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Por que há menos mulheres em cargos de chefia e por que, no geral, elas continuam ganhando menos do que os homens mesmo quando desempenham as mesmas funções? As pesquisadoras Linda Babcock, Maria P. Recalde, Lise Vesterlund e Laurie Weingart resolveram investigar essa questão olhando especialmente para as diferenças entre homens e mulheres na hora de aceitar tarefas dentro do ambiente do trabalho e como isso pode colaborar ou não para uma promoção. O artigo científico com o estudo foi publicado no periódico da American Economic Association no ano passado e também repercutido pelas próprias autoras em julho deste ano na Harvard Business Review (HBR).

“Aqui está um cenário que muitos de nós conhecem muito bem: você está em uma reunião e seu gerente apresenta um projeto que precisa ser atribuído a alguém. (...) À medida que seu gerente descreve o projeto e pede um voluntário, você e seus colegas ficam em silêncio e desconfortáveis, todos esperando que alguém levante a mão. A espera se torna cada vez mais desconfortável. Então, finalmente, alguém fala: ‘Ok, eu vou fazer isso’. Nossa pesquisa sugere que este voluntário relutante tende a ser mais do sexo feminino do que masculino.”, descreveram Linda, Maria e Lise ao falar de sua pesquisa à HBR.

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São tarefas como organizar uma festa de fim de ano, um comitê ou abraçar uma tarefinha diária daquelas que não requerem muita habilidade, não impactam na vida das pessoas, mas ninguém quer fazer. O primeiro ‘laboratório’ para a pesquisa foi a faculdade onde Linda e Laurie trabalham, a Carnegie Mellon University.

Em instituições como essa, tarefas de escritório e coordenação são menos valorizadas do que as atividades diretamente ligadas à pesquisa e produção do conhecimento. Um levantamento com 48 professores da Carnigie Mellon mostrou que é isso o que eles pensam também.

O grupo questionado foi apresentado a quatro tarefas (trabalhar em um artigo de pesquisa, apresentar pesquisas em palestras e conferências, fazer parte de um comitê de revisão do currículo de uma graduação e fazer parte do colegiado da universidade). Eles deveriam ranquear essas opções de acordo com como um professor assistente deveria gastar suas 50 horas adicionais no semestre: 89,6% disseram que as duas primeiras tarefas são mais importantes que as duas últimas.

Uma outra pesquisa similar na Universidade de Massachusetts Amherst, também nos EUA, com 349 docentes mostrou que as mulheres passavam, em média, 2,45 horas a menos em atividades de pesquisa do os homens.

Além de uma revisão ampla de pesquisas como essa, as pesquisadoras fizeram alguns testes com grupos controlados de homens e mulheres. A ideia era investigar a questão além da questão da preferência de homens e mulheres por determinadas tarefas. Ou seja, elas examinaram quantas tarefas de cada tipo cada um geralmente escolhe e quantas de cada tipo são geralmente oferecidas a homens e mulheres.

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Num primeiro momento, homens e mulheres, em igual número, foram convidados a tomar decisões em frente a um computador num total de 10 rodadas. Por meio das respostas, eles foram classificados em novos grupos de três pessoas, em que uma delas teria de acabar o experimento se voluntariando para uma tarefa (um novo clique no computador).

Se ao final da experiência ninguém se voluntariasse, cada pessoa recebia 1 dólar. Se alguém se oferecesse, essa pessoa recebia 1,25 dólar e os demais, 2 dólares. Isso era uma forma de fazer com que as pessoas quisessem fugir das tarefas e pressionar outras pessoas a aceitá-las.

No geral, após as 10 rodadas, mulheres se mostraram 48% mais propensas a se voluntariar do que os homens. Embora características pessoais como altruísmo e aversão ao risco, entre outras, possam explicar a probabilidade maior ou menor para o voluntariado, elas não explicam a diferença entre homens e mulheres nesse aspecto. Isso foi provado no segundo momento do experimento.

Nesse segundo momento, os grupos foram compostos por 100% de membros de um único sexo e submetidos aos mesmos incentivos e pressões. Em termos de voluntariado para tarefas, foi constatado que homens e mulheres têm a mesma tendência a se voluntariar.

Já em um terceiro momento, novamente com grupos mistos, alguns participantes foram instruídos a solicitar voluntários para as tarefas. De forma consistente com a hipótese inicial das pesquisadoras, as mulheres foram mais requisitadas a se voluntariar do que os homens, independentemente do sexo do participante responsável por instigar os outros membros.

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De forma geral, as pesquisadoras confirmaram que as mulheres são 44% mais frequentemente requisitadas a aceitar tarefas do que os homens. Durante a experiência, um pedido para uma tarefa foi aceito 51% das vezes por homens e 76% das vezes por mulheres.

Desproporcionalmente sobrecarregadas com tarefas de pouco impacto ou significado, elas levarão mais tempo para avançar em suas carreiras do que os homens.

“Nosso trabalho ajuda a explicar por que essas diferenças de gênero ocorrem e o que os gerentes podem fazer para distribuir esse trabalho de maneira mais eqüitativa”, afirmaram Linda, Maria e Lise à HBR.

Uma das sugestões das pesquisadoras para mudar esse cenário é que os chefes parem de pedir voluntários e prefiram soluções como designar pessoas com mais afinidade com a tarefa em questão ou mesmo dividir a responsabilidade pelas tarefas em turnos/períodos, sem deixar uma única pessoa responsável por elas.

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