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Jack Dorsey, CEO e cofundador do Twitter, tem também uma empresa  de pagamentos pelo celular, a Square | Bryan Thomas/NYT
Jack Dorsey, CEO e cofundador do Twitter, tem também uma empresa de pagamentos pelo celular, a Square| Foto: Bryan Thomas/NYT

Jack Dorsey se tornou um nome familiar no Vale do Silício graças a seu papel como CEO e um dos fundadores do Twitter. Mas a rede social não é o único negócio do executivo. Ele divide suas atenções como presidente da Square, empresa de meios de pagamentos pelo celular que ele próprio ajudou a fundar. E, ao contrário do Twitter, a receita da Square não para de crescer e a companhia está perto de se tornar rentável.

“A Square é uma empresa bem fundamentada para o sucesso no futuro”, afirma Ron Shevlin, diretor de pesquisa da Cornerstone Advisors. “Twitter? Quem sabe. Eles possuem uma imensa quantidade de usuários, mas vêm batalhando pela receita.”

As duas crianças de Dorsey, como ele se refere a suas companhias, têm a marca de seu criador e seu senso estético cuidadoso. A predileção pelas soluções simples, no entanto, não foi suficiente para mexer com o Twitter desde que ele voltou, em 2015, a liderar a empresa que ajudou a criar em 2006. Ele não conseguiu controlar o uso e o abuso dos robôs e atores políticos, e não encontrou uma maneira convincente de ganhar dinheiro apesar da base de usuários fiéis.

Na Square, Dorsey liderou uma das mais subestimadas histórias de sucesso, construída a partir dos quadradinhos de plástico branco que permitem que pequenos negócios aceitem pagamentos por cartões de crédito por meio de iPhones. A Square cresceu e se tornou uma empresa de serviços financeiros muito mais ampla, apesar de alguns sustos, como uma muito anunciada parceria com o Starbucks, que já foi encerrada.

Apesar de a receita geral do Twitter ter diminuído cinco por cento no segundo trimestre em comparação com o ano anterior, aumentando as perdas da empresa, na Square, a receita cresceu 26%, fazendo com que a startup esteja perto de se tornar rentável.

O destino divergente das duas companhias de Dorsey pode ser entendido simplesmente como uma questão de tempo e controle. Quando ele começou seu segundo turno como CEO do Twitter em 2015, a empresa já estava lutando e tinha uma série de problemas internos difíceis de mudar, entre eles a rotatividade de executivos e a falta de uma visão estratégica única.

Na Square, por outro lado, Dorsey conseguiu construir a companhia desde o início, a partir do que aprendeu com os erros do Twitter. “A Square não foi a primeira empreitada de Jack. Ficou claro desde o começo que ele aprendeu a lição que teve em seu período no Twitter e a aplicou na Square”, afirma Randy Reddig, que fez parte do time que fundou a Square em 2009.

Reddig diz que a educação que Dorsey teve a partir dos primeiros anos de rupturas no Twitter ficaram aparentes principalmente no controle que ele mantinha sobre as decisões de contratações e compensações na Square, com o objetivo de criar uma equipe fiel.

O sucesso de Dorsey na Square e seus problemas no Twitter também contam uma história mais ampla sobre o Vale do Silício, onde os negócios sem graça, de retaguarda, frequentemente geram mais dinheiro do que as chamativas redes sociais e serviços aos consumidores que capturam a atenção do público.

Square visa o lucrativo mercado de pagamentos eletrônicos

Dorsey colocou a visão estratégica da empresa no negócio mais invisível – pagamentos eletrônicos – que está tomando impulso à medida que mais e mais vendas são feitas on-line.

A Capgemini estimou recentemente que os pagamentos eletrônicos devem crescer 10,9% por ano entre 2015 e 2020. Não é coincidência que o maior sucesso entre as startups financeiras dos Estados Unidos na última década, além da Square, tenha sido a Stripe, que ajuda os negócios on-line a recolher pagamentos.

Além dos pagamentos, porém, a Square foca em um objetivo muito maior de fornecer uma alternativa tecnológica aos grandes bancos, expandindo os serviços para empréstimos e depósitos on-line. A Square solicitou uma carta bancária em Utah, tornando-se uma entre as apenas três das chamadas fintechs, ou startups do setor financeiro, a dar um passo tão corajoso (as outras são a Social Finance e a Varo).

A Square tem uma posição mais visível para usar a licença bancária com seus clientes comerciais, mas a empresa também vem construindo mais serviços parecidos com os dos bancos para seus clientes pessoais, principalmente com o aplicativo Square Cash.

O Square Cash é descrito frequentemente como um competidor e um imitador do Venmo, o popular aplicativo da PayPal que torna possível para amigos fazer pagamentos uns para os outros usando o celular. Desde o início, Dorsey e sua equipe fizeram várias opções de design do Square Cash que ajudaram a torná-lo diferente do Venmo. Como seria esperado de Dorsey, o aplicativo do Square possui uma interface verde limpa, comparado com o painel azul e lotado do Venmo.

A Square também tomou uma decisão técnica aparentemente chata, usar as redes de cartões de débito em vez de transferências bancárias para fazer o dinheiro trocar de mãos. Isso tornou mais fácil para o Square Cash colocar o dinheiro instantaneamente na conta bancária dos usuários e recolher sua taxa pelo serviço.

Essas diferenças parecem ter tornado o Square Cash mais popular entre os clientes de baixa renda, que com mais frequência precisam de acesso instantâneo ao dinheiro e que não possuem uma variedade grande de cartões de crédito e outras opções financeiras. “Estamos alcançando um público que talvez não tenha conta no banco ou que não possua o conjunto completo de serviços bancários”, explicou Dorsey aos analistas.

A mudança no uso dos clientes, que agora utilizam o Square Cash como algo mais parecido com uma conta bancária, tem sido importante para o resultado da Square. Apesar de a Square e o PayPal normalmente não lucrarem quando as pessoas mandam dinheiro umas para as outras, podem cobrar quando os clientes começam a usar o serviço para fazer pagamentos para lojas.

Essa estratégia se parece muito com a usada pela Square com seu leitor de cartão de crédito original, que começou com um serviço simples para um público desatendido e construiu um negócio a partir daí. Keith Rabois, que foi diretor de operações da Square até 2013, diz que o aplicativo Cash reflete a habilidade de Dorsey no sentido de fazer produtos enganosamente simples que respondem a necessidades complicadas. Embora a receita do Cash seja pequena se comparada ao dinheiro que a Square ganha com os negócios, Rabois afirma que “pode ser a coisa mais importante com que a Square está trabalhando”.

Hoje em dia, uma dos maiores preocupações dos analistas sobre a Square é o tempo que Dorsey gasta com o Twitter, com todos os seus problemas. Durante uma palestra no Museu da História do Computador no Vale do Silício em agosto, Dorsey disse que pensou que havia provado que não precisava escolher entre as empresas. “As duas possuem necessidades diversas e estão em fases diferentes. Focar em uma não significa que você precisa abandonar completamente a outra”, afirmou.

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