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Kicksim faz sinal do celular viajar entre países como se fosse uma ligação local | Kicksim
Kicksim faz sinal do celular viajar entre países como se fosse uma ligação local| Foto: Kicksim

Convidada para uma conferência das Nações Unidas, Silvia Scuracchio estava preocupada com os US$ 3 mil que teria que gastar em telefone para manter contato com a equipe de uma escola na capital paulista, onde ela trabalha como diretora. Por coincidência, dias antes ela ganhara um chip da Kicksim, que prometia “roaming internacional de graça”. Funcionou. Ela passou 10 dias ligando para o Brasil pelo preço de uma ligação local. 

Silvia voltou de viagem e assinou um cheque de US$ 25 mil para a Kicksim. Com sede no Vale do Silício, nos EUA, a startup foi criada pelo brasileiro Robson Oliveira. Ele descobriu em 2015 a tecnologia que hoje é o coração da Kicksim; mas levou quase uma década para encontrar um modelo de negócios. Até chegar no roaming internacional. 

A Kicksim trabalha com um redirecionamento de chamadas, como a da função "siga-me". O usuário não percebe. A única mudança é digitar o número no aplicativo, ao invés de usar a função de discagem no telefone.

O trabalho da startup é conectar as operadoras. É como um jogo de espelhos: a chamada sai dos EUA como uma ligação local; ela então entra no sistema da Kicksim, que rebate o telefonema para o Brasil; chegando aqui, ele é redirecionado para o número de destino. Tudo isso numa fração de segundos. 

A Kicksim não cobra pelo serviço, mas recebe uma comissão da operadora pela aquisição do cliente. A grande sacada da startup é oferecer o serviço por um custo irrisório. 

O Skype, por exemplo, também faz o serviço de "rebater" telefonemas internacionais. Mas para isso usa infraestrutura de internet, que custa bilhões de dólares anuais. 

"95% dos gastos dos concorrentes é com esta infraestrutura Voip [que mescla telefonia e internet]", explica Robson Oliveira, fundador e CEO da startup. O modelo da Kicksim, além de mais barato, tem qualidade de telefonia GSM, e não fica à mercê da infraestrutura de internet. 

Telefone de graça e criptomoedas 

A Uber começou a trabalhar em seu carro autônomo em 2015. Se der certo, a empresa vai perder seu maior ativo: o motorista, que permite a ela atender milhões de usuários sem ter um único carro. 

Da mesma forma, a Kicksim quer "destruir o setor de telecomunicações". "Queremos fazer algo diferente, porque é melhor nos antevermos ao futuro do qeu sermos pegos de surpresa", explica o CEO. Atualmente, a startup trabalha num modelo de pagamento por criptomoedas. 

Basta que o usuário deixe seu computador ligado para minerar alguma criptomoeda. O valor arrecadado é usado para pagar a conta do telefone, que pode sair até de graça. 

A opção deve estar disponível no segundo semestre. A ideia é utilizar o serviço para fornecer também linhas locais pela Kicksim. "É uma forma de tirar a dependência do turismo e massificar também para o usuário local, mesmo que não esteja em viagem", comenta Robson. 

Monetização "sem querer" 

A Kicksim hoje recebe comissão das operadoras pela ativação do chip internacional. Só com o lucro do ano passado (2017), a empresa já garantiu 11 meses de operação no positivo, em 2018, o que dá uma margem para reinvestir tudo que ganhar em novas tecnologias e aquisição de usuário. 

Mas este não é o modelo de monetização perseguido pela startup, que busca o "network effect", ou efeito de rede. Um exemplo da importância deste efeito no Vale do Silício é o Whatsapp, vendido pelo Facebook por US$ 19 bilhões mesmo sem ter um modelo de monetização bem definido. Seu grande ativo é ter bilhões de pessoas utilizando o serviço. 

"O Kicksim nasceu para atingir um mercado de um bilhão de usuários, que são os viajantes internacionais", explica o CEO da empresa. Mesmo pequena (hoje são cerca de 3 mil usuários pagantes), a startup já vê alguns resultados deste efeito de rede: mesmo sem nunca ter feito marketing na Europa, já tem cadastros em países como Itália, Portugal e Espanha. Tudo no boca a boca. 

Tecnologia made in Brazil. Mindset do Vale do Silício 

Robson se mudou para o Vale do Silício para transformar sua tecnologia em negócioKicksim

Robson levou quase duas décadas para lapidar a tecnologia que permitiu à Kicksim oferecer roaming internacional de graça para seus usuários. Ele começou a programar aos 12 anos de idade, e seguiu carreira no que hoje é chamado DevOps, uma interface entre desenvolvimento e infraestrutura. 

Em 1999 viu uma oportunidade. O IPv4, tecnologia utilizada pela internet brasileira, estava prestes a acabar, e a transição para o IPv6 criaria muitas oportunidades de negócio. Nos quatro anos que se seguiram, Robson juntou dinheiro para criar a própria empresa. 

Em 2005 a tecnologia — que é até hoje base da Kicksim — estava pronta, e a Finep queria colocar R$ 5 milhões na startup. Na hora do pitch "ficou claro que era um projeto animal, mas aqueles não eram os caras certos para executar". Faltava maturidade e conhecimento de negócios para a equipe, avalia Robson, mais de uma década depois. 

Anos depois, numa viagem para São Francisco, veio a luz: "eu tenho produto, tecnologia, ecossistema, tudo que eu preciso aqui". O empreendedor se mudou para o Vale do Silício sem projeto nem nada, só com a certeza que naquele contexto a ideia iria florescer. 

Quando o carro de Robson foi roubado e ele teve que ligar para o seguro, no Brasil, ele ligou as pontas: a tecnologia que tinha nas mãos poderia ser usada para redirecionar roamings entre países. 

"O modelo mental aqui é outro. Todo mundo é colaborativo. Eu falo para o brasileiro compartilhar conhecimento, porque a nossa carência de fazer isso de forma genuína é muito grande. O cara que chega da China faz o pitch que nem um brasileiro, mas a diferença é que ele troca informação." 

Em 2017, na comparação com 2016, a empresa cresceu quase 360%. O número de usuários saiu da casa dos 5 mil para 27 mil, sendo que 3 mil são clientes pagantes. Hoje, além de Silvia, a Kicksim conta com outros cinco investidores, sendo um investidor-anjo, dois investidores não divulgados, e dois fundos (da Porto Seguro e Plug and Play).

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