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Masayoshi Son, em um evento em Tóquio. | Akio Kon/
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Masayoshi Son, em um evento em Tóquio.| Foto: Akio Kon/ Bloomberg

No início de 2017, Cheng Wei, fundador e CEO da gigante japonesa Didi Chuxing, empresa que atua no mesmo segmento da Uber, tentou resistir ao dinheiro do lendário investidor Masayoshi Son.

Cheng disse ao chefe do SoftBank Group que ele não precisava do dinheiro porque sua empresa já havia levantado US$ 10 bilhões, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto. Tudo bem, Son disse, sugerindo então que ele poderia direcionar seu apoio para um dos rivais da Didi. Cheng cedeu e aceitou o investimento: US$ 5 bilhões na maior rodada de captação de fundos para uma empresa de tecnologia da história.

Son fez uma manobra similar em novembro, alertando publicamente a Uber de que se não conseguisse o acordo que queria, seu apoio iria para a arquirrival Lyft. A Uber também aceitou o dinheiro em um investimento de US$ 9 bilhões revelado na última semana do ano.

Masayoshi Son tem sido uma força avassaladora no mundo da tecnologia ao longo do ano passado. Enquanto ele reunia uma lista de grandes apoiadores — o príncipe herdeiro da Arábia Saudita e Tim Cook da Apple, entre eles — para o fundo Vision Fund de US$ 100 bilhões do SoftBank, Son tomou participações em dezenas de negócios de uma miríade vertiginosa de ramos de atividade: apps de caronas, desenvolvimento de chips, escritórios compartilhados, construção de satélites, fabricação de robôs, até o cultivo de hortaliças em ambientes fechados.

O modo idiossincrático de fazer negócios de Son tem deixar admiradores e detratores igualmente perplexos há anos. E o último frenesi não foi uma exceção. Acordo após acordo, segundo pessoas envolvidas, Son pressiona por encontros pessoais com fundadores, encoraja-os a pegar mais dinheiro do que pediram e transforma seu talão de cheques em uma arma. Em sua trajetória, ele chocou os adversários com sua crescente influência e mudou o jogo dos investimentos em startups — para melhor ou pior.

“De fato, não há um precedente para isso", diz Steven Kaplan, professor da Booth School of Business da Universidade da Chicago, que cofundou seu programa de empreendedorismo. "O júri ainda não sabe se vai funcionar".

Um dos robôs da Boston Dyamics, empresa que o SoftBank comprou do Google em junho de 2017.
Kiyoshi Ota/ Bloomberg

A estratégia de investimento de Son desafia categorizações fáceis. Ele se apresenta como um verdadeiro crente na revolução da informação, um proponente da chamada singularidade — a noção de que um dia os computadores se misturarão aos cérebros e corpos humanos. Mas Son tem céticos em abundância. Eles se perguntam apps de carona como o da Uber se encaixam, nessa visão, com sistemas de controle financeiro. Ou o que os satélites têm a ver com a agricultura em ambientes fechados.

Son, de 60 anos, fez centenas de investimentos desde que fundou o SoftBank em 1981. Durante a bolha ponto com, foi por um breve momento o homem mais rico do mundo. A maioria desses negócios fracassou e a reputação de Son deriva quase que exclusivamente de uma transação: um investimento no Alibaba Group Holding que começou com US$ 20 milhões em 2000.

A participação da SoftBank agora vale cerca de 14,5 trilhões de ienes (ou US$ 129 bilhões), o que faz dele um dos investimentos mais lucrativos de todos os tempos. Mas muitas pessoas pensam que isso foi por acaso. Son teve sorte uma vez. Ele pode repetir a jogada?

Son não quis ser entrevistado para esta matéria. Um porta-voz do SoftBank disse que seu histórico de sucesso vai além do Alibaba e inclui investimentos na Sprint (operadora móvel norte-americana), no Yahoo e na Supercell, desenvolvedora de jogos como o mega sucesso Clash Royale.

A abordagem de Son

A última série de negócios começou em setembro de 2016. Mohammed bin Salman, vice-príncipe da Arábia Saudita na época, voou para Tóquio quando seu país procurava maneiras de diversificar para além do petróleo. Ele se encontrou com Son, que lançou a ideia de criar o maior fundo de investimentos da história para financiar startups de tecnologia. Em menos de uma hora, bin Salman concordou em se tornar o investidor fundamental. "Quarenta e cinco minutos, US$ 45 bilhões", disse Son no The David Rubenstein Show, em setembro. "Um bilhão de dólares por minuto".

Son não esperou que o dinheiro entrasse para começar a fechar negócios. Ele fez cerca de 100 investimentos no ano passado com um valor total de US$ 36 bilhões, de acordo com a empresa de pesquisa Preqin. Isso é mais, em dólares, do que os dois principais pesos pesados ​​do Vale do Silício, a Sequoia Capital e o Silver Lake, combinados.

Mais surpreendente, dados os números, é que o SoftBank é em grande parte um show de um homem só quando se trata de negócios, apesar de suas filas de banqueiros do Deutsche Bank, Goldman Sachs e Morgan Stanley. Os tenentes lançam ideias a Son, mas ele toma as decisões finais — e ele tem muitas ideias próprias. Son é o único dos chamados homens-chave do Vision Fund, enquanto a maioria dos fundos de investimento tem várias pessoas com a influente designação. (Parceiros limitados têm a opção de se retirar de um fundo se algum "homem-chave" sair.)

"É 100% Masa", diz um CEO que concordou em vender a Son uma participação em sua empresa. “Ok, é 99,9% Masa".

Son normalmente traz seus banqueiros quando há uma estrutura de negócios complexa, como no acordo da Uber. Nesse caso, o SoftBank comprou a maior parte de suas ações através de uma oferta pública com aspectos jurídicos complicados por causa de uma desagradável disputa no conselho e de muitos investidores envolvidos.

O porta-voz do SoftBank disse que as decisões são "feitas pela organização após a devida diligência e processo".

Son tem uma abordagem excepcionalmente pessoal. Ele muitas vezes convida os fundadores para voarem até Tóquio, a fim de falar cara a cara, em inglês. Ele geralmente começará com uma reunião formal em uma de suas salas de conferência no 26º andar do SoftBank. Então, Son, seu convidado e equipe vão para a sala de jantar privada no mesmo andar, de acordo com pessoas que participaram das reuniões. Os visitantes podem vagar em seu jardim ou relaxar em tatame tradicionais. O chef pessoal de Son prepara especialidades japonesas. TVs enormes geralmente exibem jogos do time de baseball SoftBank Hawks. Há pouco de conversa fiada.

"Ele faz muitas perguntas", diz Greg Wyler, CEO do provedor de satélites OneWeb, que recebeu um investimento do SoftBank de US$ 1 bilhão em dezembro de 2016. "Se você gosta de pensar muito e muito rápido e você gosta de pensar na arte do possível, é uma experiência maravilhosamente motivadora".

A equipe de Son faz a devida diligência antes de se encontrar com os fundadores de startups. Então, ele tem uma boa ideia se quer investir antes da reunião começar. Suas perguntas geralmente se concentram em estimular os fundadores a pensar de maneira mais ampla sobre as oportunidades.

Eugene Izhikevich foi convidado para Tóquio em maio. Um neurocientista russo proeminente que mora em San Diego, ele dirige uma startup que constrói cérebros para robôs. Izhikevich lançou a Son o pedido por um investimento de "dezenas de milhões" para que sua empresa pudesse desenvolver robôs que encontrariam uso generalizado em uma década ou duas. "Ele me interrompeu no meio da minha apresentação e disse: 'Eu entendi'", diz Izhikevich. "Quanto você precisa para alcançar sua visão?"

O russo percebeu que Son queria lhe dar mais dinheiro do que pedia — com a condição de que Izhikevich acelerasse seu trabalho. Son não queria esperar 10 ou 20 anos. Ele queria uma gama completa de robôs em três a cinco anos. "Robôs em todos os lugares, essa é a visão que compartilhamos", diz Izhikevich. "O que me deixa louco é o quão lentas são as coisas. Em Masa, encontrei um igual".

Em julho, o SoftBank anunciou um investimento de US$ 114 milhões na Brain Corp de Izhikevich. O russo aprecia o dinheiro, mas admite que agora sente a pressão de atingir as expectativas de Son.

Na maior parte do tempo, Son não se envolve diretamente nos negócios após assinar um cheque, embora ele mantenha contato com os fundadores por telefone e e-mail. Ele tem assento nos conselhos de um punhado de empresas, incluindo Sprint, Alibaba e ARM Holdings, a fabricante de chips que adquiriu em 2016 por US$ 32 bilhões no maior negócio de sua carreira. Ele se envolveu profundamente nas operações da Sprint enquanto essa empresa passava por dificuldade.

Enquanto alguns questionam a sabedoria de dar aos empresários mais dinheiro do que estão procurando, há outra maneira de olhar para o Blitzkrieg de 2017 de Son. Ele deu ao SoftBank grandes fatias em mais de uma dúzia das startups mais proeminentes do mundo, incluindo as duas mais valiosas (Uber e Didi). No processo, Son mostrou que pode ajudar os empreendedores a perseguirem sonhos ambiciosos e caros com um único cheque. "Para todos os fundadores com quem eu trabalho, ele é o primeiro nome em suas listas", diz Mark Tluszcz, que cofundou a empresa de risco Mangrove Capital Partners.

Céticos

Son enfrentou céticos por toda a sua vida. Ele cresceu na ilha de Kyushu, no sul do Japão, intimidado quando criança por sua ascendência coreana. Seu pai mais do que compensou o abuso, idolatrando seu filho e louvando-o como a um gênio por sua perspicácia de negócios. Son deixou o Japão aos 16 anos para estudar nos Estados Unidos e lançou sua carreira como empresário na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Ele trouxe máquinas do jogo Space Invaders do Japão para os EUA e inventou um tradutor eletrônico que vendeu por cerca de US$ 1 milhão.

Son gosta de falar sobre como ele provou que os céticos estavam errados depois de retornar ao Japão para construir seu império. Ele fez investimentos incipientes no Yahoo e Yahoo Japão, bem como no Alibaba. Ele assumiu a operação sem fio japonesa da Vodafone quando todos achavam que o negócio não tinha mais salvação e, ao persuadir Steve Jobs a lhe dar direitos exclusivos sobre o primeiro iPhone no Japão, a transformou em um concorrente feroz.

Fachada de uma loja do SoftBank em Osaka, no Japão.
Wikimedia Commons

Ele também tropeçou muito. Durante a explosão ponto com, na virada do milênio, Son foi um dos investidores mais empolgados — apoiando mais de 800 startups para criar o que ele chamou de "netbatsu", o equivalente na era digital dos conglomerados japoneses zaibatsu. Mas com a quebra, quase todas essas empresas faliram. Son teve a distinção de perder mais dinheiro do que qualquer outra pessoa — US$ 70 bilhões.

Son não usa o mesmo termo nos dias de hoje, mas o que ele está montando se assemelha ao seu antigo netbatsu. Ele descreve as pessoas nas startups que ele está apoiando como "companheiros" e como elas fazem parte do SoftBank Group, que é mais amplo. Ele fala sobre as oportunidades para que as empresas apoiadas pelo SoftBank colaborem — mesmo quando tudo o que elas têm em comum é o dinheiro dele.

Chris Lane, um analista da Sanford Bernstein, diz que cerca de oito em cada 10 dos investidores com quem ele fala são céticos sobre Son. Eles o veem como um sólido operador de telecomunicações que está assumindo riscos enormes com seus investimentos e não demonstrou nenhuma habilidade especial para investir em tecnologia. Lane vê evidências claras dessa descrença: as ações do SoftBank no Alibaba e outros ativos valem mais de 19 trilhões de ienes depois de subtrair toda a sua dívida, mas o valor de mercado do SoftBank é de apenas 9,8 trilhões de ienes. É como se o seu vizinho tivesse uma mala recheada com US$ 1 milhão em dinheiro, mas você só pagará US$ 500 mil por ela porque acha que ele vai perder o restante no caminho para sua casa. Os críticos não só não acreditam que Son seja capaz de encontrar o próximo Alibaba; eles estão convencidos de que ele vai desperdiçar o que já tem.

"Se você pensa nisso como uma empresa de telecomunicações que faz investimentos não relacionados e provavelmente perderá dinheiro, então talvez o desconto esteja certo", diz Lane. "Se você acha que esta é uma empresa sofisticada de investimentos em tecnologia com um histórico sólido, então esta é uma oportunidade inacreditável".

Lane iniciou a cobertura do SoftBank em outubro com uma classificação de compra porque ele é um crente — ele vê Son como o Warren Buffett da indústria de tecnologia. Mas, desde então, o desconto dos ativos da Son para o seu valor de mercado aumentou de 41% para quase 50%.

Son tem falado sobre essa diferença regularmente em conferências com investidores, parecendo ora frustrado, ora exaltado. Em maio, ele comparou o SoftBank com a gansa que põe ovos de ouro, argumentando que sua empresa não recebe crédito por seus ovos muito menos a gansa em si. "A gansa tem mais valor do que os ovos de ouro. Não sei como você não pensa isso", disse ele, acrescentando em seguida que "se você me perguntar, é melhor ser subvalorizado porque isso deixa espaço para crescer".

Uber

Talvez nenhum investimento de Son seja mais importante para sua reputação do que o da Uber. O chefe do SoftBank está apostando fortemente no CEO Dara Khosrowshahi, que se comprometeu a reparar uma cultura tóxica, superar as pressões regulatórias e bater de frente com crescente concorrência antes de liderar a Uber para uma abertura de capital (IPO) bem sucedida. "Este é um teste crítico para o SoftBank e se eles podem implantar grandes quantidades de dinheiro em investimentos em fase tardia", diz Lane. "O mercado julgará [Son] pelo IPO da Uber".

Son mantém uma posição potencialmente de comando. O SoftBank tem participações nas maiores startups de corridas compartilhadas nos EUA, China, Índia, Brasil e sudeste asiático. Quatro das startups apoiadas pelo SoftBank competem entre si, inclusive em mercados-chave como a Índia e a Indonésia. Assim, Son pode encorajar os rivais a fazerem as pazes, mesclando operações em certos países para economizar bilhões em subsídios para motoristas e passageiros.

Por exemplo, a Grab, maior serviço de corridas do sudeste asiático, pode adquirir grande parte da operação de Uber na região, de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto. A Didi também poderia adquirir a Grab para acelerar sua expansão além da China.

Mas há um limite para o que Son pode fazer. Ele não possui participações de controle em nenhuma das empresas, incluindo Uber e Grab. Então ele não pode forçá-las a acordos se a gerência ou outros investidores resistirem, mas ele pode ajudá-los a ver seus próprios interesses econômicos. "O SoftBank fará o seu melhor para eliminar a concorrência insalubre", diz Lane, da Bernstein.

No longo prazo, Son terá que fazer um trabalho melhor articulando como seus negócios se encaixam. Na reunião anual de acionistas da companhia em junho, ele fechou com um vídeo estranho que a empresa usa há anos para explicar sua visão do futuro da tecnologia. Ele começa com um homem loiro que atravessa ruínas de pedra. "A tristeza é inerente à condição humana", diz ele, olhando para a câmera. "Desde o início dos tempos, os humanos procuraram superar a tristeza". O vídeo continua com a explicação de como a tecnologia conectará pessoas em lados opostos do mundo e lhes permitirá compartilhar pensamentos e ideias. Ele fecha com o homem percorrendo um campo de grama alta. "Juntos, abriremos as portas para um novo século de felicidade e alegria", diz ele.

Mesmo quando seus aliados a descrevem, a visão de Son parece de um otimismo verdejante sobre um futuro tecnológico que foi enunciado por muitos líderes da indústria: um trilhão de dispositivos conectados, gerando dados que serão analisados ​​por inteligência artificial para supostamente tornar o mundo um lugar melhor.

Em uma conferência no SoftBank, em julho, Son tomou o tempo para responder a críticas que dizem que o Alibaba é seu único sucesso. Ele mostrou um slide citando seus outros acordos bem sucedidos e outro mostrando seus investimentos retornaram 44% anualmente, incluindo o Alibaba — e 42% sem ele.

"Você pode pensar, 'você teve sorte por ter acertado com o Alibaba'", disse ele. "Isso é verdade. Sou realmente muito grato a Jack Ma [fundador e CEO do Alibaba]. Não foi apenas um golpe de sorte. Talvez se você continua tendo golpes de sorte, então é a sua capacidade. Talvez eu seja esperto, afinal!”

Ou talvez muito poderoso para ser ignorado.

Anthony Tan, que cofundou o serviço de corridas Grab, lembra de quando conheceu Son, há alguns anos, época em que o bilionário japonês estava pensando em investir em sua startup. Enquanto os dois conversavam, Son mencionou seu apoio inicial a Ma, então um professor de escola desconhecido que agora é o homem mais rico da China. "Anos atrás, Jack Ma sentou-se lá", Tan recorda Son lhe dizendo. "Anthony-san, você fica com meu dinheiro. É bom para você. É bom para mim. Se você não ficar com meu dinheiro, não é não será tão bom para você".

Como tantos outros antes e depois, Tan pegou o dinheiro de Son.

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