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Angelica Moreno: empreendedora recruta artistas para criar peças que mostram a cultura local | Crédito/Foto: Angelica Moreno/NYT
Angelica Moreno: empreendedora recruta artistas para criar peças que mostram a cultura local| Foto: Crédito/Foto: Angelica Moreno/NYT

Empreendedora dentro da fábrica

Mesmo usando jeans de corte perfeito, cabelos com luzes artísticas e sapatos de salto da mais alta qualidade, Angelica Moreno insiste que não deixou o sucesso distanciá-la dos meios de produção. De fato, enquanto acompanhava um visitante pelo processo da Talavera, do preparo da argila ao disco de moldar, limpando, tirando o pó, polindo e pintando, ela brincava despreocupadamente com seus funcionários.

Quando chegou ao showroom com suas peças favoritas, Moreno já estava envolvida demais para simplesmente apontar. A cerâmica de Talavera é feita de frágil louça esmaltada, mas ela agarrava tudo – um prato, um vaso, uma jarra de vinho – com firmeza, apertando e girando, como um pedreiro batendo numa parede para confirmar sua solidez. "Sempre amei trabalhar com as mãos", explicou ela. "É por isso que estou aqui."

Ela aprendeu a Talavera nos finais de semana. Quando começou a trabalhar por conta própria, Moreno acordava antes do nascer do sol – e embora os empreendedores sejam relativamente incomuns no México, onde os monopólios dão as cartas e a corrupção envenena a iniciativa, ela não desistiu. A arte e o empreendedorismo, segundo ela, ofereceram a chance de ser notada.

No estúdio de cerâmica de Angelica Moreno, pratos quebrados em cores vivas formam uma lágrima abaixo de uma janela. Cacos de louça – pequenas meias-luas e sorrisos – também decoram escadarias e forram uma parede de azulejos, com uma janela em formato de ameba remetendo a Gaudí.

"Por que jogá-los fora?" questionou Angelica, referindo-se aos cacos e pedaços. "Para chegar onde estou, quebrei muitas peças de cerâmica. Guardá-los é uma forma de humildade". "Além disso", acrescentou ela, observando sua oficina, que cresceu muito desde seu início em 1990, "era mais barato do que qualquer outra coisa".

Pragmatismo

Para Angelica, empreendedora afiada e elegante que cresceu pobre na cidade de Puebla, pragmatismo e beleza são uma obsessão unificada. Ela foi celebrada, no México e no mundo, como a primeira a comercializar amplamente uma forma da cerâmica tradicional desta região, aplicando um design contemporâneo de ponta.

Seu gosto pessoal é pela elegância refinada: padrões de listras e círculos, e coleções de cerâmica com um único motivo repetido. Apenas isso faz sua empresa, a Talavera de la Reyna, destacar-se dos outros estúdios de Talavera – que geralmente produzem peças com as mesmas flores e ornamentos que definem o artesanato desde o século XVI.

Mas Moreno também é famosa por ter reconhecido precocemente que velhas tradições, como a produção de cerâmica, precisavam de novos colaboradores para permanecerem relevantes. Assim, em meados da década de 1990, enquanto a arte latino-americana ganhava reconhecimento, ela começou a recrutar pintores, escultores e designers gráficos para aplicar suas ideias em vasos, tigelas ou o que pudesse ser criado com a argila local.

Inovação

O resultado é a inovação num mundo quase sempre frágil e previsível. A primeira exposição de arte da Talavera de la Reyna – em 1997 no Museu Amparo, em Puebla – mostrou um país que apoia cautelosamente o conceito de reconciliar o antigo e o moderno. Desde aquela primeira exposição, sua empresa cresceu rapidamente, de dois para 32 funcionários.

Hoje, para os amantes da cerâmica, ela é a embaixadora oficial de Talavera. Mais de 50 artistas contribuíram com desenhos ou moldaram suas peças sob supervisão dela, e seu trabalho é constantemente solicitado. Em 2006, o governo mexicano incluiu 60 peças da Talavera de la Reyna numa exposição na China, parte de um intercâmbio cultural. Seguiram-se mostras em Paris, Barcelona e Madri (a Americas Society, em Nova York, expôs obras da empresa em 1998).

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