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Protótipo  de eVOLT. | Aurora Flight Sciences/Divulgação
Protótipo de eVOLT.| Foto: Aurora Flight Sciences/Divulgação

O sonho dos carros voadores existe há mais tempo do que a Boeing vem fazendo aviões. Agora, uma visão das páginas de Jules Verne está perto o suficiente de ocupar os planos atuais da liderança da Boeing.

“Acredito que vai acontecer mais rápido que qualquer um de nós imagina”, disse o CEO Dennis Muilenburg. “Protótipos reais estão sendo construídos agora. Então, a tecnologia é muito viável”.

A nova era de veículos voadores está perto o bastante para que o homem que supervisiona aviões e naves espaciais comece a traçar o que ele chama de “leis de trânsito” para as rodovias tridimensionais.

Taxis aéreos autônomos e drones de entregas são potencialmente as próximas disrupções a varrerem a indústria aeroespacial, com a Boeing e sua arquirrival, a Airbus, entre as fabricantes que correm para largarem na frente.

Muilenburg vê isso como uma rara oportunidade de dar forma a um novo ecossistema de transporte. Frotas de automóveis autônomos podem estar pairando sobre as cidades e se esquivando de arranha-céus dentro de uma década, segundo ele. Impulsionam esses avanços o aumento dos investimentos, os rápidos ganhos em autonomia e a frustração cada vez maior dos consumidores com engarrafamentos.

Outros observadores concordam com seu cronograma. Os drones elétricos para transporte de passageiros, com capacidade de dois a cinco passageiros sentados e similares aos helicópteros que já conhecemos, podem entrar no mercado já nos próximos dois anos, de acordo com estudo recente da Deloitte. No início dos anos 2020, segundo o estudo, carros voadores poderão dirigir para os aeroportos pelas estradas e então decolar para pistas aéreas.

Mesmo a Nasa está estudando a viabilidade do que eles chamam de “mobilidade aérea urbana”. Mas para que qualquer uma destas tecnologias se consolide, é preciso que os reguladores resolvam uma série de problemas de segurança, começando por como gerenciar, juntos, o tráfego convencional e o das máquinas voadoras.

“Não será tudo ativado em um dia”, disse Muilenburg.

Todos querem o céu

A Boeing reforçou seu portfólio de aeronaves não convencionais sem pilotos no ano passado, ao comprar a Aurora Flight Sciences, cujos projetos incluem um novo táxi voador que está sendo desenvolvido em parceria com a Uber. Outros parceiros para o futurista serviço Elevate são a Bell Helicopter, da Textron, e a Embraer, fabricante brasileira de aviões que, no momento, negocia uma parceria ou venda à Boeing.

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A Aurora desenvolve veículos autônomos desde o final dos anos 1980. Seu portfólio de novas máquinas voadoras inclui um helicóptero robótico de dois assentos conhecido como eVTOL (uma abreviação para veículo elétrico de decolagem e pouso vertical, em inglês). Em um futuro não muito distante, a Aurora planeja que seus passageiros embarquem em aeroportos verticais localizados em telhados, ou “vertiportos”. Voos de testes devem começar em 2020, em Dallas e em Dubai, de acordo com a empresa.

Outras fabricantes também estão se apressando para lançar seus novos conceitos em helicópteros no mercado. O Vahana, táxi aéreo autônomo desenvolvido pela A3, um posto avançado centrado em tecnologia da Airbus, localizado no Vale do Silício, completou seu primeiro voo teste no dia 31 de janeiro. Intel e EHang também estão testando seus veículos voadores.

A próxima geração de veículos da Uber e da Lyft não decolará até que fabricantes e reguladores descubram como impedir que eles trombem em edifícios, aviões comerciais, aviões pessoais e entre si. Isso requer saltos em inteligência artificial e tecnologia de sensores dos drones pessoais de hoje, que geralmente voam à vista de seus operadores. “Neste momento, estamos passando de uma indústria hobbista para uma comercial”, afirmou Darryl Jenkins, consultor aeroespacial especializado em carros autônomos.

Jenkins acredita que os drones serão utilizados, primeiramente, para transportar pacotes, como as três bilhões de pizzas entregues anualmente nos Estados Unidos. O transporte aéreo de humanos é muito mais complicado e uma série de problemas ainda precisa ser resolvida. Sem pilotos de carne e osso ou tripulação, quem garantirá que os passageiros estarão protegidos das hélices expostas da máquina, que movem a maioria dos táxis aéreos?

O fator segurança

Os passageiros não abraçarão as embarcações voadoras a menos que sua segurança esteja garantida, mas obter aprovação dos reguladores de aviação para drones que levem pessoas deverá custar milhões de dólares e demorar alguns anos — e isso a partir do momento em que agências como a FAA (equivalente norte-americana da Anac) decidirem quais devem ser os padrões, que, atualmente, sequer existem. “Nada disso foi certificado”, disse John Hansman, professor de aeronáutica no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), que estudou a questão. “As pessoas na FAA estão preocupadas em como fazer isto, mas ninguém sabe como ainda”, continua.

Um dos principais motivos para a série de anos sem fatalidades na indústria aérea norte-americana, algo sem precedentes, é o processo rigoroso de certificação de aeronaves. Os mesmos padrões elevados também devem tornar mais difícil a aprovação de novos projetos revolucionários para veículos robóticos.

As regulações nos Estados Unidos e equivalentes em todo mundo exigem que as fabricantes devem demonstrar que as falhas catastróficas são tão remotas que não acontecerão em bilhões de voos. Isso significa que as asas não vão cair ou o piloto automático vá virar para o chão durante toda a vida útil de um modelo.

A menos que o Congresso ou a FAA facilitem os padrões para veículos autônomos, a Boeing e outros fabricantes devem provar aos reguladores que seus sensores são igualmente confiáveis. “É extremamente caro certificar novas aeronaves, mesmo quando você está fazendo isso para um uso bem estabelecido e com regras bem estabelecidas”, disse Steve Wallace, ex-funcionário da FAA que supervisionou investigações de acidentes e também trabalhou no setor de certificações da agência. “Estamos tentando criar todo um novo uso para o qual não há regras. É uma tarefa imensa”, afirmou.

Os próximos passos

Muilenburg, de 54 anos, é engenheiro aeroespacial treinado e gosta do desafio de pensar através de sistemas “sinta-e-evite” e outras tecnologias para prevenir o caos aéreo. “Estamos fazendo investimentos lá”, disse ele. “O ecossistema autônomo do carro está fazendo investimentos lá”, completou.

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Dada a idade média de 65 anos para a aposentadoria na Boeing, ele provavelmente estará presente para lidar com as consequências das estratégias de produto planejadas hoje — desde uma família de aviões totalmente nova apelidada de “797” aos veículos com que ele espera atingir o mercado em larga escala até meados dos anos 2020.

Desde que Muilenbur assumiu o cargo de CEO na metade de 2015, a Boeing expandiu sua linha de aviões futuristas e criou um braço de capital de risco chamado HorizonX para promover tecnologias promissoras, como a propulsão híbrida-elétrica. A maior empresa industrial dos EUA também está investindo em ferramentas de design digital e impressoras tridimensionais que podem rapidamente transformar conceitos de aeronave em modelos de trabalho.

Drone de entregas da Boeing.Boeing/Divulgação

Tome, por exemplo, a plataforma de voo à bateria que a Boeing anunciou em janeiro (acima), um protótipo de drone de carga com capacidade de transportar cargas de 226 kg ao longo de 32 km. Foi desenvolvido em apenas três meses pela unidade Phantomworks, mas o multi-helicóptero poderia evoluir para o equivalente aéreo de uma picape.

Um dos investimentos da HorizonX está em uma empresa de Pittsburgh chamada Near Earth Autonomy. O spin-off do Instituto de Robótica da Universidade de Carnegie Mellon desenvolveu tecnologias de detecção que tornam as aeronaves sem motoristas muito mais inteligentes. Um vídeo da empresa, no YouTube, mostra um drone sobre uma pista em um campo, esquivando-se de árvores e ajustando seu curso por conta própria, sem o auxílio de um sistema de GPS

As possibilidades de utilização da tecnologia para melhorar a segurança são intrigantes, segundo Steve Nordlund, vice-presidente da Boeing responsável pela HorizonX. “Vamos aproveitar esta tecnologia potencialmente dentro da empresa. Ainda é cedo, mas esse é o plano”, completou.

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