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 | Gustavo Domingues
| Foto: Gustavo Domingues

Os trucks trouxeram sofisticação ao bom e velho comércio ambulante. Do caixeiro viajante ao pipoqueiro, o modelo de negócio independe de um ponto fixo e a empresa inteira pode ser completamente deslocada, de acordo com as necessidades do empreendedor e da clientela. Na evolução do mercado, cresceram também os segmentos apresentados na versão móvel. Além das mais diversas guloseimas, no setor de alimentação, há comércio de roupas, serviços de pet shop e até baladas itinerantes. Muda o formato, mas a essência permanece. “As necessidades básicas do varejo são as mesmas: qualidade de produto e conveniência”, aponta o professor Luciano Minghini, especialista em Planejamento Estratégico e professor do ISAE/FGV, de Curitiba.

Com características peculiares, conforme a atividade, como a de alimentos – que fomentou amplo debate sobre uso de solo, localização de trucks e utilização de recursos como água e energia – em geral, a opção pelo comércio volante está ligada aos custos da operação. Sem aluguel ou condomínio para pagar, o empreendedor tem mais flexibilidade para definir preços, aumentando a margem de lucro. A redução de custos, porém, não dispensa a formalização da empresa. Nos registros legais, para fins tributários e de fiscalização, a empresa deve ter um endereço fixo, que funciona como sede administrativa. “O que muda é a operação, que será levada aos ambientes onde o potencial de consumo é maior. O comerciante não fica limitado ao movimento de um ponto fixo”, observa o consultor do Sebrae Paulo Tadeu Graciano.

As necessidades básicas do varejo são as mesmas em um truck: qualidade de produto e conveniência.

Luciano Minghiniprofessor do ISAE/FGV.

Enquanto a legislação sobre os foods trucks caminha para a regulamentação em Curitiba, não há previsão de funcionamento legal para outras modalidades de negócios volantes. Os ambulantes tradicionais, como carrinhos de pipoca e cachorro-quente, têm regras específicas, ainda que careçam de atualização. “Não há uma referência do modelo, e a dificuldade de enquadramento é grande. Trabalhei oito meses na informalidade”, conta a empresária Fabiane Post Ploposki, da Boutique de Rua.

Via de regra, os volantes não podem interferir na rotina urbana, especialmente no trânsito. “Estacionar em áreas privadas, como estacionamentos de particulares ou empresas, desde que devidamente autorizado, é uma saída para manter o ponto em funcionamento”, diz Graciano. Respeitar esse ambiente é fundamental para o negócio, na visão do professor Minghini. “O vendedor deve cuidar para não agredir o ambiente social. Ele é uma ponte importante com a comunidade, um meio termo entre a venda em domicílio e a formalidade de uma loja física. Essa proximidade ajuda na operação.”

Via de regra, os volantes não podem interferir na rotina urbana, especialmente no trânsito. “Estacionar em áreas privadas, como estacionamentos de particulares ou empresas, desde que devidamente autorizado, é uma saída para manter o ponto em funcionamento”, diz Graciano. Respeitar esse ambiente é fundamental para o negócio, na visão do professor Minghini. “O vendedor deve cuidar para não agredir o ambiente social. Ele é uma ponte importante com a comunidade, um meio termo entre a venda em domicílio e a formalidade de uma loja física. Essa proximidade ajuda na operação.”

Know-how na prateleira

Em dezembro de 2008, a sacoleira Fabiane Post Ploposki precisava de uma ferramenta para melhorar o atendimento da clientela. As roupas amassadas nas sacolas e a prática de passar mercadoria para ser provada em casa não ajudavam nas vendas. A Boutique de Rua (foto) surgiu da necessidade de um provador itinerante e da exposição adequada dos produtos. Em um mês, Fabiane triplicou o faturamento. Recuperou o investimento inicial de R$ 125 mil em dez meses e viu o negócio ser copiado na cidade. Formatou o modelo como franquia e vendeu a primeira unidade em 2010. Há dois anos, mudou de atividade. Sem vender uma peça de roupa sequer, ela licencia a marca e promove as transformações nos veículos, dando total consultoria para quem quer entrar no ramo. “O pacote inclui a licença, a transformação e até a compra do veículo, que deve ser padronizado”, conta. Além de montar os carros para sua marca, também tem uma linha de transformação para outros segmentos, como salões de beleza e food trucks. “Formei a equipe ao longo do tempo. Transformar os carros gera maior rentabilidade do que a venda de roupas”, diz. A empresa chega a faturar R$ 800 mil por ano.

Delivery de beleza

Entre casar e abrir uma empresa para contornar a crise que deixou os dois desempregados há três anos, Amanda França e o então namorado Marcelo decidiram ser sócios primeiro nos negócios. A ideia de vender cosméticos porta a porta surgiu depois de o parceiro herdar da mãe uma loja do ramo. O movimento maior aos fins de semana inspirou a formatação do negócio. Anos depois, o projeto foi retomado. Foram seis meses entre a elaboração do plano de negócios e a transformação do veículo. A loja de produtos de beleza volante Van da Vaidade (foto) percorre 200 quilômetros por semana, com itinerário fixo, para atender clientes particulares em domicílio e profissionais dos salões de beleza que não têm muito tempo para ir às compras. São quase 2 mil itens, entre esmaltes, tinturas, cremes e acessórios. Com tíquete médio de R$ 30, a empresa fatura R$ 15 mil por mês e tem planos de expansão. “Demos entrada no registro da marca e, então, vamos formatar a franquia para abrir novas unidades”, conta Amanda.

Cliente bicho

Formado em medicina veterinária, Beto Bretanha identificou um nicho de mercado no atendimento de serviços de pet shop em domicílio. Há cinco anos criou o Van’s Dog, para banho, tosa, higiene e venda de produtos básicos para bichos de estimação que atende em casa. São duas unidades, com média de 15 cães por dia cada uma. O banho custa entre R$ 45 e 150, dependendo do porte do animal. O trabalho móvel exigiu adaptações no projeto, como a autonomia de energia elétrica e a parte hidráulica. Bretanha tem duas unidades em atividade em Curitiba, com faturamento mensal de R$ 18 mil cada uma. Em meados do ano passado, a empresa lançou a franquia do negócio. Para iniciar o empreendimento, o franqueado precisa investir a partir de R$ 75 mil, para adaptação do veículo.

Balada móvel

O empresário Maurício Somlo, de São Paulo, formou um mercado inédito no país quando criou a Bus Party. Inspirado em uma experiência vivida nos EUA, Somlo trouxe para o Brasil, em 2010, o conceito de balada móvel, realizada dentro de um ônibus adaptado. Hoje são cinco veículos, quatro em operação, no Rio e em São Paulo. Em média, cada um faz 15 festas por mês, contratadas por hora, com DJ, barman, batata chips, espumante, água e refrigerante incluídos, por valores que vão de R$ 450 a R$ 1.250/hora, dependendo da capacidade do veículo, dia e horário do evento. A empresa quer expandir o modelo para outros centros urbanos e negocia a franquia desde 2012. A primeira unidade franqueada ainda está em fase de adaptação, no ABC Paulista. Para operar, é preciso fazer as adaptações no ônibus, que custam entre R$ 40 mil e 50 mil, além do investimento no veículo, a partir de R$ 70 mil.

Sebo itinerante

A ideia de vender livros e discos usados dentro de uma Kombi era simples: reduzir os custos do negócio. Com o acervo embarcado, Hamilton César Almeida de Lócco leva sua empresa para onde quiser. Grande parte do estoque fica guardado na casa de Lócoo. A On The Road participa de eventos culturais e universitários, e usa o carro para fazer entregas e buscar mercadoria nos clientes com quem negocia. Em breve, um triciclo também vai ajudar na tarefa. São três anos de atividade, com faturamento de R$ 8 mil por mês. Além da Kombi, a empresa mantém o e-commerce pelo site e tem um ponto fixo na feirinha de antiguidades da Praça Espanha, aos sábados. “Os custos maiores são o de abastecimento e manutenção da Kombi, além do aluguel da máquina de pagamentos”, conta o fundador.

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