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Novo curso de Engenharia Civil da FAE foi elaborado em parceria com o Senai e o Sinduscon-PR. | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Novo curso de Engenharia Civil da FAE foi elaborado em parceria com o Senai e o Sinduscon-PR.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

É natural acreditar que a conclusão de um curso de graduação é uma garantia de preparação para o mercado de trabalho. A realidade, contudo, é bem diferente. Em 2016, a Cia de Talentos, que atua no recrutamento e desenvolvimentos de jovens em início de carreira, recebeu 1,2 milhões de inscrições para um total de 6 mil oportunidades de emprego. Mesmo com uma procura 200 vezes maior do que a oferta, algumas vagas ainda ficaram em aberto ao final dos processos seletivos.

“Esse dado assusta muito”, diz a gerente de projetos da empresa, Milie Haji. O motivo do não preenchimento das vagas, explica ela, é a falta de profissionais com o perfil procurado pelas empresas. A verdade é que os próprios candidatos enxergam esse problema.

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Segundo dados da edição de 2014 da pesquisa Empresa dos Sonhos, organizada anualmente pela companhia, 66% dos estudantes têm certeza da sua decisão quando escolhem a sua graduação, mas, ao concluir a formação, 36% acham que o curso não vai ajudar a alcançar o seus objetivos profissionais.

“Falta um processo integrado da gestão da carreira desses jovens”, aponta Milie. Para ela, uma aproximação entre as duas pontas do processo profissionalizante – ensino superior e mercado de trabalho – gera mais convergência e aumenta as perspectivas do jovem recém-formado.

Metodologia voltada ao mercado

De olho nesse descompasso entre a formação profissional e as necessidades do mercado de trabalho, as universidades, a exemplo de três das principais instituições de ensino superior do Paraná, estão promovendo estratégias para trabalhar certas competências ao longo da formação acadêmica.

“Saímos de um modelo conteudista para um modelo de formação por competência”, afirma Vidal Martins, vice-reitor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), instituição que reformulou o currículo de mais de 40 cursos para o vestibular deste ano.

O objetivo é a formação de “um cidadão global, criativo e empreendedor”. O novo método dá espaço para a inclusão extensiva de estudos de caso, projetos, aprendizagem baseada em resolução de problemas e maior troca entre professores e alunos.

“Isso estimula o estudante a desenvolver processos cognitivos que vão ser exigidos na cotidiano profissional”, garante o vice-reitor. “Eu deixo de trabalhar com processos cognitivos mais simples e de baixa ordem, como memorização, compreensão simples e repetição, para investir em processos cognitivos mais complexos, como capacidade de análise, tomada de decisões e criação de soluções”, acrescenta.

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Outra instituição que foi neste mesmo compasso foi a FAE Centro Universitário, que está lançando um novo curso de Engenharia Civil neste segundo semestre, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Paraná (Sinduscon-PR).

“Nós mudamos a lógica de construir o currículo sozinhos na academia ou consultando o mercado, ele foi feito junto com o mercado”, declara o pró-reitor de Ensino, Pesquisa e Extensão do centro universitário, Everton Drohomeretski.

Seguindo as premissas de formar um profissional inovador, empreendedor e sustentável, os estudantes terão aulas de campo a partir do segundo semestre e formação focada em liderança, criatividade e gestão consciente de recursos.

“Como o mercado de trabalho inova mais do que a academia consegue pesquisar. Se você não consegue acompanhar, forma um aluno atrasado”, diz o pró-reitor, que acrescenta que esse tipo de adaptação é uma tendência para a sobrevivência do modelo de ensino.

“Muitas das pessoas que procuram a universidade querem uma formação para o mercado de trabalho. Se a universidade não tiver a preocupação de conectar o estudante com o mercado, se torna pouco atrativa”, ressalta Martins.

Um caminho para o emprego

Esse argumento também é defendido, em partes, pelo pró-reitor de Graduação e Educação Profissional da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Eduardo Barra. Ele explica que há diversos cursos e espaços na instituição que têm justamente esse propósito – estreitar laços e preparar melhor os alunos para o mercado de trabalho – e pontua que as políticas de acesso ao ensino superior têm trazido para a universidade pública estudantes que muitas vezes são os primeiros em suas famílias a chegar a este nível de formação.

“Em virtude disso, nós sabemos que as expectativas dessas famílias e estudantes é que eles vão conseguir um padrão de renda e empregabilidade muito superior ao que eles normalmente têm na família”, diz, afirmando que, com isso, cresce a demanda por esse foco dentro dos cursos. “E a gente tem escutado, muitos cursos fazendo revisões curriculares têm incorporado isso. Afinal, esse é um dos motivos da reserva de vagas: promover a igualdade social”.

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Enquanto muitos setores da UFPR são voltados às ciências aplicadas e, portanto, têm uma atenção especial voltada ao mercado de trabalho – como o setor de Tecnologia – outros dedicam-se justamente às ciências puras, não aplicadas. E os departamentos têm autonomia suficiente para decidir o caminho que as grades curriculares seguirão.

“A responsabilidade social de uma universidade é produção e disseminação do conhecimento; não há outra instituição na sociedade moderna que faça isso”, explica Barra, que reconhece a importância e legitimidade de estabelecimentos que existem justamente para proporcionar profissionalização. “A universidade não pode ser regida por esse regime de profissionalização como seu primeiro objetivo. Ele não é secundário, mas deve estar numa posição que respeite esse objetivo maior que é a produção do conhecimento”.

Muito além da sala de aula

Além disso, a vivência acadêmica deve aprimorar habilidades que vão além do conhecimento técnico e que são muito buscadas por empregadores, como capacidade analítica, adaptação às diferenças, sociabilidade e amadurecimento emocional. É uma espécie de currículo paralelo muito valorizado pelo mercado.

“É um currículo complementar, que não é acessório e não pode ser eliminado. São muitas oportunidades de desenvolver essas habilidades: projetos de pesquisa, extensão, contato com pessoas que não tem o mesmo nível de conhecimento que você sobre determinados assuntos e atividades culturais e esportivas”, sustenta o pró-reitor da UFPR.

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O ambiente profissional de constante evolução tecnológica exige mais do que o know-how de como operar um equipamento. “A gente tem que formar pessoas que convivam naturalmente com incertezas, mudanças e inovações porque é isso que acontece o tempo todo”, diz o vice-reitor da PUCPR. Segundo ele, a pesquisa é a melhor forma de desenvolver no estudante a capacidade de criar soluções, pois ele encontra um problema, vê o que já foi feito a respeito, propõe uma solução inovadora e, se tudo for bem sucedido, cria conhecimento.

Dois lados da mesma moeda

A gerente de projetos da Cia de Talentos, Milie Haji, destaca que a presença ou ausência dessas características são decisivas na hora do recrutamento. Nessa conta da empregabilidade também entra a compatibilidade entre o candidato e a cultura da empresa, que é uma via de mão dupla. Ao mesmo tempo em que os profissionais precisam atentar a comportamentos e diferentes visões de negócio, as companhias devem acompanhar as mudanças geracionais que, inevitavelmente, fazem parte da força de trabalho que está começando a carreira.

“O mercado, na maioria, não está preparado para esses jovens que estão chegando agora”, afirma Drohomeretski, que defende que as empresas precisam entender qual é o novo mercado para saber de quais funcionários precisam. “A empresa não precisa contratar só jovens, mas precisa se rejuvenescer e investir em novos formatos de negócios”.

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