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Fachada de uma loja do SoftBank, dono do Vision Fund. | MIKI Yoshihito/Flickr
Fachada de uma loja do SoftBank, dono do Vision Fund.| Foto: MIKI Yoshihito/Flickr

Excêntrico. Este é o adjetivo mais utilizado para descrever Masayoshi Son, fundador e CEO do SoftBank, conglomerado japonês para quem o mundo voltou os olhos quando anunciou o mais ambicioso fundo de investimentos em tecnologia de que se tem notícia, o Vision Fund. O objetivo dele é captar US$ 100 bilhões para investir em empresas de tecnologia.

Até o momento, o Vision Fund conseguiu captar US$ 98 bilhões. Para chegar à cifra bilionária, Son contou com aportes do fundo soberano da Arábia Saudita, no valor de US$ 45 bilhões, além de US$ 25 bilhões do próprio SoftBank e quantias menores de empresas como Apple, Foxconn, Qualcomm, Mubadala e Sharp.

Investimento a longo prazo

Com foco em retornos a longo prazo, o Vision Fund busca investir em empresas de setores diversificados de tecnologia, como robótica, inteligência artificial, satélites e carros autônomos. Mas, a princípio, as atenções parecem voltadas a empresas de transporte. A compra de 15% das ações da Uber, anunciada em dezembro de 2017, foi o ápice de uma série de investimentos e sinaliza um grande interesse de Son.

Antes da Uber e do Vision Fund, o SoftBank já havia feito investimentos nos aplicativos Lyft (Estados Unidos), Ola (Índia), Grab (sudeste da Ásia, como Filipinas e Vietnã), 99 (Brasil) e, o mais significativo deles, na chinesa Didi Chuxing, no valor de US$ 5 bilhões. A Didi Chuxing, inclusive, venceu uma batalha custosa com a Uber no mercado chinês e terminou por comprar a operação da rival no país, em 2016.

Na Uber, o valor oficial do investimento do Vision Fund foi de US$ 9,3 bilhões, o maior do fundo até então. A negociação tem sido vista como uma perda para a Uber, que viu seu valor de mercado, na época estimado em US$ 70 bilhões, ser reduzido para US$ 48 bilhões no momento da venda da participação de 15%.

A desvalorização pode ter sido consequência de uma série de crises enfrentadas pela Uber, como acusações de assédio sexual, roubo de projetos de concorrentes e vazamento de dados de clientes, que levou, inclusive, à troca do CEO da empresa. Com a participação, o SoftBank passou a ser o maior acionista da Uber e ter direito a dois assentos no conselho administrativo da empresa.

Negócios diversificados

A empresa americana de inteligência artificial Brian Corp figura entre as que já receberam investimentos do Vision Fund, o menor deles, na casa dos US$ 114 milhões. Ela desenvolve robôs autônomos que “tomarão conta de nós” no futuro.

Também se destaca o investimento feito na Slack Technologies, dona do aplicativo Slack, uma espécie de WhatsApp para ambientes corporativos, no valor de US$ 250 milhões.

LEIA TAMBÉM: Como o Slack, espécie de “WhatsApp corporativo”, enfrenta as gigantes da tecnologia

Outro empresa que recebeu investimentos bilionários do Vision Fund foi a WeWork, startup unicórnio de coworking. Foram US$ 4,4 bilhões, onde, a exemplo da Uber, o SoftBank também arrematou dois assentos no conselho administrativo. Para Son, um investimento desta proporção em uma empresa de coworking deve desencadear uma nova onda de produtividade em todo mundo.

Há, ainda, investimentos anteriores feitos pelo SoftBank e que acabaram compartilhados com o fundo. Entre eles, destaca-se a compra da empresa de chips ARM Holdings, em 2016, por US$ 32 bilhões. O Vision Fund deve adquirir 25% de participação na empresa, no valor de US$ 8,2 bilhões.

Outros investimentos do SoftBank que devem ser oferecidos ao fundo incluem os da Nauto (US$ 160 milhões), empresa de carros autônomos; da Improbable (US$ 500 milhões), de realidade virtual; da SoFi (US$ 1 bilhão), companhia de finanças pessoais online; e da OneWeb (US$ 1,2 bilhão), provedor de internet por satélite com investimentos.

O Vision Fund também investiu em empresa já consolidadas, como US$ 5 bilhões na Nvidia, que desenvolve chips gráficos em alta demanda por diversas áreas, da mineração de criptomoedas aos carros autônomos.

Há, também, investimentos um tanto curiosos para quem se propõe focar em tecnologia. Um deles foi na Plenty, empresa especializada em fazendas verticais indoor, no valor de US$ 200 milhões. Se à primeira vista parece estranho, para Son é mais que natural pensar na importância de incentivar formas alternativas de produção de alimentos, em especial nos arredores de grandes centros.

Somente em janeiro de 2018, o Vision Fund anunciou três novos investimentos. Um deles, surpreendente: US$ 865 milhões em uma empresa de construção, a Katerra, que existe há apenas três anos, considerado um aporte gigantesco para uma companhia não tão renomada e de um ramo onde fundos de investimento em tecnologia não costumam atuar. Os outros dois foram US$ 560 milhões na alemã Auto1, um portal que facilita a venda de usados direto pelos proprietários, e US$ 300 milhões na Wag, uma startup de passeadores e cuidadores de cães.

Son parece sempre ter uma resposta na ponta da língua quando questionado sobre suas decisões de negócio. Focando nos resultados a longo prazo, o empresário acredita estar construindo uma nova revolução. “Observamos um ‘big bang’ com os PC, observamos um ‘big bang’ com a internet. Acredito que o próximo ‘big bang’ será ainda maior. Para estarmos prontos, precisamos montar as bases e essas bases são o Vision Fund do SoftBank”, disse em uma conferência com acionistas.

Son acredita que se tornará, em 10 anos, o maior investidor em tecnologia do mundo. O SoftBank anunciou já ter comprometido 40% do dinheiro do Vision Fund em 22 empresas, e a intenção de, no futuro, separar o braço de investimentos da empresa de telecomunicações, o que daria mais tempo a Son para costurar novos acordos.

Desequilíbrio

Sozinho, o Vision Fund é maior que os cinco maiores fundos subsequentes somados, US$ 98 bilhões contra US$ 97,8 bilhões, segundo levantamento do site Recode. Comparado a outros fundos atuais focados em tecnologia, a diferença é brutal. O maior deles, da Andreessen Horowitz, é de US$ 5,6 bilhões.

Se toda esta ambição e as cifras do Vision Fund impressionam, o fundo também causa preocupação em outros investidores, que temem que esteja sendo formada uma “bolha” de investimentos em tecnologia causada por um mercado superaquecido.

É o que pensa, por exemplo, Howard Marks, da Oaktree Capital, firma americana especializada em estratégias de investimento. Em um comunicado publicado no site da empresa em julho de 2017, Marks questiona a capacidade do Vision Fund de investir seus quase US$ 100 bilhões em negócios que terão bom desempenho, perguntando se existe, em especial na figura de Son, habilidade ou apenas sorte. Isso porque o sucesso do SoftBank se deve muito a um único investimento de US$ 20 milhões feito por Son no Alibaba, o gigante do varejo chinês, em 2000. Hoje, essa fatia da empresa vale cerca de US$ 50 bilhões.

Marks também se pergunta se existem empresas de tecnologia suficientes para receberem tamanho investimento, citando que a abundância de capital durante a euforia ponto-com do início dos anos 2000 levou a uma bolha. “Temos uma organização que nunca administrou dinheiro de terceiros iniciando o maior fundo da história para fazer exatamente isso. Sua experiência é transferível? Tomando estes aspectos, acredito que o fundo indica um alto nível de entusiasmo e um baixo nível de ceticismo”, diz ele no comunicado.

Talvez Son realmente tenha com o que se preocupar nesta busca ambiciosa. O Vision Fund já teve sua primeira baixa, com o investimento de US$ 1,1 bilhão, juntamente como Founders Fund, feito na farmacêutica Roivant Sciences. A empresa estava desenvolvendo em um de seus braços, o Axovant Sciences, um tratamento experimental para o Alzheimer, o medicamento Interpedine, que falhou. O anúncio foi feito cerca de um mês após a divulgação do investimento.

Apesar de não ter comentado o caso, uma pessoa próxima ao SoftBank afirmou, em matéria publicada pelo blog norte-americano TechCrunch, que a premissa do investimento não era o sucesso deste medicamento, mas em teses que devem ser produzidas a longo prazo pela Roivant.

Seja por habilidade ou por sorte em investir em negócios que o resto do mercado não dá bola e que viram verdadeiros potes de ouro, Son e o Vision Fund devem dar o que falar nos próximos anos.

Uma empresa de 300 anos

Son diz, sem ironias, ter planos para os próximos 300 anos do SoftBank e, como objetivo, criar a empresa mais valiosa do mundo. Os planos foram anunciados em 2010, durante a 30.ª reunião anual do grupo, pautada por uma apresentação de slides. Dentro desse período de 300 anos, os 30 iniciais são “apenas o primeiro passo” do projeto. A apresentação, que se estende por mais de 130 slides, combina bastante com o perfil do poderoso japonês: um tanto bizarra, recheada de ilustrações e fotos tiradas de bancos de imagens, além de gráficos com comparações no mínimo estranhas.

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Os slides começam expondo quais as maiores tristezas na vida de uma pessoa. Solidão é “a coisa mais triste na vida de uma pessoa”. O trabalho do SoftBank seria, então, trazer alegria para a vida das pessoas e a revolução da informação seria o caminho para a “felicidade de todos”. Até atingir esse objetivo, querem criar um “computador cerebral”, uma simbiose entre o cérebro humano e sua sabedoria e a capacidade dos computadores de acumularem dados e informações.

A apresentação traz ainda uma estimativa da longevidade da população do Japão, que deve passar de 83 para mais de 200 anos em 2300, acompanhando o surgimento de órgãos artificiais e tratamentos de DNA. Também estão contempladas a possibilidade dos seres humanos se comunicarem por telepatia e de conviverem pacificamente com robôs em seu dia a dia.

Você pode ver a apresentação completa, em inglês, abaixo:

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