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Ilustração: Felipe Lima| Foto: /

Quando se pensa em máquinas no ambiente de trabalho, a imagem mais comum que vem à mente são os robôs no comando de linhas de produção. Esqueça isso. A tecnologia não vai afetar apenas o chão de fábrica. A verdade é que nem mesmo os CEOs das empresas vão escapar à automação no mercado de trabalho nas próximas décadas. Ao menor sinal de redução de oferta de mão de obra, as empresas terão como adotar tecnologias que substituem humanos.

Uma pesquisa da consultoria McKinsey com 58 países que concentram 78% da força de trabalho global mostra que praticamente nenhuma carreira está totalmente a salvo da automação. Nos próximos 40 anos, até 2055, metade das atividades de trabalho realizadas hoje poderão ser automatizadas considerando a tecnologia atual e da próxima década. A automação vai impactar até o topo do mercado de trabalho – um quarto do trabalho dos CEOs, como, por exemplo, analisar relatórios e dados para tomar decisões, já poderia ser substituído por máquinas capazes de processar dados e emitir conclusões.

INFOGRÁFICO: setores devem ser impactados de forma diferente pela automação

Impacto no Brasil será em 53 milhões de empregos

A boa notícia para nós, humanos, é que poucas ocupações – menos de 5% – são candidatas à automação completa. A maioria das profissões tem potencial de automação parcial, uma vez que apenas uma parte de suas atividades poderá ser automatizada. Nesse sentido, as máquinas tendem a avançar mais em funções que envolvem coleta e processamento de dados e trabalho físico em ambientes altamente previsíveis, como o chão das fábricas, onde as mudanças são relativamente fáceis de antecipar.

50 anos em três

O mercado de trabalho vai mudar mais nos próximos três anos do que mudou ao longo dos últimos 50 anos e a “culpa” disso é da robotização. Essa é a percepção de 71% dos participantes do estudo CEO Outlook, produzido pela KPMG, para os quais próximos três anos serão mais disruptivos que os últimos 50. E como vamos lidar com isso? Para Fernando Aguirre, sócio da KPMG, enquanto as máquinas vão fazer trabalhos menos qualificados e perigosos, nós, humanos, seremos liberados inventar, evoluir e gerenciar inovações “Não importa o que os computadores façam, pois muitos traços humanos não podem ser replicados pela tecnologia”.

Um exemplo é emblemático. Em 2016, os EUA atingiram um recorde graças à automação, segundo reportagem do The New York Times . O país produziu 85% mais bens do que em 1987, mas com apenas dois terços do número de trabalhadores. Depois da indústria, o setor de serviços é nova fronteira onde a automação mais avança no mundo, com destaque para uma área em especial: serviços de acomodação e alimentação. Cada vez mais, restaurantes e hotéis mundo afora usam as máquinas como uma opção para preparar, cozinhar ou servir comida e bebidas; fazer limpeza; recolher pratos sujos.

“As profissões muito previsíveis e focadas em análise de dados tendem a desaparecer. Nos próximos anos, veremos um retorno das ocupações pautadas pelo relacionamento e atenção às pessoas, aos clientes”, avalia o sócio da KPMG, Fernando Aguirre. Segundo ele, a relação de complementariedade entre homens e máquinas vai predominar no mercado de trabalho do futuro. “A grande vantagem, nesse ponto, é que as novas gerações já são mais familiarizadas com a tecnologia, o que tende a facilitar o processo de integração”, acrescenta.

Embora as máquinas já estejam entre nós e avancem cada vez mais em abrangência e inteligência, a automação não vai se consolidar do dia para a noite. O potencial técnico para automação difere dramaticamente entre setores e atividades e é apenas um dentre vários fatores determinantes para o avanço das máquinas no mercado de trabalho, a maioria deles de ordem econômica. Além do próprio custo da automação, com o desenvolvimento e implantação de hardware e software, têm o preço e a disponibilidade de mão de obra humana. Afinal, porque alguém investiria em automação em um cenário de trabalhadores mais abundantes e baratos?

A maioria dos benefícios da automação, contudo, pode vir não da redução de custos da mão de obra, mas sim do aumento da produtividade. A pesquisa da McKinsey sugere que a automação futura poderia aumentar o crescimento da produtividade global de 0,8% a 1,4% por meio da diminuição de erros, maior produção, qualidade, segurança e velocidade. Outro aspecto importante, segundo Aguirre, é o do envelhecimento da população. “Se olharmos no espectro global, a população ativa mundial começa a diminuir. A automação também compensar o envelhecimento”.

Imposto para robôs?

A automação está transformando o mercado de trabalho de tal maneira que tem até gente defendendo a necessidade de tributar as máquinas. Na eleição francesa, o candidato socialista Benoît Hamon já defende a criação de um imposto sobre os robôs. O argumento dele é o de que as máquinas substituem os humanos e geram riqueza e, portanto, devem ser tributadas. E Hamon não está sozinho. No ano passado, a deputada Mady Delvaux encaminhou ao parlamento europeu uma proposta que defende a criação de um imposto sobre o que ela define como ‘pessoas eletrônicas’, numa analogia aos impostos cobrados hoje de pessoas jurídicas. A justificativa se baseia no fato de que o avanço das máquinas está destruindo milhões de empregos e, com isso, tende a comprometer o sistema previdenciário de vários países.

No Brasil, automação vai impactar 53 milhões de empregos

Ainda que haja uma defasagem tecnológica em relação a outros países, a automação deve impactar metade da força de trabalho no Brasil até 2055, segundo o levantamento da Mckinsey. Isso significa que, até lá, 53 milhões de empregos no país passarão por algum nível de automação. A maioria desses postos de trabalho – cerca de 11 milhões – estão na indústria brasileira. O setor não é o que mais emprega no país, mas é o que apresenta o maior potencial de inserção de tecnologias de automação nos próximos anos – 70%. Dentro do setor de serviços, campeão de empregos no país, a área na qual a automatização mais deve avançar é a de acomodação e alimentação. Cerca de 2,2 milhões de trabalhadores que atuam em hotéis, restaurantes e áreas afins em todo o país terão suas atividades afetadas, em meio ou menor medida, pela automatização.

O apetite chinês

A nível mundial, contudo, a dimensão mais real da automação no mundos será vista na Ásia, mais especialmente na China, até pelo tamanho do mercado de trabalho chinês. Lá, a introdução de novas tecnologias de automatização vai afetar 395 milhões de trabalhadores. O país asiático, aliás, investiu pesado em automação nos últimos e vem se consolidando como o maior mercado mundial de robôs industriais, conforme reportagem do The New York Times. Dos grandes braços mecânicos nas linhas de montagem às máquinas que empacotam pães delicados, os robôs podem até ter sido inventados nos Estados Unidos, mas tudo indica que eles serão fabricados na China. De acordo com o jornal, dentro de cinco a dez anos, o setor robótico da China vai produzir robôs industriais tão bons quanto os da Alemanha e do Japão.

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