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Manoela Santiago, decoradora floral.
Manoela Santiago, decoradora floral.| Foto: Divulgação

“Eu estava no desespero e comecei a inventar milhões de coisas.” A afirmação da designer floral Manoela Santiago, 43 anos, reflete a realidade de milhares de brasileiros durante a pandemia de coronavírus. No caso da empreendedora de Brasília (DF), que atuava com decoração de festas, a alternativa para conseguir renda apareceu depois de alguns cursos, conversas com pessoas do ramo e uma boa dose de criatividade e inovação: venda de cestas e kits delicadamente personalizados, uma maneira de se destacar em um mercado tão concorrido.

Segundo dados da Receita Federal, Brasília tem 2.030 microempreendedores individuais registrados na atividade de venda de cestas de café da manhã, a que mais se assemelha ao trabalho desenvolvido por Manoela na pandemia. Para não ser apenas “mais uma”, a designer uniu seus conhecimentos prévios como florista e os aprendizados que teve em um curso de artes para montar kits únicos.

“As pessoas que ganhavam ficavam fascinadas. Elas me ligavam, dizendo que nunca tinham visto tanto amor, carinho”, relata a empresária. Essa história de superação durante a pandemia é mais uma da série de reportagens O Brasil que inspira, que traz histórias de brasileiras e brasileiros que encontraram novas formas de trabalhar e empreender na pandemia.

Antes de conquistar esses resultados, Manoela tentou outros caminhos, que falharam. Logo que a pandemia começou e as festas de todos os tipos foram suspensas, ela lançou o conceito de “petits decor”, na tentativa de locar mobiliário para pequenas comemorações, como no Dia das Mães de 2020. “Não deu muito certo, eu reparava que até perdia seguidores no Instagram, parecia que as pessoas não queriam nem ouvir falar de evento, nem mesmo para poucas pessoas da mesma casa”, relembra.

"Festas na caixa" fizeram sucesso nos momentos mais críticos da pandemia

Em seguida ela se dedicou a cursos no Sebrae e optou por uma consultoria em busca de novas ideias. “A maioria era da área de eventos e pensando no que poderia fazer para sair do marasmo por conta da pandemia. As ideias foram surgindo: ‘Quem mexe com flores, que tal vender arranjos? Quem tem experiência com culinária, por que não vender cestas?’, e assim por diante. Eu falei: 'Por que não unir isso tudo, fazer uma festa dentro de uma caixa, para comemorar o aniversário com a família dentro de casa?'”.

Surgiu então o negócio das "festa na caixa", à base de parcerias com artesão de madeira, boleira, doceira. Manoela pedia modelos e tamanhos específicos e em muitos casos fazia uma customização com as próprias mãos, treinadas em cursos de artes, além de sempre incluir alguma planta: “Era da minha formação como florista, e também para agregar valor”.

Em certo momento, Manoela atendeu uma encomenda que pedia para usar cestos de crochê de um projeto social de Brasília, que viraram uma espécie de cachepô para plantas suculentas que ela tinha em casa. O produto fez sucesso, e ela foi desenvolvendo opções para festas ou apenas para presentear.

Nos últimos meses, ela descobriu um novo nicho no qual vai apostar suas fichas: arranjos florais. Após o fim das medidas mais restritivas de isolamento social, caiu a procura por cestas de festas. A ideia, agora, é criar algo como um ateliê botânico, que comercialize também produtos de design e cristais, além das plantas. “Estou fazendo outros cursos, de plano de negócios. Usei meu Instagram de decoradora, mas agora quero abrir uma nova empresa”, diz.

Com o giro que conseguiu em 2020, Manoela manteve o funcionário que tinha na empresa, o que foi uma grande conquista em meio ao cenário de crise e pandemia. Segundo pesquisa do projeto Global Entrepreneurship Monitor (GEM) – que tem abrangência mundial e mede a atividade empreendedora nos países –, o índice de empreendedores com negócios estabelecidos no Brasil caiu de 16% em 2019 para 8,7% em 2020. Essa é a proporção da população entre 18 e 64 anos que é proprietária de empresa que gere renda ao proprietário e/ou salários há mais de 42 meses. O cenário de queda nas empresas estabelecidas é um fenômeno mundial, observado em 23 dos 35 países pesquisados pelo GEM.

A empresa de Manoela já está bem estabelecida: são mais de dez anos na ativa. Antes disso, aos 19 anos, ela foi sócia de uma floricultura com a mãe. Fez cursos em Holambra (SP) e no exterior, mas decidiu sair do negócio depois que cursou administração e foi trabalhar em uma multinacional.

“Meu pai tinha feito mobiliário para eventos. Quando eu estava na multinacional, resolvi comprar dele e fazer aluguel das peças. Mas aí, como sou florista, o mobiliário puxou para a decoração. Fiz um curso de design de interiores e então comecei a mexer com decoração de festa de casamento, infantil, de 15 anos. A partir de 2011, mais ou menos, fiquei só com meu negócio próprio, que se consolidou como empresa de decoração e eventos”, conta.

Desde o início de sua trajetória, Manoela busca a customização de cada projeto, e a vontade de “assinar” cada trabalho a motivou a batizar a microempresa com seu próprio nome. Ao mesmo tempo em que reconhece as dificuldades de trabalhar com flores e arranjos naturais, em que os detalhes precisam ser minuciosamente pensados para agradar aos clientes e fazer diferença, ela pondera que essa é a chave de seu sucesso: “Quem gosta dessa área faz por amor, e fazendo algo com amor não tem como não dar certo”.

Esta é a quarta reportagem da série O Brasil que inspira, que conta histórias de brasileiras e brasileiros que encontraram novas formas de trabalhar e empreender durante a pandemia de coronavírus. Acompanhe:

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