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Sem contar o setor financeiro e empresas como Vale, Petrobras e Suzano, maior lucro no primeiro trimestre foi do setor de energia elétrica, segundo a Economática.
Sem contar o setor financeiro e empresas como Vale, Petrobras e Suzano, maior lucro no primeiro trimestre foi do setor de energia elétrica, segundo a Economática.| Foto: Saulo Cruz/MME

O cenário macroeconômico desafiador no primeiro trimestre do ano – com alta nas commodities, guerra entre Rússia e Ucrânia, lockdowns na China e problemas climáticos que afetaram lavouras no Sul do Brasil – não impediu um bom desempenho das empresas de capital aberto.

Segundo a provedora de informações financeiras Economática, as vendas aumentaram 34,6%, atingindo R$ 889,6 bilhões e o lucro, 55,3%, indo para R$ 60,9 bilhões. Dos 25 setores pesquisados, nove tiveram perda de lucratividade e apenas um, o de educação, fechou no prejuízo. Os dados não incluem Petrobras, Vale e Suzano, pois distorceriam a amostra, aponta a empresa. Também não estão computados os resultados de empresas financeiras, como bancos.

Os maiores lucros foram registrados no setor de energia elétrica (R$ 13,8 bilhões), transportes e serviços (R$ 9 bilhões) e alimentos e bebidas (R$ 7,8 bilhões). A maior recuperação foi em transportes e serviços, que saiu de um prejuízo de R$ 4,5 bilhões nos três primeiros meses de 2020 para um lucro de R$ 9 bilhões neste ano.

Com a inclusão de Vale, Petrobras, Suzano e setor financeiro, o lucro combinado iria para R$ 169,8 bilhões, 83,4% a mais do que nos três primeiros meses do ano passado. O resultado foi impulsionado pelo lucro recorde de R$ 44,6 bilhões da Petrobras.

A XP Investimentos considera que os resultados do primeiro trimestre são sólidos, sendo que 62% das empresas apresentaram lucros operacionais (Ebitda) acima das expectativas e 40%, receitas acima do esperado.

O banco Inter aponta que empresas com uma maior exposição ao mercado externo puderam se beneficiar de um cenário ainda aquecido, o que permitiu avanço de receitas, compensando custos e, consequentemente, segurando margens.

B3 teve o melhor desempenho do mundo no 1.º trimestre

No primeiro trimestre, o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, foi o melhor do mundo, apesar da guerra na Ucrânia e a tendência a um maior aperto da política monetária em meio à disparada de preços de energia e alimentos. A valorização foi de 14,5% em reais e 34,5% em dólares.

Segundo os estrategistas da corretora, as ações das empresas brasileiras se beneficiaram de uma série de fatores:

  • mudança no perfil do investidor, que passou a dar mais ênfase para as ações de valor, em detrimento das de empresas de forte crescimento;
  • forte exposição do país a commodities e bancos;
  • preços atraentes, apesar do rali recente;
  • fluxos de outros mercados emergentes, como é o caso da Rússia, para o Brasil; e
  • o país está chegando ao fim de seu ciclo de alta de juros, enquanto o Fed e outros BCs de países desenvolvidos estão apenas começando a aumentar as taxas.

Segundo Frederico Loss, sócio da Allez Invest, um dos setores beneficiado por esse cenário foi o de commodities. As petroleiras, por exemplo, foram favorecidas pela alto preço do petróleo, aponta a Guide Investimentos.

Alta dos juros elevou despesas financeiras

Um ponto negativo no trimestre e que, na avaliação da Guide, afetou boa parte do lucro das empresas foi a despesa financeira. Segundo os analistas Fernando Siqueira, Rodrigo Crespi e Gabriel Gracia, o aumento gradual dos juros no Brasil afetou as empresas com maior endividamento, alavancagem financeira e/ou que fizeram operações de fusão e aquisição.

Outro problema foi a variação cambial. No primeiro trimestre, o real se valorizou 17,7% frente à moeda norte-americana. Empresas com forte endividamento em reais foram as mais afetadas, pois viram seu passivo dolarizado crescer. E também há setores, como o dos frigoríficos, que tiveram perdas em operações de hedge (proteção cambial).

Revisão de expectativas

Ao longo dos três primeiros meses do ano, a XP revisou para cima as projeções de lucros para os próximos 12 meses, 2023 e 2024. Porém, agora, estes números estão sendo revistos para baixo por causa das incertezas em relação ao crescimento da China. Externamente, também preocupa a inflação nos Estados Unidos, que é a maior desde 1981, o que sugere um posicionamento mais forte do Fed (o banco central norte-americano) na alta de juros, que começou em março.

“Esses riscos devem afetar o crescimento global no curto e médio prazo, influenciando nos preços das commodities e os fluxos internacionais de investimento”, diz a XP. Em maio, até o dia 23, tinham saído R$ 11,5 bilhões da B3.

Outro desafio é o cenário macroeconômico interno complicado. A inflação ainda se mantem em níveis elevados. O IPCA acumula alta de 4,3% no ano e de 12,1% em 12 meses. O Inter alerta que a inflação de serviços segue próxima de 10%, ameaçando a convergência da inflação para o intervalo da meta em 2023.

“A inflação vai ser o grande ponto de atenção do trimestre: a alta nos juros tem um impacto fundamental para as empresas, principalmente aquelas que estão mais alavancadas, como é o caso do segmento da construção”, diz o sócio da Allez Invest, Frederico Loss.

Mas, com a melhora nas contas públicas nos últimos meses, um balanço de pagamentos robusto e taxas de juro atraentes, “o Brasil poderá atravessar o cenário global nos próximos meses com desempenho melhor para a sua moeda e para os preços dos ativos, em termos comparativos aos pares emergentes”, cita relatório do banco Inter.

Expectativas para o segundo trimestre

Para o segundo trimestre, Loss avalia que as commodities tevem continuar apresentando uma boa performance, principalmente agora que a China está revendo os lockdowns na região de Xangai e reduziu, na semana passada, a taxa básica de juros para estimular a economia.

Um setor que foi bem no primeiro trimestre e desperta um ponto de atenção é o bancário, por causa da tendência de aumento na inadimplência, que segundo o Banco Central chegou a 2,52% da carteira total em fevereiro (último dado disponível). No fim de 2020, primeiro ano da pandemia, o índice havia atingido o piso de 2,12%.

Quem também pode ter um bom desempenho, segundo o especialista, é o varejo de alto padrão. “Ele não sofre com esse cenário de economia pressionada pela alta nos juros e pela inflação. Geralmente a clientela já tem os recursos em caixa para usar no consumo.”

Por outro lado, segmentos voltados ao consumo interno e tecnologia devem continuar com as margens pressionadas por causa do aumento da inflação e dos juros.

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