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Dia de pânico no mercado: os efeitos da guerra do petróleo sobre o dólar e a Bolsa
| Foto: Bigstock

O mercado financeiro brasileiro seguiu a tendência mundial e vive um dia de caos nesta segunda-feira (9). Pouco depois da abertura dos trabalhos na bolsa de valores, as perdas já atingiam 10% – o que fez com que a B3 acionasse o chamado "circuit breaker". O mecanismo consiste na paralisação das negociações por um período de meia hora, de modo a estancar as perdas. Perto do meio dia, o Ibovespa registrava queda mais moderada, de 9,05%.

No meio da tarde, perto das 16h, a queda chagava a 11,69%. Se a queda atingir 15%, a B3 pode acionar um novo "circuit breaker".

Entre as ações negociadas na bolsa, a Petrobras foi destaque na desvalorização: os papeis já começaram o dia com queda de mais de 20%. Às 12h15, as ações tinham desvalorização de 24,4%. Perto das 16h, a queda já era de 29,79%.

Enquanto isso, a cotação do dólar comercial – que subia há semanas por causa do coronavírus – iniciou mais um dia de alta. Ao longo da manhã, a moeda norte-americana chegou perto de R$ 4,78. No meio do dia, a alta era de 2,3%, com cotação a R$ 4,74.

Os motivos para o pânico do mercado financeiro

A manhã de caos teve como estopim a guerra nos preços do petróleo entre Arábia Saudita e Rússia. Os sauditas e a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) desejavam segurar a desvalorização do barril, que vinha com preços em queda por conta da desaceleração da economia mundial. Os russos, entretanto, não concordaram com o acerto – o que fez o governo saudita iniciar uma retaliação, com a desvalorização artificial no valor do óleo.

"É um acontecimento que tem baixíssima capacidade de previsão. São produtores trabalhando deliberadamente na direção de destruir a cotação de seus próprios produtos. Isso muda o contexto internacional muito mais do que a própria epidemia do coronavírus", opina Adeodato Netto, estrategista-chefe da Eleven Financial.

Para ele, se o impasse continuar, o preço do petróleo pode seguir despencando. "Não há limite para a oscilação de preços de commodities em momento de choque de expectativa. O típico dessa classe é de que o preço só se normalize quando houver algum tipo de condição para o novo equilíbrio", afirma Netto.

Coronavírus e guerra comercial já davam instabilidade ao mercado

O impasse entre sauditas e russos foi apenas o último ingrediente para que o caos se instalasse no mercado financeiro mundial. "O cenário é de tempestade perfeita. Tivemos uma instabilidade muito grande há alguns meses por conta da guerra comercial entre EUA e China, além da diminuição das perspectivas de crescimento por causa do coronavírus", relembra Wagner Parente, CEO da consultoria BMJ.

Ele aponta que, em momentos de tanta incerteza, o movimento natural é de fuga dos ativos considerados mais voláteis, que incluem aqueles associados a países emergentes, como o Brasil. Nesses casos, os investidores procuram ativos considerados mais seguros – como títulos do tesouro americano e a própria moeda dos EUA.

Na opinião de Parente, as próximas horas devem ser de mais estabilidade, mesmo que em um patamar baixo. Ele não descarta, porém, que a bolsa tenha que fazer outro (ou mais de um) "circuit breaker", para diminuir a volatilidade dos ativos.

O caos continua nos próximos dias?

Os analistas apontam que os próximos movimentos do mercado financeiro são imprevisíveis, já que dependem de um acordo que cesse a guerra do petróleo entre Arábia Saudita e Rússia.

Adeodato Netto afirma que, por trás do conflito, está, na realidade, uma disputa entre EUA e Rússia pelo mercado de energia. "A Arábia Saudita é um grande aliado dos EUA. Vai ser importante monitorar como será o posicionamento dos principais países do mundo", diz.

"Só Deus sabe como serão os próximos dias", concorda o CEO da BMJ.

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