção de cartas na manga. O que, em geral, tende a ser diferente em uma equipe de marketing. “Tudo é uma questão de perfil de empresa, setor e profissional”, defende.

Linhas de pensamento

Pensamento convergente

Mais linear e objetivo, tende a buscar apenas uma solução para um problema.

Pensamento divergente

É um pensamento mais plural, que busca várias soluções.

Pensamento lateral

Assemelha-se ao conceito de pensamento divergente. Está ligado ao potencial criativo do indivíduo e aos esforços que é possível fazer para se sair da zona de conforto e das soluções tradicionais.

Pensamento transversal

Está focado em inovação, porém mais em resultados do que meramente em soluções.

Ginastica das ideias

7 pequenas dicas para exercitar seu pensamento divergente

1. Nas redes sociais, você em geral só vê opiniões de gente que concorda contigo. Busque conhecer um pouco de opiniões diferentes da sua e entende-las.

2. Assista a filmes que você nunca pensou em ver. Faça o mesmo com livros.

3. Quando estiver diante de um problema, pense em uma boa solução. Depois, exclua esta saída, como se ela não existisse. Pense em outra. É possível que você tenha um plano B tão bom como o plano A.

4. Se faz o mesmo caminho todos os dias para o trabalho, busque outros. Quem sabe, apenas mudar de calçada em parte do trajeto. Esse gesto simples te fará ver muita coisa de outro ângulo.

5. Jogos como damas e xadrez ajudam a pensar diferentes estratégias. Se lance a estes desafios!

6. Pratique algum esporte.

7. Busque cursos de arte. Pintura, teatro e escrita criativa tendem a aprimorar seu olhar para o mundo.

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