Depois do recorde de vendas no ano passado, o comércio já se prepara para um Natal mais magro em 2008 em função da escassez do crédito e do pessimismo entre os consumidores, provocado pela crise. Setores cujas vendas são mais dependentes de financiamentos, como eletrodomésticos, eletrônicos e automóveis, devem ser os mais afetados.
Uma sondagem da Associação Comercial do Paraná (ACP) com lojistas revelou que o comércio de Curitiba prevê um aumento de 4% nas vendas nesse fim de ano. Se confirmado, será o menor crescimento dos últimos cinco anos. Em 2007, as vendas haviam crescido 13,3% e, em 2006, 9%. Em números absolutos, no entanto, ainda será um volume recorde, mesmo com um crescimento menor, uma vez que a base de comparação de 2007 considerado o melhor Natal da década já era elevada.
O levantamento, realizado depois do agravamento da crise, em meados de setembro, mostra uma mudança significativa no ânimo do comércio. Até então, a expectativa era de um incremento de 8% nas vendas natalinas. Segundo o vice-presidente de serviços da ACP, Élcio Ribeiro, o Dia da Criança, em outubro, foi um termômetro da mudança de cenário. "A estimativa era de um avanço de 9% nas vendas, mas elas aumentaram 7%", afirma.
As grandes redes de lojas também já revisaram suas projeções para o Natal. O Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV) que reúne as 31 maiores cadeias de varejo do país, que juntas somam um faturamento de R$ 100 bilhões reduziu de 8,5% para 6% o crescimento de vendas para 2008. Em 2007, o comércio havia crescido 9,7%. "O varejo está consciente de que, neste ano, a disputa pelo consumidor será maior e terá que adotar estratégias mais agressivas", diz Emerson Kapaz, diretor do IDV.
Se no Natal do ano passado o diferencial entre as redes estava no prazo, neste fim de ano estará no preço, prevê. Na prática, significa que, com menos crédito no mercado e menos opções de financiamento, vai ser mais difícil para as lojas repassarem preços. Até meados do ano, para driblar a inflação, algumas redes tinham esticado os prazos de pagamento para que o produto, mesmo mais caro, coubesse no bolso. "Isso mudou, quem quiser vender vai ter que segurar as margens", afirma Kapaz.
Segundo ele, o "bombardeio" de informações a respeito da crise abala a confiança do consumidor, que passa a temer, por exemplo, a perda do emprego. E, com menos crédito no mercado, compra menos e, além disso, itens de menor valor.
A ACP prevê que o tíquete médio seja menor neste ano, e fique em R$ 70. Em outubro, um levantamento da Paraná Pesquisas, realizado pedido da Gazeta do Povo, já antecipava essa tendência. De acordo com a sondagem, 43% dos 464 entrevistados disseram que pretendem gastar menos nesse Natal. Outros 30% afirmaram que vão gastar o mesmo que no Natal de 2007 e apenas 22% vão aumentar os desembolsos.
Para a Associação Paranaense de Supermercados (Apras), o segmento de bens duráveis como eletrodomésticos e eletroeletrônicos deve ser o mais afetado. A entidade espera um crescimento de vendas de 5% para esse tipo de produto, metade do que desempenho de alimentos, cuja estimativa é de um crescimento de 10%.
Segundo o vice-presidente da ACP, Élcio Ribeiro, o comércio terá que adotar um "dólar de Natal" para incrementar vendas. "Não dá para querer repassar na íntegra os efeitos do câmbio. Até porque parte dos estoques foram comprados antes da disparada da moeda", afirma. De acordo com ele, com o crédito mais curto e caro, a tendência é que o consumidor deixe de lado os financiamentos e opte pelas compras à vista.