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| Foto: Paul J. Richards/AFP

Quando a fabricante alemã de automóveis Volkswagen reconheceu no ano passado que fraudou os resultados de testes de emissões de poluentes, a companhia concordou em pagar mais US$ 25 bilhões para encerrar os processos sobre o escândalo conhecido como “dieselgate”. Mas a disposição da empresa em colocar em segundo plano as questões éticas em troca de aumentar os seus lucros ainda vem à tona. Três fabricantes de automóveis alemãs, incluindo a Volkswagen, teriam encomendado ou apoiado um estudo em 2014 que fez com que pessoas e macacos inalassem gases tóxicos emitidos por motores a diesel a fim de determinar os efeitos das substâncias sobre o sistema respiratório e a circulação sanguínea.

O estudo teria sido feito pelo Grupo Europeu de Pesquisa sobre Meio Ambiente e Saúde no Setor de Transportes (EUGT, na sigla em alemão) e encomendado ou, pelo menos, apoiado pelas fabricantes alemãs Daimler, BMW e Volkswagen. Os resultados nunca foram publicados e o instituto já foi dissolvido. As três fabricantes envolvidas no caso afirmaram durante o fim de semana, quando o caso veio à tona a partir de denúncias da imprensa alemã e americana, que se distanciaram dos experimentos e que seus veículos não foram utilizados nos testes.

“Estamos chocados com a extensão e aplicação dos estudos ... Condenamos as experiências nos termos mais fortes”, diz nota da Daimler. A afirmação, divulgada em um momento em que apenas experiências com macacos, mas não humanos, foram trazidas à tona, acusava os pesquisadores do EUGT de terem violado as regras de ética e os valores da empresa, embora uma comissão de ética da fabricante tivesse aprovado o estudo. Daimler e BMW disseram que não tinham conhecimento do estudo liderado pela Volkswagen. Enquanto isso, a Volkswagen culpou os “erros e julgamentos errados dos indivíduos”.

Como os estudos eram feitos

Em uma das experiências, os macacos foram forçados a inalar os gases emitidos pelo escape de um veículo modelo Volkswagen Beetle e por uma caminhote antiga durante várias horas, na tentativa de provar que o Beetle está dentro dos padrões de emissão limpa. Os experimentos com macacos foram relatados pela primeira vez pelo jornal The New York Times na semana passada e foram narrados como uma reconstituição da nova série da Netflix chamada “Dirty Money”.

Os planos para realizar também as experiências com seres humanos foram inicialmente descartados. Mas, depois, ficou sabendo que os testes com humanos estavam acontecendo em um outro estudo sobre os efeitos de emissões de gases tóxicos.

Os jornais alemãs de Sueddeutsche Zeitung e Stuttgarter Zeitung publicaram nesta segunda-feira (29) que pessoas saudáveis foram convidadas a inalar o dióxido de nitrogênio (NO2), um gás que é emitido, principalmente, através dos carros. De acordo com a Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês), a inalação do gás pode ter graves consequências na saúde de um indivíduo, inclusive a curto prazo.

“Respirar ar com alta concentração de NO2 pode irritar as vias aéreas no sistema respiratório humano. Tais exposições em períodos curtos podem agravar doenças respiratórias, particularmente asma, levando a sintomas respiratórios (como tosse ou dificuldade em respirar), internações hospitalares e visitas a salas de emergência “, escreve a EPA em seu site.

As experiências com humanos, ao que indicam os jornais alemães, foram conduzias entre 2012 e 2015 e não houve relatos de lesões causadas por elas. Um pesquisador envolvido no estudo reconheceu a existência dos experimentos na segunda-feira (29), mas advertiu que os níveis de dióxido de nitrogênio inalados pelos humanos se assemelhavam aos encontrados em espaços de trabalho normais. Ele acrescentou que os três fabricantes de automóveis estavam conscientes dos experimentos em humanos, mas não tinham nenhuma palavra sobre eles. Ele também diz que as montadoras foram desligadas dos testes de emissões.

Mas o instituto de pesquisa responsáveis pelos testes, o EUGT, foi fundado pelas montadoras Daimler, BMW, Volkswagen e pela fabricante de componentes Bosch, o que levanta a hipótese de que o experimento com seres humanos foi sim apoiado pelas três maiores fabricantes de automóveis da Alemanha.

Volkwagen já esteve envolvida em outro escândalo

O dióxido de nitrogênio foi o gás que esteve no centro do escândalo de fraude nos testes de emissões da Volkwagen, que levou o Departamento de Justiça (DOJ) americano a acusar, no ano passado, a empresa de conspirar para enganar o governo e violar os regulamentos ambientais. De acordo com o DOJ, a Volkswagen instalou dispositivos em seus veículos de motor diesel que escondiam a quantidade de dióxido de nitrogênio emitido.

Os dispositivos e softwares instalados em veículos a diesel permitiram que a Volkwagen burlasse os reguladores dos Estados Unidos por anos. No geral,11 milhões de veículos em todo o mundo e mais de 500 mil nos Estados Unidos foram afetados.

No ano passado, os procuradores federais dos EUA acusaram seis executivos da Volkswagen de ligação direta com o escândalo de emissões. Apenas um executivo acabou sendo condenado a sete anos de prisão. Os outros escaparam da condenação. A prisão foi, na época, um acontecimento raro entre as grandes empresas, cujos executivos quase nunca acabam presos.

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