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| Foto: Angelo Merendino/AFP

Além das inúmeras ações trabalhistas que enfrenta em diversos países, a Uber foi protagonista de vários escândalos e processos regulatórios que fizeram de 2017 um dos anos mais conturbados para a companhia conhecida por revolucionar o mercado de mobilidade urbana ao criar um aplicativo que conecta passageiros a motoristas de carros privados.

As maiores polêmicas envolveram as acusações de roubar segredos de concorrentes, de usar uma ferramenta para driblar a investigação de autoridades, de esconder o vazamento de dados de milhões de clientes e de oferecer um ambiente de trabalho que favorece a discriminação e o assédio moral e sexual.

Opinião: O problema da Uber é ser uma empresa desleal

Além dos escândalos, a Uber teve duas derrotas expressivas em 2017: perdeu a licença para operar em Londres e foi reconhecida como empresa de transporte e não aplicativo de compartilhamento pela União Europeia.

Em meio ao ano conturbado, uma boa notícia, pelo menos para acionistas e investidores, foi a troca de comando - saiu o fundador Travis Kalanick, considerado figura pivô em toda a crise da Uber, e entrou o pacifista Dara Khosrowshahi.

Outra boa notícia para a Uber veio do Brasil. O Senado aprovou em outubro uma regulamentação favorável aos aplicativos de transporte, no lugar de um projeto vindo da Câmara que igualava o serviço aos táxis. O projeto volta para ser apreciado pela Câmara e, se aprovado, segue para sanção do presidente Michel Temer.

Confira, abaixo, uma retrospectiva dos principais fatos que marcaram os negócios da Uber no mundo em 2017:

Troca de comando

Em meio a uma onda de escândalos e à pressão dos próprios acionistas, Travis Kalanick renunciou ao cargo de CEO da Uber em junho. Na sua gestão, a empresa foi acusada de roubar tecnologia de rivais, de manipular autoridades e de ser um local de trabalho machista, além dos inúmeros processos na Justiça e perda de espaço em mercados importantes como a China e a Rússia. No seu lugar, assumiu Dara Khosrowshahi, que na época era CEO da Expedia, uma plataforma de viagens.

A saída de Kalanick da Uber começou a ser cogitada já no início do ano, quando os escândalos envolvendo a companhia começaram a aumentar. Os acionistas e investidores da plataforma começaram a associar os problemas ao perfil de gestão de Kalanick, conhecido no mercado por querer vencer “a qualquer custo” seus concorrentes e por tornar o local de trabalho um ambiente hostil.

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Um fato que ganhou grande repercussão no início do ano e que mostrou que Kalanick estava perdendo o rumo do negócio foi a discussão do CEO com um motorista da plataforma durante uma corrida. O motorista do aplicativo questionou as tarifas reduzidas e os ganhos menores e Kalanick, no fim da discussão, perdeu o controle e falou palavras de baixo calão para o motorista. Tudo foi gravado e publicado na internet. O executivo até pediu desculpas pelo fato, mas não ajudou a melhorar a sua arranhada imagem.

Em junho, ele foi oficialmente afastado do cargo e a Uber começou a procurar um substituto. A procura, porém, não foi fácil. Segundo o site de tecnologia Recode, pelo menos cinco executivos de alto escalão recusaram o convite para colocar os negócios do aplicativo de transporte nos eixos, entre eles Sheryl Sandberg, diretora de operações do Facebook, e própria presidente do conselho da Uber, Arianna Huffington, fundadora do Huffington Post.

O nome do novo CEO só foi anunciado em setembro, dois meses depois. O escolhido foi o ex comandante da plataforma de viagens Expedia, Dara Khosrowshahi, conhecido por ter um perfil oposto ao de Kalanick. Ele é considerado pelo mercado como controlado, discreto, bom negociador e avesso ao risco. Sua missão é a de transformar a cultura da empresa e manter a liderança da empresa mesmo em meio a processos e ao acirramento da concorrência.

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Derrota em Londres

A Uber perdeu a licença para operar em Londres, capital da Inglaterra, a cidade mais populosa da Europa e um dos principais mercados para o aplicativo de transportes. A decisão foi comunicada pela Transport for London (TFL), autoridade de transportes da cidade, em setembro e teve o aval do prefeito da capital britânica, Sadiq Khan. A empresa recorreu da decisão e aguarda o julgamento final do processo. A Uber tem cerca de 40 mil motoristas na cidade.

A Uber recebeu em 2012 uma licença para operar por cinco anos em Londres. Em 26 de maio deste ano, o TFL concedeu uma extensão por mais quatro meses do prazo, enquanto analisava a concessão de uma nova licença. Em setembro, o regulador decidiu não renovar a licença, o que na prática proibe a Uber de atuar legalmente em Londres.

As autoridades afirmaram que a Uber representa uma ameaça à segurança. O maior problema da empresa na região foi que ela não forneceu informações sobre crimes ocorridos durante viagens através da plataforma. O regulador também demonstrou preocupação com a forma com que a empresa obtém certificados médicos e antecedentes criminais de seus motoristas e destacou o fato de a Uber ter criado um software que dificultava a inspeção de autoridades a motoristas do aplicativo.

Derrota na União Europeia

Além de perder a licença em Londres, a Uber teve também uma derrota em toda a União Europeia (UE). O Tribunal de Justiça da região decidiu que o aplicativo é uma empresa de transporte e não uma simples plataforma de intermediação entre passageiros. Com isso, a Uber deve ser regulamentada na UE como uma empresa de transporte, com necessidade de licença para operar, inclusive para seus motoristas. A decisão é do dia 20 de dezembro e não cabe recurso.

A regra vale para todos os 28 países-membros da UE, mas cada um pode regular as condições específicas para a oferta do serviço de acordo com as suas necessidades. Os países, porém, precisa seguir a decisão de enquadrar a Uber como uma empresa de transporte e sujeitar o aplicativo e os motoristas às regras previstas para esse tipo de serviço, como a obrigatoriedade de uma licença para operar.

Em defesa, a Uber argumentou que é uma plataforma de tecnologia que conecta motoristas independentes com os passageiros e que muitos de seus produtos já são cobertos pelas regulações em questão. Mas a empresa ressaltou que a decisão não vai mudar a forma como a empresa já opera na maioria dos países da UE.

Acusação de roubar tecnologia de concorrente

A Uber enfrenta na Justiça, além dos inúmeros processos trabalhistas, uma acusação de roubo de segredo tecnológico. A Alphabet, empresa controladora do Google, acusa a Uber de ter roubado a tecnologia de navegação de carros autônomos desenvolvida por sua empresa chamada Waymo. Um funcionário do aplicativo, inclusive, deu um depoimento afirmando que a Uber mantém uma área com o único intuito de roubar segredos de concorrentes. O caso ainda está sendo analisado pela Justiça.

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A Alphabet abriu um processo na Justiça americana contra a Uber em fevereiro deste ano. A companhia afirma que desenvolveu, através da sua empresa Waymo, uma tecnologia própria de navegação de carros autônomos chamada Lidar. Mas um ex-engenheiro da companhia, chamado Anthony Levandowski, teria roubado segredos da tecnologia e depois vendido à Uber.

A controladora do Google afirma que Levandowski baixou 9,7 gigabytes de arquivos confidenciais sobre a tecnologia de navegação Lidar antes de sair do cargo para fundar a startup Otto. A startup passou a oferecer, segundo a Alphabet, uma tecnologia igual ao sistema Lidar e logo depois foi comprada pela Uber.

Durante o processo, o ex-analista de segurança da Uber Richard Jacobs afirmou que a empresa mantém uma equipe com o único intuito de descobrir, vigiar e até roubar segredos industriais de concorrentes. O depoimento aconteceu em novembro após a Justiça descobrir uma carta escrita há mais de seis meses pelo advogado de Jacobs a um advogado da Uber com detalhes importantes sobre o funcionamento do departamento que, supostamente, vigia concorrentes. Os fatos agravaram ainda mais a situação da Uber no processo.

Denúncias de assédio e discriminação

O ambiente de trabalho da Uber foi descrito por alguns dos seus funcionários como um local que promove a discriminação e o assédio moral e sexual. Os relatos vieram à tona este ano e ajudaram na pressão para a saída de Travis Kalanick e levaram o aplicativo a adotar novas políticas internas.

As denúncias contra o ambiente de trabalho na Uber se intensificaram após o depoimento de Susan Fowler, funcionária do aplicativo que afirma que sofreu assédio sexual de um gerente da companhia. Ela publicou no início do ano em um blog americano prints de uma conversa em que seu superior exigiu que ela fizesse sexo com ele. A conversa aconteceu em um programa interno de comunicação da empresa. Ainda segundo Fowler, quando ela foi levar a denúncia para o RH, o departamento afirmou que não iria fazer nada contra o gerente.

Depois, a empresa resolveu abrir um número para que seus funcionários pudessem denunciar todo tipo de violações no trabalho. Centenas de reclamações foram registradas. A empresa foi acusada por alguns de seus funcionários de ter, também, preconceito com negros e mulheres, que estariam em minoria na companhia e que receberiam menos que seus pares.

A Uber nega as acusações, mas afirmou, na época, que mudou suas políticas internas para melhorar o ambiente de trabalho e combater qualquer prática discriminatória. A empresa tem cerca de 15 mil funcionários, o que não inclui os motoristas.

Ferramenta para enganar autoridades

Em março, o jornal The New York Times divulgou que a Uber usava desde 2014 um software para enganar autoridades no mundo inteiro. A ferramenta, chamada de Greyball, bloqueava solicitações de corridas feitas por autoridades que estavam investigando o aplicativo. Com isso, a autoridade tentava solicitar um Uber, mas via no aplicativo que não tinha nenhum motorista por perto.

Depois que o caso veio à tona, a empresa afirmou que a ferramenta é usada para evitar que passageiros suspeitos usassem o aplicativo. Esses passageiros seriam qualquer pessoa que poderia romper com os termos e condições do aplicativo, como machucar fisicamente os motoristas ou concorrentes que tivessem o intuito de prejudicar a empresa.

A Uber afirmou, ainda, que ia tomar as medidas necessárias para que a ferramenta nunca fosse acionada diante de uma solicitação de uma autoridade.

Vazamento de dados

Além dos vários escândalos na esfera judicial, a Uber escondeu por um ano ataque que roubou dados de 57 milhões de pessoas no mundo todo. A informação foi divulgada pelo próprio novo CEO da companhia, Dara Khosrowshahi, em uma tentativa de limpar a barra do aplicativo e mostrar que, agora, a Uber está mudando a maneira de fazer negócios, sendo uma empresa transparente.

O ataque hacker aconteceu em outubro de 2016 e o CEO na época, Travis Kalanick, fez de tudo para esconder o fato. Os criminosos conseguiram ter acesso a informações que incluem nomes, endereços de e-mail e números de telefone de 50 milhões de usuários e 7 milhões de motoristas do aplicativo.

A Uber pagou US$ 100 mil aos hackers para excluir os dados roubados e abafar o caso. Na época, a empresa estava negociando com agências reguladores dos Estados Unidos como poderia colaborar sobre violações da privacidade e os termos do acordo fechado a obrigavam a denunciar qualquer ataque contra a sua base de clientes.

Khosrowshahi afirmou que o chefe de segurança, Joe Sulllivan, e seus assistentes responsáveis por ajudar a encobrir o caso foram demitidos.

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