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Entrevista

O melhor jeito de o design trazer felicidade é funcionar

"Não gosto de fazer coisas repetitivas. Elas se tornam chatas e cansativas, e isso tira minha criatividade. Por exemplo, fiz muitos trabalhos para a indústria da música. Chegou o momento em que precisava mudar. Parei com esses trabalhos e passei a escolher outras áreas." |
"Não gosto de fazer coisas repetitivas. Elas se tornam chatas e cansativas, e isso tira minha criatividade. Por exemplo, fiz muitos trabalhos para a indústria da música. Chegou o momento em que precisava mudar. Parei com esses trabalhos e passei a escolher outras áreas." (Foto: )

A profissão de designer está em alta. Foi-se o tempo em que um jovem com talento para a comunicação visual tinha somente cursos de Artes como opção – o leque está muito mais amplo. A carreira de designer abriga ilustradores e outras vertentes de arte e comunicação visuais. Dentro desse cenário, Curitiba é um reconhecido centro de inovação em design e comunicação visual, com dezenas de escritórios estabelecidos e muitos outros surgindo. O design se insere na publicidade e na mídia com força. Não é de admirar que a capital paranaense tenha sido, ao lado de São Paulo e Rio de Janeiro, uma das cidades escolhidas para receber um dos mais conhecidos designers do momento, Stefan Sagmeister.

Austríaco, vivendo em Nova York, Sagmeister veio ao Brasil pelo esforço da equipe da revista curitibana Abc Design, que obteve uma série de apoios e patrocínios para viabilizar o tour do designer. Em São Paulo, na última segunda-feira, Sagmeister ministrou um workshop. Quarta-feira, em Curitiba, proferiu palestra na Universidade Positivo, sobre como o design traz felicidade para as pessoas.

Ele tem, como marca registrada – além do estilo próprio de comunicação visual –, o mote de usar experiências pessoais para falar de trabalho. Por isso tem sido requisitado para palestras pelo mundo. No momento, prepara um documentário, que também terá caráter pessoal.

Nascido em 1962, Sagmeister formou-se em artes em Viena. Em seguida, ganhou bolsa de estudos para a conceituada escola Pratt, em Nova York. Trabalhou dois anos no escritório da agência Leo Burnett, em Hong Kong. Ao retornar para os EUA, em 1993, abriu seu escritório de design, o Sagmeister Inc., em Nova York. Ele faz questão de manter a empresa pequena, com no máximo cinco pessoas trabalhando.

Sagmeister prega a necessidade de períodos sabáticos, para se desligar da rotina. O designer fala de sua jornada e afirma que a renovação constante na carreira é a chave para alcançar sucesso e felicidade. Stefan Sagmeister conversou com a reportagem da Gazeta do Povo pouco antes da palestra na universidade.

Você veio falar sobre design e felicidade. Ao mesmo tempo, seus trabalhos mais autorais não trazem sensação de paz nem tranquilidade – pelo contrário, são desafiadores e fazem o público pensar. Como se conciliam esses conceitos?

Quando você lança um desafio, ele leva ao questionamento e à aprendizagem. Aprender é um prazer. E prazer traz felicidade. Você sempre sai de um aprendizado melhor do que estava antes – evoluir é ser feliz.

Como o design pode trazer felicidade para qualquer pessoa?

Simples: o design tem de funcionar. Por exemplo, eu estava no avião de São Paulo para cá. Agora você me pergunta sobre design e felicidade, eu penso e digo: o avião foi desenhado para voar, e não para cair. Viajei, cheguei – isso é felicidade. Quando o design funciona, traz felicidade.

Em suas palestras, você fala sobre experiências pessoais. Como a felicidade acontece para você?

Não gosto de fazer coisas repetitivas. Elas se tornam chatas e cansativas, e isso tira minha criatividade. Por exemplo: fiz muitos trabalhos para a indústria da música. Chegou o momento em que precisava mudar. Parei com esses trabalhos e passei a escolher outras áreas. Assim renovo minha carreira e fico mais feliz.

Você diz que todos deveriam ter períodos sabáticos, como você tem feito. Pode falar sobre isso?

Fiz um planejamento e decidi que, a cada sete anos, tiraria um de período sabático. Acabo de voltar de um ano desses. É uma maneira incrível de aprender. Concluí que o que faço não é um apenas um emprego (job), e sim um talento, uma vocação (calling). Se eu não tivesse saído para períodos sabáticos, meu trabalho como designer poderia se tornar apenas um emprego para ganhar dinheiro.

Como foi esse último ano?

Fiquei em Bali, na Indonésia, e aprendi marcenaria. Também li bastante – tenho estudado sobre Psicologia Positiva – e comecei um documentário, que deve levar dois anos para ficar pronto.

Financeiramente, como você consegue ficar um ano sem trabalhar?

Planejo e guardo dinheiro! Além disso, meus clientes entenderam essa decisão. Da primeira vez que avisei que ficaria um ano sem trabalhar, pensei que os clientes iam sumir, me achar antiprofissional. Mas a reação foi positiva. Quando retornei, os clientes voltaram, novos trabalhos apareceram. Agora, decidi que, em vez de um ano a cada sete, tirarei três meses por ano.

São praticamente férias...

Não são férias! Não fico sentado na beira da praia tomando drinques... embora isso seja bom também! Nesses períodos eu tenho atividades, só que não são as tarefas de trabalho do dia a dia. Eu me programo, faço uma agenda, com horários e coisas para fazer.

Você fez muita coisa para músicos e bandas: Talking Heads, Lou Reed, Brian Eno e Rolling Stones. Pessoalmente, tem uma relação de amor com a música e alguma preferência?

Totalmente. Assim que abro o estúdio, coloco música. Gosto de tudo, mas, se tiver de escolher, é rock'n'roll. Coisas novas e mais antigas também. Posso ouvir Ar­­cade Fire e Stones no mesmo dia.

Você é professor. O que tem a dizer aos estudantes de design? Algum conselho para a carreira?

Não gosto de aprender por conselhos e acho que essa é uma forma chata de ensinar. Prefiro aprender com a experiência de outros. Espero que aprendam com a minha também.

Pode citar quais designers e artistas admira hoje? Digo artistas porque a linha que divide arte e design está cada vez mais tênue.

Certamente. Entre os artistas: Walter de Maria, James Turrell, Jenny Holzer e Fred Tomaselli. E, entre os designers, Tibor Kalmann e Storm Thorgenson.

Algum brasileiro?

Gosto muito de Vik Muniz. Estive ontem na Bienal de São Paulo e vi muita coisa de que gostei. Artistas brasileiros dos quais nunca tinha ouvido falar. Preciso conhecê-los melhor.

Pode falar mais sobre o documentário?

Será um filme sobre a minha própria felicidade. Entendi que, assim como posso treinar meu corpo para ficar mais forte e saudável, posso treinar meu cérebro para ser feliz. O próximo ano será dedicado a exercitar minha mente. O documentário vai se chamar The Happy Film. Pretendo filmar em vários lugares pelo mundo.

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