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Curitiba – Na semana passada o preço do barril do petróleo passou de US$ 70. A cotação recorde foi atingida em um momento em que o mercado vê que há sede por combustíveis e em que a oferta está apertada. Qualquer fato que interfira na produção – como o furacão Katrina, que devastou uma das principais áreas de extração de óleo nos Estados Unidos – é motivo para especulação e disparada dos valores nas negociações da commodity. Para alguns analistas, os sinais são claros: acabou a fase do petróleo barato e o mundo verá o preço do barril chegar a US$ 100 em momentos de tensão.

A atual onda de elevação na cotação do petróleo começou em 2003 quando a economia americana superou a recessão que veio na cola dos atentados de 11 de setembro de 2001. Um dos efeitos da retomada é o maior gasto de combustíveis. De 2001 até o início de 2005, houve um aumento de 9% no consumo de petróleo no mundo. O preço médio do barril foi de US$ 25 em 2002 e encostou em US$ 29 em 2003. No ano passado chegou a US$ 40, e no primeiro semestre deste ano a média passa dos US$ 50.

O crescimento econômico é um fator que, isolado, já pressionaria o preço. Mas ele vem acompanhado de outros: as companhias petrolíferas têm de buscar o óleo em regiões cada vez mais distantes, o que eleva custos, e a descoberta de reservas entrou em um ritmo cansado. É uma corrida com cartas marcadas, em que a capacidade humana de encontrar petróleo não tem chances de vencer a disputa com o consumo.

O cenário atual serve como um lembrete de que as economias terão de aprender a se virar sem o petróleo, mas não é ainda o fim de uma era. Analistas do setor são unânimes em indicar a especulação e o risco-Oriente Médio como os responsáveis por boa parte da alta dos últimos dois anos. Alex Agostini, economista-chefe da Global Invest, destaca que os juros nos países ricos, em especial nos Estados Unidos, ainda estão muito baixos. Eles fazem com que os investidores evitem títulos públicos desses países e busquem mercados mais rentáveis. Entre eles o do petróleo.

Na interpretação do especialista, o comportamento elétrico dos preços em bolsa é influenciado pelas posições de fundos de investimentos que não têm muita relação com o consumo real do óleo. "Até o primeiro trimestre de 2006 os juros americanos devem subir a ponto de voltar a ser atraentes. A volatilidade nos mercados de commodities tende a cair", prevê.

Isso não significa que a elevação dos juros levará a uma queda no preço do petróleo. É preciso mais, pois a especulação só funciona quando há receio de falta do produto. Parte do medo seria combatido pelas próprias taxas do FED, banco central americano, que podem servir como um freio à expansão da economia mundial. Mas é cedo para dizer que a autoridade monetária dos EUA irá tão longe.

A outra fonte de medo é o risco-Oriente Médio. A região concentra cerca de dois terços das reservas mundiais do óleo e também alguns dos conflitos mais complicados do globo. O Iraque se tornou uma espécie de imã para ataques terroristas, muitos deles em estruturas petrolíferas. O Irã, outro importante produtor, está na lista das nações colocadas sob suspeita de apoiar o terrorismo pelo governo de George W. Bush. Fora isso, suas incursões na área nuclear causam arrepios em países ocidentais.

"Há quem avalie que a concentração do petróleo no Oriente Médio acrescente de US$ 10 a US$ 20 no preço do barril", conta o especialista no setor Giuseppe Bacoccoli, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. "Qualquer problema por lá levará a uma crise real de abastecimento", completa.

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