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| Foto: Paulo Whitaker/Reuters

Nove meses depois de dar entrada na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a Azul Linhas Aéreas sai do papel. Fruto de um investimento de US$ 200 milhões, a quarta empresa aérea de David Neeleman, americano nascido no Brasil, faz sua estréia no mercado brasileiro. O primeiro vôo decola ao meio-dia do aeroporto de Viracopos, em Campinas, rumo a Salvador. No Paraná, a companhia só começará a operar em 14 de janeiro, com a rota Curitiba-Campinas. Apesar do passaporte brasileiro, ele ainda se espanta com algumas particularidades do país. "As companhias americanas não ganham tanto dinheiro quanto se ganha no Brasil", diz ele. "E é por isso que estou aqui." Famoso por sua síndrome de déficit de atenção, David parece estar sempre com pressa. Como ainda não conseguiu convencer a mulher ou um dos nove filhos a se mudar de Connecticut para Alphaville, em São Paulo, David se divide. Fica no Brasil de terça a quinta-feira.

Em 2008, o setor aéreo perdeu US$ 5 bilhões e 31 empresas fecharam as portas. A Azul é uma das poucas que estão nascendo...

Não somente nascemos, mas nascemos com mais dinheiro que qualquer outra empresa na história da aviação.

Mas é um bom momento para iniciar uma empresa, com toda a crise global?

O Brasil é bem diferente, o mercado aqui não está desenvolvido. Acreditamos que esse mercado tem de ser três ou quatro vezes maior. Talvez agora com a crise ele será somente duas vezes maior. Mas estamos falando de Campinas, por exemplo, uma região com um PIB maior que o do Chile e apenas 19 vôos por dia.

A diretora da Anac, Solange Vieira, falou na semana passada em um crescimento de 3% a 5%. Para um setor que vinha crescendo acima de 10% ao ano...

Eu sei uma coisa com certeza: entre Campinas e Salvador, o mercado vai crescer 400% em comparação com o que se tem hoje. Vai ter muito mais gente viajando. Por quê? Se você mora em Campinas e quer ir a Salvador, tem de ir para Guarulhos, de carro ou de avião, para fazer conexão. Não me importo com o que a Solange fala sobre o Brasil inteiro, só me importo com o que está acontecendo em nossas rotas. Se estivéssemos falando de mercados desenvolvidos, tudo bem. Eu talvez tivesse de roubar passageiros, baixar tarifas.

Qual a diferença entre montar uma companhia aqui e nos Estados Unidos, em termos de burocracia, custo e concorrência?

Aqui tem custos mais altos, como combustível, por causa do imposto. Mas tem outras coisas. As empresas brasileiras ganham muito mais dinheiro que as dos EUA. Veja o preço das ligações. Eu queria colocar as pessoas para trabalhar de casa no nosso call center, mas não podemos porque os custos das ligações são maiores que o salário. É uma pena. As empresas de telefonia aqui ganham muito mais do que lá. A razão de estarmos aqui é que as tarifas de aviação são as mais altas também.

E o comportamento dos concorrentes? A TAM e a Gol fizeram uma representação formal na Anac em que dizem que a agência está privilegiando a Azul.

Eles estão dizendo que somos privilegiados? Esses são os caras que têm 95% do mercado e vários slots em Congonhas. Nós estamos aqui porque acreditamos que é preciso uma terceira empresa no Brasil, maior que OceanAir e Trip. O problema é que Gol e TAM têm a mesma malha. E eu concordo com eles, não precisamos de mais um como eles.

E a burocracia?

Eu acho que as autoridades aeronáuticas estão muito cautelosas por causa do caos aéreo. Para liberar um horário de vôo, precisa da assinatura de dez pessoas de diferentes órgãos. Se existe a chance de um vôo novo atrasar uma vez em 30, eles não aprovam. O governo está respondendo à opinião pública.

O senhor acredita que as restrições em Congonhas, com a redução do número de vôos, foi uma resposta para a opinião pública?

Sim, o acidente foi terrível e, com o trauma, eles tinham de fazer alguma coisa. O aeroporto de La Guardia, em Nova Iorque, tem duas pistas cruzadas e eles fazem 75 operações por hora. Aqui em Congonhas, com duas pistas paralelas, fazemos 34. Já foi 54 e baixou por causa do acidente, que não tinha nada a ver com isso. É uma questão de tempo para liberar Congonhas.

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