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Criança mexe em um iPhone. | DariuszSankowski/Pixabay
Criança mexe em um iPhone.| Foto: DariuszSankowski/Pixabay

Dois grandes acionistas da Apple chamaram a atenção da empresa para que ela mude a forma como lida com alguns dos seus clientes mais jovens, alegando que os produtos da gigante tecnológica podem causar danos físicos ou psicológicos às crianças no longo prazo

Os acionistas, Jana Partners e California State Teachers Retirement System, juntos controlam US$ 2 bilhões em ações da Apple. No sábado, os dois grupos publicaram uma carta ao conselho de administração da Apple argumentando que o enorme sucesso do iPhone torna a Apple responsável por garantir que os dispositivos não sejam abusados.

Citando uma série de estudos recentes que conectam o uso excessivo de celulares com o vício e outros problemas de saúde, especialmente entre os adolescentes, os investidores argumentam que os dispositivos eletrônicos da Apple não têm proteções suficientes para uma sociedade cada vez mais dependente de celulares.

“É desafiar o bom senso argumentar que esse nível de uso, por crianças cujos cérebros ainda estão em desenvolvimento, não está gerando pelo menos algum impacto, ou que o criador de um produto tão poderoso não tem nenhum papel a desempenhar para ajudar os pais a garantirem que isso está sendo usado da melhor maneira”, diz a carta.

Uma série de pesquisas sugere uma conexão entre smartphones e ansiedade ou depressão. Um artigo de 2017 concluiu que os usuários que estavam sofrendo desses distúrbios podem ser mais suscetíveis ao que alguns chamam de “dependência de smartphones”. Outro descobriu que jovens que eram “viciados” em celulares apresentaram desequilíbrio nas substâncias químicas cerebrais correlacionadas com insônia severa e impulsividade.

Embora as preocupações com os celulares e seus efeitos sobre a função cerebral circulem entre o público há décadas, a carta marca a primeira vez que os próprios acionistas de uma empresa de tecnologia acionam esse alarme, dizem analistas, indicando o potencial de uma mudança mais ampla na indústria.

“Este é um momento fundamental para os acionistas falarem sobre isso”, disse Jim Steyer, CEO da Common Sense Media. O grupo de advocacia pediu aos americanos que não usem seus dispositivos na mesa de jantar com uma campanha de serviço público estrelada por atores de Hollywood, como Will Ferrell, e que é avaliada em US$ 50 milhões em tempo de exibição. “Este é um grande negócio, e só vai aumentar.”

A carta também surge num momento em que o Vale do Silício enfrenta uma resistência maior do público. A indústria de tecnologia viu suas fortunas postas em xeque rapidamente no ano passado, quando os consumidores descobriram até que ponto as notícias falsas, o assédio online, a má conduta sexual e outros problemas preocupantes afetavam suas vidas pessoais e locais de trabalho.

A carta dos acionistas argumenta que a adoção de uma abordagem mais sensível ao bem-estar das crianças seria boa para as empresas. A Apple poderia se beneficiar financeiramente, afirma, tornando seus dispositivos e softwares mais atraentes para os consumidores.

Os acionistas também dizem que as escolhas de design da Apple obrigam os pais a tomarem decisões de segurança binária, como habilitar ou desativar aplicativos por completo. Uma alternativa melhor, dizem alguns especialistas, seria permitir uma abordagem mais flexível em que os pais pudessem decidir quanto do conteúdo de um aplicativo estaria acessível ou criar notificações que lembrem aos pais para falar sobre o uso desses dispositivos com seus filhos.

Recursos e cautela

No iOS da Apple, os usuários têm acesso a controles parentais que são conhecidos como “restrições”. As restrições impedem que um dispositivo exiba determinados aplicativos, recursos e serviços, especificados pelo responsável. Outras características, tais como o Acesso Guiado, podem ajudar a evitar que crianças se desviem de um aplicativo particular, enquanto a Solicitação de Compra exige que um adulto ou outra pessoa autorizada aprove a compra de apps ou de funções dentro dos apps.

Muitos especialistas em segurança digital estabelecem uma distinção entre os dispositivos que se tornaram ubíquos na sociedade e os aplicativos ou serviços digitais que funcionam neles. Em muitos casos, os analistas direcionam suas mais fortes críticas às empresas de redes sociais, como Facebook e Twitter, dizendo elas deliberadamente projetam seus produtos a fim de aumentar o tempo e a atenção que os usuários lhes dedicam.

A Academia Americana de Pediatria há muito orienta que crianças com menos de dois anos não devem ter tempo de exibição e que o tempo de tela das crianças mais velhas deve ser rigorosamente regulado, disse Stephen Balkam, diretor executivo do Family Online Safety Institute. Essa orientação foi desenvolvida pela primeira vez em 1999.

A comunidade médica está menos confiante em usar a palavra “vício” para descrever o uso excessivo dos dispositivos, disse Balkam. Embora possa ser tentador para os consumidores usarem a palavra, ela tem fortes conotações clínicas que não são suportadas pela pesquisa.

“Eu seria extremamente cuidadoso em usar a palavra ‘vício’ digital”, disse. “A medicina não declarou que isso é um vício. Certamente, os produtos e aplicativos são muito atraentes. E, sim, há um comportamento que você pode descrever como obsessivo, tanto para crianças quanto para adultos. Mas, descrevê-lo como um vício é, francamente… um exagero”.

Resposta da Apple

Em nota ao site VentureBeat, a Apple afirmou que “está sempre atenta às crianças” e que “tem novos recursos e melhorias planejados para o futuro, a fim de acrescentar funcionalidades que tornam essas ferramentas [de controle parental] ainda mais robustas”, porém sem especificar quais são ou quando elas serão lançadas.

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