• Carregando...
Toyota anunciou que desembolsou R$ 48 milhões este ano, além dos R$ 19 milhões investidos em 2015, para revitalizar sua fábrica em São Bernardo | JUSTIN SULLIVAN/AFP
Toyota anunciou que desembolsou R$ 48 milhões este ano, além dos R$ 19 milhões investidos em 2015, para revitalizar sua fábrica em São Bernardo| Foto: JUSTIN SULLIVAN/AFP

Na contramão da crise no setor automobilístico, que perde vendas e vê a produção despencar, as montadoras japonesas Honda, Toyota e Nissan e a coreana Hyundai mantêm números positivos e até investem. Nas fábricas dessas empresas, não houve demissões nem férias coletivas ou licenças remuneradas desde 2015, quando o desempenho da economia arrastou o setor.

A Nissan, por exemplo, planeja até contratações neste ano. As vendas caíram para todos os fabricantes – automóveis e comerciais leves acumulam queda de 27,9% entre janeiro e julho deste ano, ante o mesmo período de 2015, segundo a associação das montadoras (Anfavea) –, mas o estrago para essas marcas foi menor, e elas até ganharam participação no mercado.

“Essas montadoras produzem em escala menor e estão há menos tempo no Brasil, mas são marcas muito fortes lá fora. Aqui, elas se planejaram para ter um crescimento estruturado, a longo prazo, valorizam muito o consumidor e estão atuando em segmentos em que há espaço para crescer, como o dos SUVs compactos”, avalia Rodrigo Custódio, diretor da consultoria Roland Berger e especialista no mercado automobilístico.

A Hyundai desbancou marcas tradicionais no mercado brasileiro, como Fiat e Ford, e chegou à terceira colocação em participação de mercado, considerando unidades vendidas, no acumulado dos sete primeiros meses do ano em relação ao mesmo período de 2015, segundo dados da Fenabrave, associação que representa as revendas. A parcela dos coreanos subiu de 9,12% para 11,40%. As vendas da Hyundai caíram 5,20%, no mesmo período, bem menos que a queda do mercado como um todo.

Apesar da recessão, a Toyota anunciou, na semana passada, que desembolsou R$ 48 milhões este ano, além dos R$ 19 milhões investidos em 2015, para revitalizar sua fábrica em São Bernardo, no ABC Paulista. Lá são produzidas peças para alguns modelos, como Corolla, Camry e Ethios, por 1.433 funcionários. No ano passado, a unidade passou a ter o terceiro turno, enquanto grandes montadoras da cidade extinguiram esse período de trabalho.

A Toyota construiu, na mesma unidade, o primeiro centro de pesquisa aplicada da América Latina, com laboratório e centro de design. Ele permitirá à equipe de engenharia brasileira ter mais autonomia e participar de projetos no país e globais.

Produção e demanda

Para o especialista no mercado automobilístico Raphael Galante, da consultoria Oikonomia, essas montadoras se diferenciam porque trabalham com estoques menores, adequando mais facilmente a produção à demanda. Ele cita o exemplo da Honda, que mantém paralisada sua nova unidade na cidade de Itirapina, em São Paulo, concluída em 2015. A produção está concentrada na fábrica de Sumaré, no interior de São Paulo.

“É uma estratégia adequada. Não adianta começar se não há demanda. Só faz sentido começar a produzir quando o mercado se recuperar”, diz Galante.

A montadora confirma que a unidade só vai funcionar quando a crise passar, e que a decisão de manter a unidade sem produzir é uma medida responsável.

Custódio, da Roland Berger, observa, ainda, que a Honda acertou ao entrar, há um ano, num segmento em que os brasileiros tinham poucas opções, os utilitários compactos. Com o lançamento do HR-V, em 2015, passou a concorrer com o Ecosport, da Ford. Nos sete primeiros meses deste ano, o HR-V tornou-se o oitavo carro mais vendido no país, com 35,2 mil unidades comercializadas, enquanto o Ecosport aparece na 19ª colocação,com 14,9 mil unidades vendidas, segundo dados da Fenabrave.

Atenta a esse nicho, a Nissan está lançando seu SUV compacto, o Kicks, que chegou ao mercado durante a Rio-2016. Ao mesmo tempo, a montadora anunciou que pretende contratar mais funcionários para produzir o modelo no Brasil, a partir do primeiro trimestre de 2017. Com isso, a japonesa abrirá um segundo turno em sua fábrica em Resende (RJ) e admitirá mais 700 funcionários, além dos 1.800 atuais.

A Hyundai Brasil mantém sua produção em três turnos, durante os cinco dias da semana, e pretende repetir em 2016 o mesmo volume de unidades fabricadas no ano passado: 165 mil. A empresa destaca o início de suas exportações de HB20 produzidos unicamente na fábrica de Piracicaba, em São Paulo, para o Uruguai, e isso deve se estender a outros países latino-americanos. Serão 300 unidades até o fim de 2016 e outras 600 ao longo do próximo ano. As vendas do HB20 apresentam crescimento de 7,8% entre janeiro e julho, em relação ao mesmo período de 2015, e o carro já é o segundo mais comprado do país.

Folha de pagamento

Segundo Galante, da consultoria Oikonomia, as montadoras que têm fábricas fora do ABC têm um custo menor de produção, já que os salários dos metalúrgicos por lá são maiores devido à atuação dos sindicatos. Ele diz que, em alguns casos, um funcionário da estamparia de uma fábrica no ABC ganha 40% a mais que alguém na mesma função em outras unidades fora da região.

Além disso, as fábricas de marcas como Honda, Hyundai e Nissan, que são mais novas, são mais produtivas porque apresentam maior grau de automatização.

“O sindicato fez o papel dele para conseguir salários mais alto. Mas, na hora da crise, a conta chega”, explica Galante.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]